Representantes das famílias de vítimas da tragédia da boate Kiss, em Santa Maria, estão revoltados com a ordem judicial que determinou a devolução do prédio onde funcionava a danceteria ao dono, a Eccon Empreendimentos de Turismo e Hotelaria, com sede em Porto Alegre.
Sérgio Silva, presidente da Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM), considerou a decisão um desrespeito.
– Infelizmente, o interesse econômico está acima da dignidade humana. Em todos países descentes, o poder público desapropriou locais onde ocorreram tragédias semelhantes. Em Buenos Aires, a boate Cromañón que ocupava um quarteirão (onde morreram 194 pessoas em um incêndio) está fechada há 12 anos _ afirma Silva, militar da reserva do Exército.
Ele ressalta que a associação deseja a desapropriação do prédio e que já fez a solicitação à prefeitura, mas foi negada.
– Mas vamos continuar lutando pela desapropriação, cobrando dos próximos prefeitos. Depois, estudaremos com a comunidade qual o destino mais adequado para o prédio – assegura.
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Silva lembrou que a entidade rejeitou a ideia de um memorial porque a proposta partiu da prefeitura de Santa Maria e do Ministério Público, segundo ele, um absurso, por vir do "acusado e do acusador " da tragédia que matou 242 pessoas e deixou 636 feridas.
Flávio Silva, vice-presidente da AVTSM, também demonstra preocupação com a decisão do juiz Ulysses Fonseca Louzada, da 1ª Vara Criminal de Santa Maria, em liberar a retirada de pertences das vítimas, como roupas e sapatos, que ainda estão no interior da Kiss. No final de 2014, o prédio foi submetido a uma limpeza, e os objetos guardados em tambores lacrados.
– Antes da limpeza, pedimos autorização para buscas os pertences de nossos filhos, e gerou polêmica porque a justiça exigiu a apresentação de um plano de descontaminação por uma empresa credenciada à Fepam. Agora não tem mais perigo? – questiona o microempresário.
Ele ainda teme a depredação do local. A Brigada Militar vigiará o prédio até segunda-feira e depois o compromisso será da Eccon Empreendimentos.
– A preocupação é com saques e invasões por pessoas que não tem onde morar. Vamos organizar uma reunião para discutir isso – promete Flávio Silva.
Em 2015, a empresa dona do prédio informou que pretendia construir no local um hotel com salas comerciais no térreo. Zero Hora tentou contato neste sábado por telefone com o advogado da Eccon, Paulo Henrique Correa da Silva, e com o juiz Ulysses Fonseca Louzada, mas eles não atenderam aos chamados.