O sinal verde para que o trabalhador use 10% do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), além de 100% da multa por demissão sem justa causa, para tomar crédito consignado deve ser recebido com cautela. Conforme economistas e especialistas em finanças pessoais, abdicar de uma poupança valiosa para momentos de emergência pode ser um tiro no pé, em particular quando o desemprego segue em alta e a economia, patinando.
– Muitos trabalhadores não percebem que o FGTS é uma garantia para o futuro. Se banalizar essa opção de crédito e utilizá-la para consumo, poderá faltar para cobrir necessidades na aposentaria ou em caso de demissão – afirma Reinaldo Domingos, presidente Associação Brasileira de Educadores Financeiros (Abefin).
A medida, proposta pela equipe econômica da presidente afastada Dilma Rousseff, foi aprovada pelo Congresso no último dia 15 e deve começar a vigorar em setembro, quando for regulamentado o número máximo de parcelas e as taxas de juros a serem cobradas. Domingos avalia que, em vez de estimular a economia pela via do consumo, como pretende o governo, a mudança traz o risco de prejudicar o trabalhador, pois irá comprometer uma fatia de seu salário com as parcelas:
– Esse crédito pode aumentar ainda mais os altos índices de endividamento da população.
A vantagem do consignado é que os juros são menores do que os empréstimos pessoais, admite o educador financeiro. O empréstimo pessoal em bancos tem juro anual de 73%, quase três vezes acima dos consignados, que costumam girar de 20% a 30% ao ano.
O FGTS continua sendo uma das principais salvaguardas para quem é demitido até que encontre um novo emprego, principalmente após o endurecimento das regras para o seguro-desemprego.
Conforme o Instituto Fundo Devido ao Trabalhador, ONG que trabalha com cálculos e projeções do FGTS, em 2014, foram demitidos sem justa causa 20,4 milhões de trabalhadores no país, que sacaram R$ 54,3 bilhões do FGTS. Segundo Mário Avelino, presidente do Instituto, se todos os trabalhadores pegassem o consignado recém aprovado, só no FGTS os bancos sacariam R$ 20 bilhões, além de levar mais 30% do valor das rescisões.
– A medida é muito boa para os bancos, mas pode ser uma armadilha para o trabalhador. Não se deve usar pra consumo uma reserva que poderia servir para a compra de um imóvel ou tratamento de saúde – avalia.