Acostumado com a lida campeira no interior de São Francisco de Paula, Gustavo dos Santos Camargo, 17 anos, estava a pé e de mal com os estudos. Foram dois anos longe dos livros e cadernos, tempo suficiente para atrapalhar a perspectiva de qualquer adolescente.
- Pensava que teria que ir morar na cidade para fazer o ensino médio - conta o adolescente.
Felizmente, um micro-ônibus mudou a rotina de Gustavo e de outros jovens na mesma situação. Antes, Gustavo ficava em casa sem estudar porque o Estado não disponibilizava transporte para estudantes pobres de comunidades rurais. O sítio onde o rapaz mora, por exemplo, fica a 50 quilômetros da escola mais próxima.
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A distância impraticável para quem não tem carro ou dinheiro para ônibus particular avançou gerações em Capão Alto, em Pedra Lisa e em Campestre do Tigre, na região de Cazuza Ferreira e Lajeado Grande. Com a implantação de uma linha para localidades mais afastadas em maio, dezenas de adolescentes voltaram a frequentar a sala de aula e podem vislumbrar um futuro melhor.
A conquista se deve a um esforço de três estudantes. No final de abril, o trio caminhou 42 quilômetros entre a localidade de Pedra Lisa e Lajeado Grande em protesto contra o descaso. A mobilização de André dos Reis dos Santos, 16 anos, Anderso Souza Rech, 15, e Juan da Silva Moura, 11, foi acompanhada pela reportagem. O caso teve repercussão no Estado e impulsionou a correção de rumo na educação pública daquela região.
Até o ano passado, era assim: jovens pobres concluíam o ensino fundamental e desistiam de prosseguir no ensino médio porque não tinham recursos para pagar pelo transporte privado. Sadi Reis da Silva, que teve obstáculo semelhante na adolescência, instigou os pais e a garotada a participar do protesto e exigir melhorias.
Os resultados daquela maratona estão sendo colhidos agora. A direção da Escola Estadual de Ensino Médio Lajeado Grande, única daquela região, incluiu pelo menos 20 alunos a mais no quadro apenas com a implantação da linha no interior.
- No micro vem 28 alunos, sendo que 18 deles não estudavam aqui porque não tinham transporte. Outros pagavam para outra empresa - relata a diretora Nara Santini.
Rotina começa antes do alvorecer
Afastada há mais de um ano dos livros e cadernos, a garotada se esforça para acompanhar os colegas regulares. A rotina só não é a ideal porque ainda tem jovem que precisa caminhar vários quilômetros por meio do mato e do campo até chegar ao ponto de ônibus. O aluno com esse tipo de perfil geralmente falta aula em dias de chuva.
Gustavo acorda antes das 5h para embarcar no micro-ônibus às 5h30min. São duas horas de sacolejos por estradas de chão até a escola em Lajeado Grande. É rotina puxada, mas vale a pena. O rapaz conta que parou de estudar há dois anos, quando terminou o ensino fundamental em Pedra Lisa. Ao lado dele, outros jovens também comemoram o acesso ao ensino médio.
- Era meio brabo ficar parado em casa - lembra Gustavo.
Se acordar antes do alvorecer como Gustavo parece cansativo, tem alunos que levantam antes das 4h.
- É bem trabalhoso para alguns, mas posso afirmar que a maioria está aproveitando esta oportunidade - conclui a diretora Nara.
A implantação da linha é um convênio entre o Estado e a prefeitura de São Francisco de Paula.
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Implantação de linha de ônibus favoreceu estudantes no interior de São Francisco de Paula
Após protesto por falta de transporte em abril, vários jovens voltaram aos livros e cadernos
Adriano Duarte
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