Desagrada a possibilidade de Caxias do Sul abrigar um aeroporto regional de passageiros em Vila Oliva. Confirmada na semana passada pelo Ministro da Aviação, Eliseu Padilha (PMDB), a ideia atrasaria em muitos anos a implantação de rotas internacionais de cargas, levando em conta o longo prazo que obras desse porte demanda. Mas não seria desvantagem contar com uma estrutura menos ambiciosa em uma primeira etapa.
Para o empresariado e as lideranças políticas, o importante é garantir a construção do complexo e tentar reverter a posição do governo federal. O prefeito Alceu Barbosa Velho (PDT) pretende encaminhar para Brasília um relatório sobre o volume de material produzido aqui e exportado para outros países.
Mesmo que o ministro mantenha a decisão de criar apenas um terminal de passageiros em Vila Oliva, a intenção é provar por meio de números de que a região precisa de investimentos geralmente só reservados para capitais. O documento já foi elaborado pela Câmara de Indústria, Comércio e Serviços (CIC) de Caxias do Sul e será apresentado ao prefeito em reunião a ser marcada.
A justificativa do empresariado e de Alceu é de que a logística de um aeroporto regional nos moldes do governo federal não suporta o escoamento da produção industrial da Serra. Hoje, o transporte das mercadorias é feito por caminhões até Campinas ou Guarulhos (SP), de onde segue para o Exterior em aviões cargueiros. O custo da operação é altíssimo e trava a competividade das empresas.
O único aeroporto regional da Serra, o Hugo Cantergiani, é insuficiente para receber grandes aviões e mingua por melhorias. Portanto, não seria vantagem investir na construção de uma estrutura semelhante na região como projeta Padilha.
- Se é para ter um aeroporto regional que se invista em melhorias no Hugo Cantergiani - contrapõe Nelson Sbabo, diretor de Infraestrutura da CIC.
O prefeito entende que Caxias do Sul é prioridade, e a licitação pode ser encaminhada ainda neste ano, algo que o ministro não garante.
- É novidade a proposta de Vila Oliva receber apenas um terminal de passageiros, sempre foi tratado ao contrário. Mas o importante é ter a estrutura e depois provar que é possível implementar o transporte de cargas - diz Alceu.
Investimento da iniciativa privada
O diretor de Infraestrutura da CIC, Nelson Sbabo, busca outra forma de tirar Vila Oliva do papel: fazer com que a União passe a outorga do futuro aeroporto para o Estado.
- Precisamos que o Rio Grande do Sul tenha a atribuição para contratar empresas de fundos internacionais para investir no projeto sem depender exclusivamente do governo federal - pondera Sbabo.
Um novo aeroporto regional em Caxias já havia sido anunciado ainda em 2012 pela presidente Dilma Rousseff dentro do Plano de Aviação Regional, que prevê 270 terminais no país. Diante das atuais condições do Hugo Cantergiani, o entendimento é de que vale a pena investir em Vila Oliva mesmo sem a garantia da liberação de transporte de cargas e voos internacionais.
Maringá (PR) é citada como exemplo pelo administrador do Hugo Cantergiani, Marcos Borges Fortes Arguelles. Segundo ele, o terminal da cidade paranaense foi concebido como regional. Por ter uma pista de 2,9 quilômetros, a estrutura comporta aviões de grande porte, recebendo inclusive cargas do exterior atualmente. O projeto de Vila Oliva prevê pista principal de 4,1 mil quilômetros e pista secundária de 3,1 quilômetros em uma área de 445 hectares, o dobro de Maringá.
Técnicos de uma empresa contratada pelo Banco do Brasil já estiveram em Caxias para levantar melhorias reivindicadas para o Hugo Cantergiani. Embora a intenção do Governo Federal de qualificar as rotas regionais, mas a possibilidade de uma intervenção de impacto em Caxias é praticamente nula devido às ocupações que cercam o terminal com mais de 60 anos.
- Foi uma mudança gradual, e o perfil do aeroporto de Maringá. Na minha opinião, é mais viável construir em Vila Oliva do que mexer no Hugo Cantergiani que está sem zona de escape por conta da zona urbana - diz Arguelles.
Longo caminho
O projeto de construção do Aeroporto Internacional de Cargas e Passageiros de Vila Oliva é estimado em R$ 800 milhões, com expectativa de conclusão entre 10 e 15 anos.
Infraestrutura
Empresários e prefeito Alceu Barbosa Velho querem provar que aeroporto regional não serve para Caxias do Sul
Ministro da Aviação confirmou que governo federal não investirá em terminal de cargas em Vila Oliva
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