Gilberto Blume: uma terça-feira com a lupa voltada para a chuva, para a seca

Eram 14h, o dia era terça 21, a terça estava úmida, chuvosa, carrancuda como de hábito desde 10 dias atrás.
 
Foi quando todos que estávamos na mesa de reunião fomos atraídos para o janelão envidraçado: uma ponta de um arco-íris escapava de uma nuvem e se punha em lugar incerto, longe de nós. A outra ponta do arco-íris permanecia lacrada dentro da ameaçadora nuvem escura.
 
Bem, pensei: meio arco-íris sempre será melhor do que arco-íris algum.
 
De pronto, associei: sol.

Antes, pela manhã, ouvi um meteorologista informar que El Niño está à espreita, travesso como só. As consequências das traquinagens desse guri são estiagens em alguns pontos, chuvas fora do normal em outros pontos. Desta vez El Niño exagerou: há dezenas de milhares de gaúchos flagelados pela água e dezenas de milhares de nordestinos flagelados pela seca.
 
Ainda na terça, o papa Francisco recebeu alguns prefeitos do planeta. Em pauta, o desrespeito das nações com o meio ambiente, o aquecimento global, assuntos terrenos que o Vaticano jamais abordara.
 
Se até o santo padre está empenhado em reduzir a poluição, é hora de nós, pecadores, dizermos amém.
 
Também na terça, uma profissional de limpeza aqui do Pioneiro contou que o teto de sua casa mofara. Detalhe, ela mora em apartamento, seu lar sequer está assentado no solo, canal direto com a umidade.
 
Ainda na terça, o governo federal anunciou que o secretário nacional de Proteção e Defesa Civil do Ministério da Integração Nacional, Adriano Pereira, sobrevoaria o RS na quarta e na quinta e se reuniria com gaúchos para minimizar o sofrimento dos flagelados.
 
- Vamos verificar a situação in loco e colaborar com a Defesa Civil local na construção do Plano Detalhado de Resposta - disse Adriano Pereira.
 
Pereira sequer ruborizou diante da paralisia federal com os alagados gaúchos e com os sedentos nordestinos.
 
Na mesma terça, colegas da Rádio Gaúcha Serra pintaram um sol num papel. O sorridente e infantil sol amarelo foi fixado no alto da redação da rádio, como a zombar da instabilidade geral que assombra mentes e corações.