Os dez minutos para o bauru ficar pronto pareciam uma eternidade para os irmãos Jonathan, 14 anos, Miriam Vitória, 12, e Ezequias Batista da Silva, 10. Os três nunca haviam provado o clássico prato caxiense, diferente do bauru servido no resto do país, e sequer sabiam do que era feito.
– Acho que é algo com frango – arriscou Jonathan.
O pai do trio, Ercídio da Silva, 49, conhecia o prato, mas manteve segredo, aumentando o clima de ansiedade entre as crianças. Miriam insistiu para ele contar quais eram os ingredientes, mas Ercídio não abriu a bico. A inquietação começou ainda em casa, no loteamento Altos da Maestra, quando já era passado das 19h, e o motorista do Pioneiro ainda não tinha chegado para buscá-los.
– Pai, será que eles vem? – questionavam as crianças.
Quando já no restaurante o garçom Luiz Dalberto, 68 anos de vida e 34 de trabalho no Danúbio, chegou com a travessa cheia de bifes cobertos com queijo, presunto e molho de tomate, matou a curiosidade _ e a fome _ da meninada.
– Gostaram? – perguntou a repórter.
– Sim! – responderam, menos Ezequias, com a boca cheia e aquela cara de satisfação ao provar algo diferente e saboroso.
A ida ao Danúbio, tradicional ponto da gastronomia da cidade, foi também a primeira vez da família em um restaurante. Desempregado há três anos, Ercídio não teria como levar os filhos para jantar fora.
– Fiquei feliz por eles – disse o pai.
Apesar da felicidade com o presente, uma cortesia do proprietário do restaurante, Tranquilo Carniel, a família não escondeu a tristeza em recordar que a mãe das crianças e esposa de Ercídio morreu há três anos, justamente no dia de Natal, em decorrência de sequelas de um atropelamento sofrido há 12 anos, coincidentemente num dia 22 de dezembro.
– Para mim, não existe Natal – resumiu a pequena Miriam.