- Já ouvi falar que uma pessoa foi assaltada na passarela. Esse cara que mora ali, e tampa a estrutura com um aglomerado, não deve fazer mal a ninguém, mas sei que dá medo pro pessoal. O mato é bem perigoso e de noite, ninguém atravessa ali -argumenta o comerciante Carlos Eduardo Chies, proprietário de uma loja vizinha da passarela.
O Comando Regional de Polícia Ostensiva da Serra (CRPO/Serra) não localizou registros de assaltos na passarela. O titular da Delegacia de Furtos, Roubos, Entorpecentes e Capturas (Defrec), delegado Mário Mombach, afirma que a pasta não recebeu nenhuma ocorrência.
O QUE DIZEM OS PEDESTRES
:: Quando eu passei aí tinha até gente dormindo. E era durante o dia. Eu acho um perigo, jamais atravessaria sozinha - Aline Hofman da Silva, 25 anos, vizinha da passarela e que caminhava pela rodovia com o marido Fernando Correa, 31 e o filho, Guilherme, 6 anos.
:: Sempre que preciso atravessar eu passo pela passarela. Brigamos tanto por ela, temos que usar. É bem mais seguro. Só não usa quem não quer - Leonardo Bittencourt Reis, 18 anos
:: É pouco iluminada e tem muita distância para acessar ela. Eu acho extremamente perigoso. Só atravesso durante o dia, e com movimento - Renata Geane Rauch, 18 anos
:: Demora muito mais tempo para atravessar, e até eu prefiro ir pela rodovia. Só que o certo é perder mais tempo, mas passar com segurança - Nilza Maffei Nery, 55 anos.
:: A maior reclamação que eu escuto é sobre a extensão dela. É muito distante de tudo. Além disso, tem o mato do lado e quase nenhuma iluminação - Carlos Eduardo Chies.
:: Para mim, a passarela não adianta para nada. Ela está mal localizada e já ouvi falar que é muito perigosa quanto assaltos - Samantha Loures, colega da adolescente atropelada
O atropelamento de uma adolescente na BR-116, em Caxias do Sul, ao meio-dia da terça-feira, chama a atenção pela proximidade do acidente com a passarela que cruza a rodovia e foi instalada em novembro do ano passado.
Maria Vitória da Graça Motta Farias, 16 anos, foi atingida por um Palio, na frente do supermercado Andreazza, onde trabalha como empacotadora no turno da manhã. O condutor, Everson Boltker de Oliveira, 29 anos, parou para prestar socorro. Maria estava acompanhada de um colega. Ele conseguiu chegar a tempo ao outro lado da pista. Maria fraturou a bacia e segue internada no Hospital Pompéia, mas passa bem.
Para a mãe, Márcia Luciane Motta Farias, 44 anos, a jovem se queixava quanto à insegurança da passarela. Disse que preferia se arriscar na rodovia a atravessar sozinha na estrutura.
- Minha filha disse que estão sempre assaltando por aí e é muito perigoso. Eu aconselhei a andar na passarela, mas pelo jeito hoje foi diferente - afirma Márcia.
A justificativa usada pela adolescente é a mesma da maioria dos moradores do São Ciro. De fato, em meia hora de observação na tarde desta terça-feira, apenas cinco pessoas utilizaram a passarela. Na pista, dezenas se arriscaram. O percurso inibe os usuários: são 225 metros, sendo 33 sobre a BR e outros 96 nas rampas de acesso.
Além disso, a rampa ao lado da empresa Agrale é rodeada de mato e tem pouca visibilidade. Embaixo, um andarilho improvisou uma moradia. Há todo tipo de lixo: restos de alimentos, garrafas plásticas, roupas e até sinais de fezes.