Em local marcado um ano atrás por crueldade e violência, a comunidade de Charqueadas, na Região Carbonífera, se mobilizou para reavivar sentimentos de ternura e compaixão, mantendo vivo o pedido por Justiça. Na segunda-feira, data em que se completou um ano do assassinato do adolescente Ronei Wilson Jurkfitz Faleiro Junior, morto aos 17 anos em 1º de agosto de 2015, moradores, amigos e familiares realizaram um ato batizado de Doação de Abraços. Nesta terça-feira, a Justiça negou recursos dos quatro adolescentes condenados à internação pelo crime.
A manifestação, liderada pelo grupo Teatro Coletivo 7 com a participação de integrantes do Instituto Ronei Faleiro Junior – criado pelos pais do adolescente –, ocorreu, entre outros pontos centrais da cidade, em frente ao Clube Tiradentes, local onde o rapaz foi atacado, junto do pai e de um casal de amigos, por um grupo de agressores na saída de uma festa de arrecadação de recursos para a formatura da turma com a qual ele concluiria o Ensino Médio.
Leia mais:
Rixa entre cidades motivou o espancamento de adolescente, confirmam testemunhas
"Entendemos o direito à defesa, mas esperamos justiça", diz pai de adolescente morto em Charqueadas
Justiça autoriza prisão domiciliar a um dos acusados de matar jovem em Charqueadas
De acordo com o pai de Junior, o engenheiro Ronei Faleiro, a performance consistia na abordagem de outras pessoas com cartazes ofertando a doação de abraços, com a finalidade de ressaltar a necessidade da convivência pacífica:
– A paz é conquistada diariamente através de gestos simples de compaixão. Outro aspecto ressaltado nas abordagens foi de que, quando temos um abraço, este gesto pode parecer simples, mas quando não o recebemos ou quando não temos a quem dar por vários motivos, e a violência tem o poder de subtrair estas possibilidades, a dor e o isolamento são os únicos resultados.
Veja entrevista concedida pelo pai de Ronei dias após o crime
Crime chocou país pela violência
No domingo, familiares e amigos também se reuniram em uma missa, realizada na Igreja Cristo Rei, em memória pela passagem de um ano da perda de Ronei Junior. O assassinato do adolescente chocou o Estado e teve repercussão nacional em razão da violência. O rapaz, o pai e um casal de amigos foram agredidos a chutes e garrafas por um grupo de mais de 15 jovens, entre adultos e adolescentes.
Em setembro de 2015, um mês após o crime, quatro dos sete adolescentes que respondiam pelo assassinato de Ronei foram condenados pelo Juizado da Infância e Juventude da Comarca de Charqueadas – o juiz Francisco Morsch aplicou a medida socioeducativa de internação pelo prazo máximo, que é de até três anos. Dois adolescentes foram absolvidos por falta de provas, e o sétimo rapaz contra o qual o Ministério Público ofereceu representação (que equivale à denúncia de adultos) teve sentença de absolvição proferida em janeiro deste ano.
Entres os adultos, nove são réus no processo original: Alisson Barbosa Cavalheiro, Cristian Silveira Sampaio, Geovani Silva de Souza, Jhonata Paulino da Silva Hammes, Leonardo Macedo Cunha, Matheus Simão Alves, Peterson Patric Silveira Oliveira, Vinícios Adonai Carvalho da Silva e Volnei Pereira Araújo. Com exceção de Jhonata, que teve prisão domiciliar concedida pela Justiça, todos seguem presos.
Já foram realizadas duas audiências sobre o caso para ouvir defesa e acusação. Durante os depoimentos, outro jovem acabou virando réu: testemunhas relataram que Rafael Trindade Almeida estaria as ameaçando. Foi pedida e concedida a prisão preventiva dele. Após ter dois pedidos de revogação da detenção negados, a defesa conseguiu habeas corpus para relaxamento da detenção, e aguarda julgamento em prisão domiciliar.
Agora, no processo com nove réus, falta apenas a apresentação das alegações da Defensoria Pública quanto aos acusados que representa. Em seguida, o caso segue para sentença, que pode pronunciar os réus, ou seja, submetê-los ao Tribunal do Júri. Não há previsão para decisão. No processo separado de Rafael, encerra-se nesta quarta-feira o prazo para entrega das alegações finais do Ministério Público Estadual. Depois, a defesa tem 10 dias para apresentar seus argumentos e, por fim, o caso segue para decisão judicial.