Muçulmanos que vivem em Caxias do Sul celebram o nascimento do profeta Maomé

É como se fosse o Natal dos muçulmanos. Enquanto os católicos adotam o dia 25 de dezembro para celebrar o nascimento de Jesus, os muçulmanos que vivem em Caxias do Sul dedicam este sábado para homenagear o nascimento do profeta Maomé. A data é definida de acordo com o calendário lunar. Muçulmanos ao redor de todo o mundo dedicam o dia para orar e festejar.



Não existem imagens que remetam ao profeta, mas cânticos e orações servem para lembrá-lo. Em Caxias do Sul, a estimativa é de que 95% dos senegaleses sigam a religião muçulmana. Foi a Associação dos Senegaleses que organizou a festa, chamada de Gamou. O palco é o salão paroquial da igreja católica Nossa Senhora de Fátima, no bairro Cidade Nova. 

- Aqui é uma região que recebe muitos imigrantes, então é quase uma obrigação ter esse espírito de acolhida - destaca o pároco Luís Carlos Conci, que cedeu o espaço para a festa.

Embora a celebração seja aberta a qualquer pessoa que queria participar, a grande maioria era de senegaleses neste sábado. Com vestes especiais trazidas do Senegal, eles seguem os mesmos ritos do país de origem. Antes de sentar sobre um tapete para orar, tendo em mãos uma espécie de rosário de 100 contas chamada de "corouse", passam por um ritual de purificação. Por três vezes seguidas, lavam boca, nariz, rosto, mão direita, mão esquerda, cabeça, orelhas e pés. Só então estão prontos para rezar e cantar, momentos em que entram em espécie de transe.

- Repetimos uma frase que não sei explicar direito em português, mas que posso dizer que significa purificação - explica Pap Babacar Ba, 28 anos, dois deles em Caxias do Sul.

Em outro momento, a oração é liderada por um homem chamado de chefe, que é como se fosse o capitão de um time de futebol, explica Pap Babacar Ba. Um grupo de muçulmanos, também sentados sobre o tapete, repete uma expressão em árabe que significa "Deus é grande". É o chefe quem determina quantas vezes a sentença será proferida, primeiro em tom baixo, depois em alto volume.

- O capitão do futebol de vocês não é quem fala melhor, explica as coisas? O chefe é a mesma coisa - ensina.

A festa inclui leitura de trechos do livro sagrado Alcorão, almoço com churrasco e homenagem a integrantes do Centro de Atendimento ao Migrante (CAM). A entidade é conhecida por oferecer acolhida e auxiliar os migrantes na confecção de documentos.
A partir das 16h ocorre a parte mais importante do dia. Até as 21h, os muçulmanos realizam uma conferência a respeito do profeta Maomé. Em vez de presentes, como no Natal comum por aqui, os muçulmanos preferem trocar conhecimento e agradecer, muito.

- Em casa, no quarto, tem muçulmanos agradecendo. O importante não é a igreja, mas o que fazemos dentro dela. O que importa é a fé e agradecer - ensina Pap Babacar Ba, em claro português.