Ainda que o Ministério da Saúde aponte que a epidemia do vírus HIV esteja estabilizada, o Dia Mundial de Luta contra a Aids, lembrado nesta quinta-feira, serve para marcar um fato alarmante: a taxa de detecção da doença entre jovens de 20 a 24 anos mais que dobrou nos últimos dois anos. No país, são 33,1 casos a cada 100 mil habitantes. O dado foi divulgado ontem pelo Ministério da Saúde, durante apresentação do Boletim Epidemiológico 2016.
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Em Caxias, o percentual também subiu, principalmente entre jovens do sexo masculino. Em 2014, em torno de 10% dos rapazes entre 20 e 24 anos receberam resultado reagente para HIV, enquanto em 2016 o número é de 20% dos diagnósticos. Dos 37 novos casos em 2014, quatro tinham entre 20 e 24 anos. Em 2016, dos 35 novos casos, sete estão nesta faixa etária. Isso apenas com garotos.
– A questão do aumento dos casos de HIV e Aids entre jovens é um fenômeno global. Não existe uma resposta única para explicá-lo (o crescimento dos casos). O que falta é um pacto social em que famílias, escolas, empresas, mídia, governos e sociedade civil possam desenvolver um diálogo franco e aberto sobre sexualidade e sobre vida sexual e reprodutiva, sem tabus, sem meias palavras e sem hipocrisia. A decisão de usar o preservativo, de fazer o teste de HIV, de aderir ao tratamento é individual – explica Georgiana Braga-Orillard, diretora do Unaids no Brasil, entidade da Organização das Nações Unidas (ONU) que trata sobre o tema.
Estimativas do Unaids apontam que um terço das novas infecções que ocorreram no mundo no último ano foram entre jovens dos 15 aos 24 anos. Para a coordenadora do Serviço Municipal de Infectologial, Grasiela Cemin Gabriel, a falta de preocupação com a doença e o descuido podem explicar o aumento de casos nesta faixa etária. Ela cita o não uso de preservativo, a quantidade de parceiros e as relações instáveis entre os motivos.
– Antes, se morria de Aids. Hoje em dia, não. As pessoas ficam menos assustadas e não dão importância. Mas a doença afeta a qualidade de vida. Eles só vão se dar conta da gravidade depois – justifica.
Há 26 jovens com idades entre 16 e 25 anos recebendo tratamento pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em Caxias do Sul. Um deles é Jorge*, 23, nascido em uma cidade da Fronteira Oeste e em Caxias do Sul há seis anos. Jorge é homossexual e descobriu a doença em agosto, quando se ofereceu para doar sangue no Hemocentro. A triagem identificou algo errado no sangue, e o teste feito no Centro Especializado de Saúde (CES) confirmou a doença.
Ele namora um rapaz desde março, que começou o relacionamento adiantando que era soronegativo. Além da dor do tratamento, Jorge carrega o peso de transmitir a doença ao companheiro.
– Foi o pior dia da minha vida, só pensava que iria morrer. Contei ao meu namorado e ele me disse "vamos passar por essa juntos". Só ele vai saber. Nunca vou contar à minha família, vou sofrer muito preconceito – afirma.
Ele e o namorado de 25 anos vão juntos ao tratamento. Optaram por não contar aos amigos, já que perceberam que há afastamento quando alguém é identificado com HIV. Os dois estão confiantes na nova vida que levam, mais regrada e acompanhada de medicamentos.
– Serviu de aprendizado. Hoje, penso que as pessoas devem usar a liberdade com sabedoria e fazer o teste regularmente. Muitos sentem a angústia da incerteza, mas é melhor uma vida longa e tratável, que curta e cheia de complicações – afirma.