Com uma dezena de fotos e alguns vídeos que registraram a tempestade em São Francisco de Paula no começo da manhã deste domingo, meteorologistas e especialistas não se sentem à vontade para batizar o fenômeno de imediato, mas é certo que frente à destruição que provocou, o vento passou dos 100 km/h nas áreas mais atingidas.
Leia também:
Bombeiros de São Francisco de Paula garantem que não há desaparecidos
Com 500 desabrigados, São Francisco de Paula se mobiliza para reconstrução
Cenário de guerra em bairro de São Francisco de Paula
A estação meteorológica do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) em Canela registrou rajadas de 65km/h pouco antes de o temporal avançar sobre São Chico, por volta das 8h30min. As características dos ventos intensos e do volume de chuva indicam que o que ocorreu foi uma tempestade severa que poderia gerar uma microexplosão ou até mesmo um tornado.
– Só uma análise mais minuciosa, com imagens aéreas do local e mais dados é que podem nos dar condições de dizer alguma coisa com mais precisão. O resto é especulação – diz o professor do curso de Meteorologia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) Vagner Anabor.
Apesar de ter surpreendido com mais intensidade pelo menos cinco bairros da cidade serrana, esse tipo de tempestade não é algo incomum no Rio Grande do Sul. Anabor ressalta que as probabilidades apontam para que essas ocorrências sejam registradas em pelo menos 20 dias por ano no Estado, com chance de danos típicos de um tornado.
– Somos a área com maior incidência de tempestades severas na América do Sul e, se falarmos das Américas, só perdemos para o corredor de tornados dos Estados Unidos. Isso é comum e, ao longo do ano, vamos observar pelo menos mais de cinco eventos desse tipo – diz Anabor, que integra o Grupo de Modelagem Atmosférica da UFSM, que trabalha com modelos de previsão de tempo.
Fábio Luengo, meteorologista da Somar Meteorologia, que faz a previsão para o governo do Estado, direciona suas conclusões para uma tempestade forte e também reforça que somente mais dados seriam possível bater o martelo sobre o que ocorreu em São Francisco de Paula. Mas, ele entende que ventos de 90 Km/h já seriam suficientes para provocar os danos registrados em imagens e vídeos, como destelhamentos e quedas de árvores.
– Normalmente, o tornado arremessa árvores, destroços de casa e até mesmo carros para longe. Pelas imagens, as árvores apenas foram derrubadas. Nas imagens de radar costuma aparecer um "gancho" indicando o tornado, o que não consta. Microexplosão eu descartaria, porque é um sistema de ar que vai em direção ao solo muito forte, "achata" as coisas, e causa dano em forma de clareira, e não foi o que aconteceu – avalia.
Segundo o Inmet, o começo da semana deve ser de tempo firme na cidade da serra, o que deve facilitar o levantamento dos prejuízos causados pelo temporal.