Das armadilhas que se deve evitar conforme se envelhece um pouquinho, uma das mais perigosas certamente é a da ilusão do status. E não por acaso, é a que vejo mais gente legal cair pelo caminho. E não por outro motivo, o que mais valorizo nos amigos que se destacam de alguma forma é quando o abraço, o aperto de mãos e o sorriso permanecem os mesmos.
De todas as formas que o desejo de status pode ferrar gente de bem, falo principalmente sobre ceder a um certo mau gosto dos ricos e bem-sucedidos. Não só tendência a usar roupas apertadas e fazer selfies na piscina, mas sim da chamada sofisticação. Não quero bancar a polícia do comportamento, mas não tenho paciência para aturar sofisticados. Seja ao dividir a mesa com a pessoa que discorre teses muito bem embasadas sobre pratos impronunciáveis ou oferecendo uma Polar para outra que fatalmente irá fazer cara feia diante do latão 473ml de quase só milho e arroz.
Não tenho nada contra essas características, mas sim contra o processo de transformação que parece necessariamente aliar status à troca de velhos hábitos por novos costumes elitizados. Mais um exemplo? O abuso de expressões estrangeiras mesmo quando se sabe estar dirigindo a mensagem também a quem não domina aquele idioma (tão comum em reuniões de empresas ou post em redes sociais). Não se trata aqui de qualquer tipo de ódio, mas tão somente de querer me perguntar: por quê?
Outro problema com o status é a tendência ao distanciamento daqueles que não acompanharam a ascensão do bem-sucedido indivíduo aqui caracterizado. Mudar de turma, saca? Compreendo toda a movimentação entre diferentes grupos que fazemos ao longo da vida por diversos motivos (afinidades, geralmente), mas não entendo quando se trata de aproximação por status. Não seja tu, meu estimado amigo, o cara que senta mais perto ou aplaude mais forte aquele que está mais acima na tua pirâmide imaginária.
Portanto, deixe que a vida o transforme e te faça experimentar coisas incríveis, ganhe o dinheiro que for capaz, mas não se deixe levar pelo status. Nem se torne um sofisticado ou um puxa-saco. Porque um dia, fatalmente, tu irá se decepcionar com o quanto as pessoas não se interessam pela tua sofisticação. E o quanto aqueles a quem tu te aproximou por querer ser parte da turma dos que podem mais também não se interessam por nada em ti.
Quer ser legal de verdade? Não se perca pelas ilusões de status do caminho. Preserve o seu lado Polar latão. Contenha o impulso de parecer erudito. Ande com quem sempre irá te acompanhar. Maneire nas roupas apertadas. Questione-se se o peito precisa mesmo estar tão estufado e seu olhar assim tão confiante. Conheça o mundo sem renegar tua velha morada. Não pratique a ostentação disfarçada nas redes sociais. E jamais ceda à tentação de se tornar um sofisticado.
Opinião
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