A agitação de Paulinho Silva, 44 anos, é perceptível enquanto ele se aproxima para conversar com o Pioneiro. Com passos curtos, mas rápidos, o músico caxiense chega ao local combinado— em frente ao palco principal, no Pavilhão 2 do parque da Festa da Uva. Enquanto larga o violão e uma bolsa repleta com uma produção musical de quase 30 anos de carreira, ele olha para cima e observa a estrutura. O palco, porém, não sediará nenhuma apresentação dele: Paulinho e outros artistas locais utilizarão durante o evento um palco secundário, mais longe dos holofotes, no Pavilhão 1.
— A maior dificuldade do músico é encontrar espaço para tocar. Se alguém estiver fazendo barulho com uma motosserra, ninguém reclama, mas se tiver alguém tocando, sim. Nem é considerado profissão. Até para teus parentes, enquanto tu não fizer sucesso, é um bobo — diz, com certa mágoa.
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Foi pensando em abrir espaço aos músicos que estão começando que Paulinho concebeu, há cerca de dois anos, o projeto SOS Música. A ideia é tentar agregar e fortalecer os artistas locais.
— Não cobramos nenhuma mensalidade. É um espaço de troca de ideias, em busca de apoio, espaço. O músico nunca foi organizado e, sozinhos, não vamos a lugar nenhum — afirma.
Com o projeto, ele conseguiu um acordo com a 25ª Região Tradicionalista para levar os músicos de Caxias do Sul até os festejos farroupilhas. Os artistas têm espaço para tocar — de graça — e podem comercializar ali seu material.
A parceria é parte de um plano, esclarece Paulinho:
— A nossa ideia é abrir as portas dos CTGs para apresentar os músicos. Hoje, os CTGs estão todos fechados. Temos de tentar trazer o jovem, fazer eventos. O jovem quer se divertir. Não pode fechar as portas. Nós e eles ganhamos com isso — defende.
Para o músico, a dificuldade do artista tradicionalista é ainda maior pela distância que muitos mantêm em relação às novas tecnologias.
— Sempre foi difícil, mas agora afunilou. Com as redes sociais, ou nos adequamos ou paramos. O pessoal não quer mais comprar CDs, e tradicionalista não está tão ligado ao sucesso relâmpago, ao número de visualizações — explica.
O desabafo de Paulinho segue por uma torrente de causas que dificultam a sobrevivência dos músicos locais, passando pela falta de apoio empresarial e um setor econômico musical estruturado, o "escanteamento" da música gaúcha para um nicho separado nas emissoras de rádio e até aspectos culturais próprios de Caxias do Sul, cidade focada no trabalho.
— Nenhum artista caxiense até hoje conseguiu um disco de ouro, enquanto Erechim, que é bem menor, tem três. Horizontina e Parobé têm um, cada — enumera.
Para tentar sobreviver da música, o próprio Paulinho teve de diversificar, aventurando-se por ritmos que vão do brega ao gospel.
— Eu amo a música gaúcha, componho música gaúcha, mas fiz vários estilos para poder trabalhar — relata.
Para cada problema, porém, Paulinho tem um novo projeto. Além do acordo costurado com a Semana Farroupilha, ele planeja para o próximo ano uma coletânea de artistas caxienses, envolvendo músicos na ativa e homenageando os mais antigos, além de manter contato permanente com a administração municipal.
— Temos de aproveitar tudo o que podemos. Eu quero que alguém faça sucesso, que a comunidade reconheça o seu artista, do seu bairro. Nós não vivemos da musica, mas vivemos para a música — reforça.
O esforço de Paulinho e dos artistas da SOS Música podem ser apreciados nesta terça (19), às 19h30min, no Palco 2 nos Pavilhões da Festa da Uva.
"A gente faz nosso próprio show"
Entre as tendas do Acampamento Farroupilha, em um rancho de madeira construído em menos de duas semanas é possível ouvir os acordes da gaita do motorista Marcos André Borges, 27. Para aproveitar os festejos nos Pavilhões, ele ergueu o Rancho do Marco Véio. A paixão pela gaita, ele diz, veio da família.
— Entre os irmãos do meu pai, não tem um que não seja gaiteiro — orgulha-se.
Mesmo dominando o instrumento — Borges chega a dar aulas de música ocasionalmente —, ele nunca considerou viver da arte:
— Quem ganha algo com isso é quem tem mais nome, senão tem que tocar quase de graça. É um hobby. Acho legal incentivar, para mostrar a tradição ao pessoal de fora, nada melhor que através da música.
Borges, porém, não vai acompanhar as apresentações nos Pavilhões.
— A gente vem para receber os amigos, então não sai. A gente faz o nosso próprio show.
Hoje nos Pavilhões
PROGRAMAÇÃO ARTÍSTICA E SOCIAL
8h30min às 11h - Trabalho cultural com escolas
14h às 17h - Trabalho cultural com escolas
:: Palco 1
20h30min - Espetáculo com Luísa Cavalheiro e Grupo Flor y Truco
22h - Espetáculo com Fábio Soares
23h - Baile com Grupo Manancial (Baile Aberto e Gratuito)
IV Bailongo Gaúcho e as Brincadeiras de Cotillon (CTG Imigrantes e Tradição, CTG Marco da Tradição, CTG Laço da Amizade e Entidades Tradicionalistas)
:: Palco 2
19h30min às 21h - Espetáculo com Artistas Locais a Cargo de Paulinho Silva e SOS Música
Serviço
Semana Farroupilha em Caxias do Sul
Onde: Pavilhões da Festa da Uva
Quando: de 14 a 20 de setembro
Ingresso: um quilo de alimento não perecível
Mais informações: site 25rt.com.br ou (54) 3536-0685