Não faltam relatos de pais e alunos sobre problemas enfrentados nas escolas de Caxias do Sul neste início de ano letivo. Problemas de infraestrutura e manutenção impedem estudantes de assistirem às aulas, caso da Escola Estadual José Venzon Eberle, que foi mostrado em reportagem na edição de quarta. Em outros locais, há falta de merenda escolar, caso da Escola Estadual Aquilino Zatti. A precariedade é reconhecida pela 4ª Coordenadoria Regional de Educação (4ª CRE), mas ainda há um desafio maior: a falta de professores.
Segundo o último levantamento da 4ª CRE, faltavam 64 professores na região de abrangência. Desse total, 54 deveriam estar atuando em Caxias. Isso significa estudantes sem aula em alguns horários. A nomeação de professores concursados, autorizada recentemente pelo governador José Ivo Sartori, pode amenizar a situação, mas não resolverá.
- Tem gente sem aula porque, em algumas disciplinas, não encontramos professores. Também estamos enfrentando uma questão envolvendo a rede municipal. Professores estão se exonerando do Estado para trabalhar apenas no município porque ele paga o dobro. Em janeiro, muitos disseram que iria sair em função das vagas oferecidas São Marcos e Farroupilha. Isso vai piorar porque Caxias (prefeitura) vai chamar professores em breve. Então, quando fizemos o levantamento da situação da educação, em novembro, tínhamos uma realidade. Agora, o cenário mudou. Não temos de onde tirar pessoal para cobrir todas as vagas - afirma o coordenador da 4ª CRE, Paulo Périco.
Os problemas estruturais elencados pela 4ª CRE tem garantia de investimento por parte do Estado. De acordo com Périco, as melhorias enfrentam burocracias, assim como qualquer demanda de obra pública. Portanto, não há prazo. No ano passado foram gastos R$ 370 mil em reparos pequenos em algumas das 52 escolas estaduais de Caxias.
- Temos problemas, sim, porque nossas escolas são antigas. Temos prédios com mais de 70 anos. Não arrumaremos as 2,5 mil escolas do Estado em poucos anos, infelizmente. Estamos batalhando. A comunidade tem o direito de pedir escola para o seu filho, mas a educação é um caso complexo.
Confira o quadro atual da educação estadual em Caxias do Sul e região.
Falta de professores e funcionários
Mesmo ciente dos problemas acarretados pela falta de professores nas escolas, Paulo Périco afirma que a situação está melhor neste ano, em comparação com 2015. Os principais entraves são a dificuldade em encontrar pessoal de disciplinas específicas, que ocasiona a falta de aula em turmas a partir do 6º ano, e a migração de docentes da rede estadual para a municipal. A nomeação emergencial autorizada pelo governador, que está em fase de contratação, ajudará a minimizar o problema, que tem o agravante da crise econômica:
- Desde a metade do ano passado, vemos um aumento na busca por vagas nas escolas estaduais, vindas principalmente das municipais. Isso pode ser reflexo da crise, com os pais tirando os filhos das particulares. A dificuldade é que, com mais vagas, precisamos de mais salas e de mais professores. Hoje, temos em torno de 3,6 mil docentes, mas não tenho um número ideal porque estudantes ainda estão sendo matriculados. Vamos solicitar à Secretaria de Educação do Estado a nomeação de 30 professores de séries iniciais.
As 122 escolas de abrangência da 4ª CRE também sofrem com a falta de funcionários para tarefas administrativas. Embora seja importante para o funcionamento da instituição, Périco esclarece que a prioridade são os professores em salas de aula.
- Temos escolas, por exemplo, que não há pessoal na secretaria, um lugar essencial, já que por ali passa toda a questão pedagógica. Temos outras que estão aptas a ter uma pessoa para trabalhar na área financeira, mas não conseguimos. É difícil encontrar um professor que tenha um curso de administração, de contabilidade. Existiam cargos de confiança (CC) para essas funções, mas foram cortados neste governo - esclarece Périco.
Problemas estruturais
A maioria dos prédios que abrigam as escolas de Caxias e região exige melhorias constantes. Consertos que não são tão complexos, como a revisão da parte elétrica e de telhados, são feitos constantemente, segundo Paulo Périco, mas perdem prioridade quando uma urgência surge.
- Estamos fazendo reformas pontuais há muito tempo. Vinte escolas estão sendo avaliadas em função das novas regras do PPCI. Só acontecem fatos emergenciais em outras escolas e paramos tudo. Um exemplo é a Escola Estadual Imaculada Conceição, de Cambará do Sul, devastada por um temporal em setembro passado. Tivemos que reformá-la e gastamos R$ 680 mil que não estavam previstos. Com esse dinheiro, poderíamos ter arrumado outras coisas menores - explica.
Os problemas pontuais, como a parte elétrica estragada na Escola Estadual José Venzon Eberle, que deixou alunos sem luz, ocorrem em grande número. Segundo Périco, são mais fáceis de resolver. Mas questões que envolvem grandes obras também estão nas prioridades da 4ª CRE. Em parceria com o Fundo Nacional de Desenvolvimento Escolar do Governo Federal, um levantamento foi realizado recentemente nas 122 escolas para saber quais precisariam ser reconstruídas. Seis foram escolhidas, uma em Caxias:
- A José Generosi deveria ser destruída e construída novamente. Encaminhamos esse levantamento ao governo, que verificará a situação no Estado e depois agirá. Mas é preciso ter paciência, já que se trata de bilhões. Para arrumar o Cristóvão de Mendoza, por exemplo, seria preciso de mais de R$ 20 milhões - acredita Périco.
Vagas em Caxias
O coordenador da 4ª CRE é enfático ao afirmar que não faltam vagas nas escolas estaduais de Caxias. Até agora, mais de 50 mil alunos estão matriculados na região, e esse número pode aumentar, já que não há prazo limite para ingresso. O problema, segundo Périco, é que muitos estudantes se queixam por não conseguirem vagas nas escolas do bairro que residem.
- Há 10 anos, o número de alunos em escolas estaduais não aumenta, o que não exige a construção de novas escolas. Temos vaga, mas não em algumas regiões. Não há o que fazer quando atingimos o número máximo de alunos. Não temos como construir uma escola em cada esquina - alerta Périco.
Nas escolas em que há salas sobrando, novas turmas estão sendo abertas, de acordo com o coordenador, mas não há como extrapolar o limite:
- A questão é que abrindo novas turmas, precisamos ver se temos recursos humanos. Não adianta abrir a turma e não ter professor.
Paralisações x queixa de docentes
Na segunda-feira, uma paralisação do magistério convocada pelo Cpers praticamente não teve adesão entre as principais escolas estaduais de Caxias. Um novo protesto está marcado para os dias 15, 16 e 17, o que preocupa um pouco a 4ª CRE.
- Nós esperamos a greve ocorrer para agir, mas ultimamente a adesão tem sido pequena. A maior parte dos professores se queixa e diz que não aguenta mais fazer paralisação. Dizem que brigam há 30 anos e nada é resolvido. Sou professor, claro que eu quero que eles ganhem mais. Mas todos sabemos que hoje o Estado está quebrado e não tem solução imediata. O governador não tem de onde tirar verba para aumentar salários - resume Périco.