Os moradores de São Francisco de Paula acordaram na manhã de domingo com uma forte chuva seguida de um vendaval que costeou a rodovia ERS-020 no sentido oeste/leste e destruiu dezenas de casas nos loteamentos São Miguel, Pedra Branca e Santa Isabel, o mais atingido. Também houve muito prejuízo no Distrito Industrial e no bairro Gaúcha.
O cenário de destruição deixou centenas de moradores sem ação. Logo após o vendaval, começaram os primeiros atendimentos no Hospital São Francisco de Paula. Sem energia elétrica, água e internet, a cidade está praticamente parada.
– Estamos ainda meio tontos – disse o presidente da Associação do hospital, Irio Guilloux, que estava preocupado com a quantidade de combustível que abastece o gerador do hospital. Pelos seus cálculos, o equipamento funcionaria até as 21h.
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A entidade atendeu neste domingo 70 vítimas do temporal. A contabilidade foi feita pela médica Clarissa Both Pinto, que assumiu o plantão do hospital às 8h da manhã e às 8h10min começou os atendimentos.
Até o fim da tarde de domingo, uma pessoa havia morrido e o corpo foi encaminhado ao Intituto Médico Legal (IML) de Taquara, quatro pessoas em estado mais grave haviam sido transferidas para o Hospital de Pronto Socorro de Canoas e duas permaneciam internadas em São Francisco. Todas as outras foram atendidas e liberadas, sendo que algumas permaneceram por algumas horas em observação.
Das quatro vítimas encaminhadas a Canoas, uma sofreu soterramento, duas tiveram fraturas no quadril e uma, na face. Segundo Clarissa, esses pacientes necessitavam de cuidados especializados ou estavam em risco de especialização.
À equipe médica de plantão, que contava com Clarissa, um enfermeiro e um técnico em enfermagem, somaram-se mais cinco médicos, três enfermeiros e seis técnicos, que prontamente atenderam ao chamado da equipe do Hospital de Caridade de São Francisco de Paula.
A população também mostrou solidariedade. Logo depois que parou a chuva, Cristiane Richel, 34 anos, deixou sua casa no loteamento Santa Isabel e levou chá e sanduíches para oferecer para os familiares das vítimas que estavam sendo atendidas no hospital.
– Trouxe esse lanche por que muitas pessoas saíram de casa sem comer nada – disse Cristiane.
Daniel Lentz, 32 anos, aguardava na sala de espera informações sobre o estado de saúde da sogra Terezinha da Rosa, 45, também moradora do Santa Isabel.
O genro conta que Terezinha tinha saído de casa para comprar pão quando iniciou o vendaval e uma folha de zinco atingiu a cabeça da mulher.
– Os médicos fizeram uma sutura no couro cabeludo, ela já se alimentou um pouco e está conversando, mas sente muita dor – disse uma das filhas da vítima.
Jovelina Maria da Silva Menguer, 85 anos, pediu água pra tomar antes de deixar o hospital por volta das 14h30min. Ela também foi uma das vítimas do vendaval que devastou cinco bairros da cidade.
– Senti a casa balançar e meus netos se agarraram em mim e disseram que a casa estava tremendo. Senti um ardume na minha casa – disse ela.
A casa de dona Jovelina ficou destruída. Os netos não sofreram nenhum ferimento.
– Perdi tudo, inclusive umas coisinhas novas que tinha comprado há pouco tempo. Dou graças a Deus que tenho vida.
Atualmente, 21.617 pessoas vivem em São Francisco de Paula, segundo o IBGE. Na tarde deste domingo, a Defesa Civil anunciou que cerca de 500 pessoas estavam desabrigadas. Na ERS-020, uma adolescente de 15 anos morreu em uma colisão frontal entre dois veículos durante o temporal. A previsão é de que o município receba mais chuva durante este domingo. O tempo deve ficar firme nesta segunda, terça e quarta-feiras.