Em caso de pane mecânica ou pneu furado, o conserto será no leito da rodovia ou em algum recuo de terra à beira da estrada, porque praticamente toda a BR-470 não tem acostamento. Ao acionar o socorro, será difícil até detalhar em que ponto ocorreu o dano, porque sequer há placas indicativas de quilometragem ao longo da via.
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Acrescente-se a isso movimento de 25 mil veículos por dia, grande parte caminhões, em pista não duplicada. Essa realidade da BR-470, entre Carlos Barbosa e Nova Prata, foi atestada pela reportagem: encontrar pontos seguros para estacionar e fotografar é um desafio nos 97 quilômetros. O medo é constante.
Para quem não tem como escapar dessa rota, a sensação é de conformidade com a dificuldade de ultrapassar em um traçado sinuoso e com raros trechos de terceira faixa, asfalto desgastado e buracos.
- Nossa rota é aqui, tem que ser essa. E aí não tem saída, acabamos acostumando. Ultrapassagem não tem como fazer porque a pista não dá condição nenhuma. Os poucos pontos de terceira faixa que tem, é impossível ficar porque é perigoso, muito buraco - descreve o caminhoneiro João Paulo Bristot, que é de Nova Prata e segue a BR-470 para ir a cidades como Cachoeirinha e Pelotas.
A BR-470 é uma dentre tantas rodovias da Serra que preocupam empresários e motoristas. Os motivos das dores de cabeça são praticamente idênticos: má infraestrutura e insegurança. Como a estrada nunca passou por uma renovação total, paliativos deixaram reflexos, descreve o presidente da Associação das Entidades Representativas da Classe Empresarial da Serra Gaúcha (CICs Serra), Edson Morello:
- Não lembro de ter usado a BR-470 em condições aceitáveis, mas razoável ela já esteve. Foram feitos recapeamentos quando era RST-470 (antes de ser federalizada), mas é notório: cada vez que foi feito recapeamento, a pista estreitou e não foram feitos acostamentos. As condições são desfavoráveis a qualquer tipo de tráfego.
Risco de vida, atraso de mercadorias e lucratividade menor não são os únicos prejuízos. Para a professora Magda Medianeira Reginato Bassanesi, que há 15 anos estuda logística e processos produtivos, o problema vai além:
- Se o turista vier para a Serra Gaúcha buscando aquela paisagem que se passa a ele, o vinho... Até chegar em Bento, ele passou por muitos buracos, por apertos na estrada. O turismo está sendo prejudicado.
Chão batido ainda no caminho
Pista simples, asfalto castigado e má sinalização. Não fossem todos esses problemas, a BR-470 ainda tem trechos de estrada de chão batido. De André da Rocha até a localidade de Barreto, em Lagoa Vermelha, são quase 50 quilômetros de poeira e barro.
Embora seja uma demanda antiga e necessária, a pavimentação do trecho ainda está nos passos iniciais - depende, em primeira instância, de aprovação do estudo feito pelo DNIT. Enquanto nada disso acontece, André da Rocha, Lagoa Vermelha e Capão Bonito do Sul, que dependem diretamente da estrada, bancaram melhorias por conta própria como tapa-buracos e patrolagem. Quem prefere desviar anda praticamente o dobro.
- A situação é de calamidade pública. Fizemos pequenos reparos para pelo menos carros pequenos ou em dias de tempo bom o pessoal conseguir passar - conta o prefeito de André da Rocha, Idair Bedin.
No limite de André da Rocha com Nova Prata, mais problemas: a travessia pelo Rio da Prata ocorre por uma ponte de ferro e madeira mal sinalizada, um risco a quem não conhece o caminho. O projeto de uma ponte nova já existe, mas ele nunca saiu do papel.
*colaboraram André Fiedler (Rádio Gaúcha Serra) e Jean Prado (RBS TV)
Serra Imobilizada
Pista simples e falta de sinalização aumentam o perigo na BR-470 de Carlos Barbosa a Nova Prata
Praticamente toda a rodovia não possui acostamento
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