É difícil andar por ruas de Caxias do Sul e não encontrar animais abandonados. Mesmo que não exista uma estimativa de quantos cães e gatos estão nesta situação, o que se sabe é que a população de bichos em vulnerabilidade cresce cada dia mais: a Organização Mundial da Saúde (OMS) calcula que somente no Brasil existam mais de 30 milhões de animais vagando pelas ruas. Como alternativa para controlar o problema, a prefeitura realizava até o final do ano passado uma média de 700 castrações gratuitas por mês, conforme números divulgado pela gestão passada. Porém, em março, o serviço foi suspenso pelo prefeito Daniel Guerra (PRB), com a justificativa de reformulação do programa de esterilizações.
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Agora, cinco meses depois do cancelamento das cirurgias, a prefeitura lançou, na terça-feira, o edital de licitação para a contratação de uma nova empresa que prestará os serviços de castrações, além da microchipagem de cães e gatos. A documentação encaminhada à Central de Licitações (Cenlic) aponta mudanças que, na visão do Executivo, servirão para obter o controle populacional de forma rápida e efetiva. A ideia do novo programa, elaborado pelo Departamento de Proteção e Bem-Estar Animal da Secretaria Municipal do Meio Ambiente (Semma), é atender exclusivamente aos animais que pertencem às famílias de baixa renda, que precisarão estar vinculadas ao cadastro único ou a algum programa da Fundação de Assistência Social (FAS).
Na época em que houve a suspensão do serviço, um estudo feito pelo departamento chegou à conclusão de que os bairros não estavam sendo atendidos dentro do que cada comunidade necessitava. Por isso, a prefeitura pretende atuar em novas frentes, direcionadas para as áreas mais povoadas de animais, casos dos bairros Fátima, Reolon, São Caetano, Galópolis, Desvio Rizzo e Serrano.
Para as protetoras de animais, a mudança no cadastro preocupa, já que cães e gatos de rua, obviamente, não possuem tutores para representá-los.
– Então, animais que vivem abandonados nas ruas não serão castrados? As protetoras recolhem estes animais, abrigam eles em suas casas, ajudam a amenizar o problema da cidade e ainda precisam pagar as castrações? Nossa luta é completamente voluntária, é por amor aos bichos, e queremos apoio para que todos sejam atendidos – questiona Tatiana Furlan, protetora independente e médica.
De acordo com a diretora do Departamento de Proteção e Bem-Estar Animal, Marcelly Paes Felippi, haverá uma parceria com as protetoras interessadas em participar do programa.
– Os animais que estão soltos na rua são de responsabilidade do município. Portanto, quando formos fazer os levantamentos nos bairros, iremos identificar quais são as protetoras voluntárias daquela região e, a partir daí, vamos auxiliar na solicitação da castração. Lutamos todos pela mesma causa, que é proteger estes cães e gatos.
No entanto, a própria diretora afirma que não existe um bom relacionamento com todos os protetores de animais da cidade. Ela, inclusive, falou à reportagem que as mais de 30 manifestantes que protestaram em frente à prefeitura na manhã de terça-feira não são parceiras da administração. Esta situação pode dificultar o cadastro de cães e gatos que não possuem tutores.
Além do novo formato de requisição, exclusiva para animais de famílias de baixa renda, outras duas mudanças geram desconforto: o cancelamento de mais de 8 mil cadastros de cães e gatos que já aguardavam pela castração e a redução no número de procedimentos mensais. Isso porque, na gestão passada, qualquer cidadão podia solicitar o procedimento numa unidade básica de saúde (UBS), o que gerava o dobro de castrações estimadas para o novo programa, que devem ser de 340 por mês, já incluindo às microchipagens.
Serviço deve ser retomado até outubro
:: As empresas interessadas em concorrer ao serviço das castrações terão até 27 de agosto para reunir a documentação.
:: A empresa selecionada deve ser divulgada no início de setembro. Portanto, o serviço deve voltar a atender a população entre a segunda quinzena de setembro e a primeira de outubro.
:: Os animais castrados por meio do convênio serão identificados com a aplicação de microchips eletrônicos e registrados em banco de dados.
:: O contrato estipulado no novo edital terá duração de um ano.
:: O último contrato para prestação do serviço encerrou no dia 19 de março deste ano.
:: Conforme a prefeitura, o orçamento aprovado em 2016 para execução em 2017 não destinava verba para a continuidade dos atendimentos.
:: Agora, foram liberados R$ 2 milhões do Fundo Municipal do Meio Ambiente (Fumdi), que serão investidos na manutenção do Canil Municipal e na licitação que contempla às castrações.