Dois ônibus com imigrantes haitianos e senegaleses chegaram em Florianópolis nesta madrugada. Os veículos saíram do Acre na última quinta-feira depois que o Ministério da Justiça suspendeu as viagens para São Paulo. Entre os que chegaram em Florianópolis, alguns imigrantes falaram que pretendem buscar emprego no Rio Grande do Sul.
No Estado, o principal destino tem sido Caxias do Sul. Na cidade, casas de acolhimento costumam ficar lotadas de imigrantes assim que eles chegam. Depois, eles acabam conseguindo emprego e se encaminham para uma nova residência. Esse ponto de recebimento de imigrantes é coordenado pelo Centro de Atendimento ao Migrante de Caxias do Sul e quem comanda este centro é a Irmã Maria do Carmo Gonçalves.
Confira a entrevista realizada com a Irmã Maria:
Gaúcha: Vocês já estão sendo comunicados sobre a possível chegada de mais imigrantes haitianos e senegaleses à Serra Gaúcha?
Desde a semana passada, quando surgiu a notícia de que viriam os ônibus, nós já havíamos conversado para ver de que forma seria feito o acolhimento dessas pessoas, dado o fato de que o município tem muita dificuldade com relação às vagas para acolhimento funcional. Temos duas casas que são geridas pelo município e que estão com uma lotação, embora não seja uma lotação de estrangeiros, há uma demanda local da região. Então, somada esta demanda com a onda de imigrantes internacionais, leva a uma situação bem complicada, em termos de acolhimento emergencial.
Gaúcha: Então vocês já estão superlotados?
Há também uma iniciativa da Associação dos Imigrantes do Senegal, que eles locaram por conta própria um espaço para o acolhimento dos imigrantes que chegam aqui sem ter onde ficar. Essa casa também já está no limite. Então, a gente vê com muita preocupação essa questão.
Gaúcha: Alguns prefeitos têm reclamado no Ministério da Justiça que falta um aviso com antecedência para que as prefeituras possam se organizar para receber essas pessoas. É isso mesmo? Vocês estão trabalhando com pouco tempo para organizar a estrutura? Vocês têm sido avisados com prazo para que isso tudo seja organizado?
De fato não há uma articulação entre as estâncias de governo federal, estadual e municipal no sentido de favorecer que as pessoas cheguem com uma certa estrutura de acolhimento. Não há uma articulação dessas ações diretamente com o município. A gente fica sabendo pela imprensa ou por outros meios que não seriam os caminhos oficiais. Há uma outra questão que, por exemplo, aqui em Caxias esse movimento já tem no mínimo uns três ou quatro anos. Então, do nosso ponto de vista, já haveria tempo, mais do que hábil, de que o município também tivesse se estruturado melhor para atender essa demanda, sabendo que não é algo passageiro. Com certeza o município, seja pela localização, seja pela questão do trabalho, ou seja pelos serviços que oferece, porque aqui temos um posto da Polícia Federal que faz encaminhamento de documentação e uma gerência do Ministério do Trabalho e do Emprego que pode emitir carteiras de estrangeiros, então, seja por conta disso ou pelo fato de as pessoas entenderem que aqui elas têm uma possibilidade de integração melhor, o município vai continuar recebendo essas pessoas. Tivemos um grande fluxo nesses quatro anos: em 2012 com o senegaleses, em 2013 com os haitianos, no ano passado o grande fluxo de imigrantes de Gana. Esses fluxos depois se mantiveram contínuos. Inclusive, há um mês atrás a Diocese de Caxias do Sul fez uma reunião com representantes da sociedade civil, do poder executivo, para pensar de que forma iríamos nos organizar, como município, para as Olimpíadas de 2016.
Gaúcha: Foi na Copa do Mundo que os imigrantes de Gana apresentaram um maior fluxo para Caxias do Sul. Esses imigrantes do Senegal, que a senhora conhece, eles já receberam algum indicativo de que esse novo grupo de senegaleses pode ir para Caxias do Sul?
Tem um movimento, que é o do fretamento dos ônibus e também o movimento espontâneo. Essa semana nós recebemos em torno de 40 senegaleses. Houve uma articulação estadual para que não viessem esses ônibus (em torno de 8 a 10) para Porto Alegre.
Gaúcha: Eles têm encontrado lugar para trabalhar como havia no ano passado e no ano retrasado? A oferta de emprego continua em alta ou a dificuldade aumentou?
Esse ano nossa indústria, que sempre empregou, passa por um momento de crise. Diminuiu bastante as vagas de trabalho no setor de produção e isso também tem afetado os imigrantes. De alguma forma, quando eles chegam aqui, eles têm dificuldade de comunicação e muitos não têm a qualificação necessária para empregar mais rapidamente. Isso gera uma dificuldade bem grande de integração também na questão laboral.
Migração
Caxias do Sul pode receber mais imigrantes haitianos e senegaleses
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