A cada ano, 42 pessoas tiram a própria vida e outras 174 tentam cometer suicídio em Caxias do Sul, uma das cidades com os maiores índices do Rio Grande do Sul. Em 2016, já são 23 óbitos e 62 tentativas, de acordo com dados da Vigilância em Saúde da prefeitura.
Neste fim de semana, data que marca o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, o Centro de Valorização da Vida (CVV) promove um almoço no bairro Fátima e chama a população para debater o tema sem tabus. É uma oportunidade de aprender a lidar com um mal que, quanto mais silencioso for, mais difícil fica de ser combatido.
– Existe uma tendência das pessoas de minimizarem o sofrimento das outras. É errado dizer à pessoa que sofre que é errado ela se sentir assim, porque a gente não sabe o que ela está passando. É preciso evitar tirar o foco do assunto com outras coisas e, pelo contrário, mergulhar nele e nos sentimentos, sem ter medo do que vem dali – afirma Géder Evando Weber, coordenador da comissão de estudos do CVV.
Leia mais:
Suicídio: o mal invisível que mata mais de mil gaúchos por ano
Ouvir sem julgar é a melhor forma de ajudar quem pensa em suicídio
Nery José Botega: "Não estamos propensos a agir em cima dos sinais"
A doença mata três gaúchos por dia e mais de 800 mil pessoas por ano no mundo, o que representa um óbito a cada 40 segundos. No Brasil, são 32 mortes diariamente, taxa superior à de vítimas de aids e de alguns tipos de câncer, por exemplo. O Estado lidera a triste estatística nacional, com 10,4 casos a cada 100 mil habitantes – o dobro da média brasileira.
Para encarar o problema de frente e estimular a prevenção, foi iniciada em 2014 pelo CVV, pelo Conselho Federal de Medicina e pela Associação Brasileira de Psiquiatria a campanha Setembro Amarelo – inspirada no sucesso do Outubro Rosa, que tornou-se um marco na conscientização sobre o câncer de mama.
– A pessoa que tenta o suicídio não quer acabar com a própria vida, e sim com o sofrimento. Quando identificamos alguém que está com uma ideia suicida ou manifesta de alguma forma, o ideal é se colocar ao lado da pessoa, respeitá-la e demonstrar que se importa com o que ocorre – alerta Evandro.
Jovens são as maiores vítimas
Os números registrados pela Vigilância em Saúde da prefeitura de Caxias apontam que a maior parte das pessoas que cometem suicídio na cidade são do sexo masculino e têm entre 20 e 39 anos; as que tentam e não chegam a consumar, na maioria, são mulheres. É significativo, de acordo com a diretora do órgão, Maria Ignez Estades Bertelli, o aumento de casos de vítimas entre 40 e 49 anos, e entre 60 e 69 anos:
– Felizmente, notamos uma tendência à diminuição, talvez pela maior procura de atendimentos especializados. O acompanhamento é fundamental nesse processo.
De acordo com estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS), nove em cada 10 casos poderiam ser evitados. O diálogo é considerado o primeiro passo para interromper o ciclo de autodestruição. Junto a isso, é fundamental o tratamento especializado. Em Caxias, são sete profissionais cadastrados no Sistema Único de Saúde (SUS). Não há demanda reprimida.
– Quem está com pensamento de morte não percebe outras maneiras de sair do sofrimento. Por isso, é difícil encontrar alternativas sozinho. É importante a avaliação profissional e o diagnóstico. Com terapia e medicamentos, reduzimos bastante as mortes – salienta a psiquiatra Kaciara Schenatto Costa.
* Com informações de Zero Hora