Era começo da manhã desta segunda-feira quando moradores do Cidade Industrial, em Caxias do Sul, pularam cedo da cama: depois de anos de ansiedade, havia chegado o dia da mudança para os apartamentos populares do conjunto habitacional Rota Nova. O primeiro dia de transferência das 420 famílias que deixarão, até o final de setembro, áreas de ocupação às margens da Rota do Sol, foi marcado por uma mistura de sentimentos:
– Quase nem consegui dormir, passam muitas lembranças na minha cabeça agora. Cheguei aqui há 21 anos, meus filhos ainda usavam fraldas, já bate uma saudade da minha casinha. Só que tô feliz também, porque agora vamos viver num lugar certinho, sem preocupações – descreve a dona de casa Gladis Maria da Silva Farias, 57 anos.
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O processo de mudança iniciou por 40 moradias do Industrial, mas já na próxima semana deve chegar aos moradores do Santa Fé. A ordem das transferências, segundo representantes da Defesa Civil que acompanham as remoções, ocorre de forma voluntária. Ou seja, os próprios moradores se organizaram em grupos e definiram quais iriam se mudar primeiro. Conforme o setor de Reassentamentos Sociais da Universidade de Caxias do Sul (UCS), que desde 2014 trabalha na transição das famílias, também foram respeitados critérios de urgência, já que algumas pessoas viviam em situações de extrema vulnerabilidade.
– O maior perigo aqui era a rodovia, porque passam muitos caminhões e vários andam em alta velocidade. Teve dias que a casa tremia. Eu fico até emocionada de sair daqui, passamos por tanta coisa boa e ruim também, que a memória da gente não deixa esquecer. Foi bom, não posso dizer o contrário, mas a partir de agora vamos ter uma vida melhor – confia Cleci Fátima de Moura, 43, que acordou ainda na madrugada para terminar de arrumar as malas e os móveis da moradia onde viveu com o marido e os filhos por uma década.
Quem também levantou cedo foi o autônomo José Ramos Brito, 57. Ele e a esposa Maria das Grassas Mazzuco de Brito, 50, que moravam no bairro há 24 anos, foram os primeiros a carregar os móveis e outros objetos pessoais. Enquanto aguardavam um ônibus cedido pela prefeitura para irem até o novo loteamento, o casal ajudou na mudança dos vizinhos.
– Tô contente, pois vamos continuar morando perto dos nossos amigos. Já conheci o apartamento e todo o espaço que tem lá. Tomara que seja uma mudança positiva – confia Brito, que não desgrudava de Tigre, um cachorro que ele adotou há 14 anos e que também vai ir morar no novo endereço.
A maior parte dos contemplados com o programa Minha Casa, Minha Vida recebeu apoio da prefeitura para fazer a mudança. De acordo com Oneide Andreis, que juntamente com outros colegas da Secretaria Municipal da Habitação organizou as remoções, das famílias que foram transferidas ontem, 30 utilizaram caminhões do município. As outras 10 optaram por levar os móveis e outros objetos pessoais por conta própria. Toda a logística foi previamente combinada.
– Está sendo um processo bem tranquilo. Torcemos para que até o final tudo siga assim. Estamos aqui para ajudar e fazer com que essa transição dos moradores ocorra da melhor forma possível.
Ao todo, 140 servidores públicos, das secretarias da Habitação (SMH), Obras e Serviços Públicos (Smosp), Cultura (SMC), Meio Ambiente (Semma), Segurança Pública e Proteção Social (SMSPPS), através da Guarda Municipal (GM), e Trânsito, Transportes e Mobilidade (SMTTM), com a Fiscalização, participaram das remoções.
Para evitar novas invasões
:: As moradias são descaracterizadas assim que as famílias fazem a mudança. Segundo a secretaria da Habitação, funcionários da prefeitura fazem a remoção do telhado e colocam pedras para evitar que outras pessoas ocupem o local. Os moradores puderam escolher o que queriam fazer com o material: alguns optaram por vender ou doar a madeira que sustentava a casa e outros escolheram descartar o conteúdo. Assim que todas as famílias forem transferidas para o Rota Nova, a prefeitura fará a demolição e limpeza total da área.
Animais vão junto com os donos
:: Equipes da secretaria do Meio Ambiente acompanham todo o processo de remoção para evitar o abandono de cães e gatos durante a mudança das famílias. Os animais podem ser levados até o Rota Nova com o mesmo transporte disponibilizado para levar os móveis ou no ônibus, também oferecido pela prefeitura, para fazer o deslocamentos dos moradores. Na manhã desta segunda-feira, três animais foram deixados para trás. Como os bichos foram chipados, os donos já foram identificados: os tutores têm até o final da tarde para levá-los ao residencial. Caso contrário, serão indiciados no Ministério Público pela prefeitura.
:: Há mais de dois meses, todas as pessoas que irão morar no novo loteamento foram orientadas a, caso não tenham condições ou não queiram levar os animais, doá-los para outro tutor responsável. Moradores que não estão conseguindo doar são auxiliados pelo departamento. Até então, a maioria das pessoas está conseguindo fazer as doações por conta própria, geralmente para familiares que têm pátio ou chácara. Porém, há casos de moradores que não conseguiram doar os bichos e que, devido ao tamanho deles, também não terão condições de colocar dentro do apartamento. Nestes casos, as famílias devem solicitar ajuda da prefeitura para resolver a questão: em hipótese alguma os animais podem ser abandonados.