Diariamente, as 79 vagas de leitos das Unidades de Tratamento Intensivo (UTIs) na cidade estão preenchidas. Dificilmente ficam vazias.
A evolução da medicina permite que a chance de sobrevida em uma UTI seja de 70%. Por isso, os pacientes acumulam histórias de superação e experiências de quem ficou cara a cara com a morte.
A predominância é de pacientes do sexo masculino com mais de 60 anos. Os idosos representam 60% das internações. Geralmente estão lá após procedimentos cirúrgicos e clínicos. Vinte por cento são vítimas de acidentes. O tempo médio de internação é de nove dias, acima da média nacional de até oito dias, segundo o médico intensivista e coordenador da UTI adulta do Hospital Pompéia, Fernando Dias.
- Caxias está acima da média em função das características das pessoas que moram aqui. São pacientes que demoram para buscar atendimento médico, e isso retarda o tratamento - afirma o especialista.
Uma das tarefas mais árduas dos médicos é comunicar aos familiares que o paciente está na UTI. A informação assusta, especialmente porque pouquíssimos sabem que 70% dos doentes sobrevivem à experiência. Mas ainda assim, há um tipo de internação ainda mais custosa de entender. A de recém-nascidos. Neste caso, alguém pode morrer antes mesmo de ter uma história de vida. Dos 79 leitos de UTI na cidade, 28 são neo-natal. Complicações pulmonares são as principais causas das baixas.
Não são todas as mães que têm tempo para se acostumar com a notícia. A técnica de enfermagem Elisandra Barbosa de Melo, 32 anos, foi surpreendida aos seis meses de gestação. O parto normal, procedimento extremamente desejado e defendido por Elisandra, se tornou impossível. O corpo da mãe trapaceou e absorveu o líquido aminiótico, processo que deveria ser feito pela criança. A médica avisou que a cesárea ocorreria em poucas horas. E, apenas talvez, mãe e filho sobreviveriam.
- Lidar com o talvez é difícil. Eu não sabia que minha vida estava em risco, só meu marido foi avisado. Me pouparam dessa. Mas sabia que meu filho talvez não resistisse às primeiras horas. Sabe quando o chão some da tua frente? Então, foi assim. A médica me pediu para estar pronta para o pior - lembra.
Erik nasceu três meses antes do previsto. Pesava inimagináveis 650 gramas, distribuídas em mínimos 34 centímetros. Erik parou na UTI derubado por uma enterocolite, inflamação do intestino delgado e do cólon. Os primeiros 101 dias de vida do bebê foram na UTI neo-natal do Pompéia. Elisandra conhece muito bem o ambiente: ela atua na UTI do mesmo hospital, mas no setor adulto. No entanto, essa familiaridade foi insuficiente para confortá-la. O período de quase quatro meses de Erik no hospital foram de revolta, dor e muita fé.
- Eu fui todos os dias para o hospital. Todos. Não queria sair de lá, porque eu poderia não ver ele no dia seguinte. Chegar em casa sem o filho é uma sensação horrível. Tinha dias que chegava às 8h e saía às 23h. E só ia embora porque me mandavam sair de lá - revela.
No celular de Elisandra há centenas de fotos de Erik na incubadora. É difícil enxergar o rostinho do guri nas imagens devido à quantidade de fios que envolviam o corpo. Nos primeiros nove dias, Erik respirou com ajuda de aparelhos. Depois, a equipe médica focou o tratamento em engordá-lo. No dia em que recebeu alta, Elisandra e o marido, o metalúrgico Everton, não dormiram. Queriam zelar pelo sono do filho que finalmente ocupava o berço recém-comprado. Oito meses depois e em casa, Erik é quieto, sorridente e ainda minúsculo. Em tão pouco tempo, já ensinou muito aos pais.
- Aprendi que a vida é uma caixinha de surpresas. Esse período do Erik na UTI criou um laço ainda mais forte entre nós. Agora, a vida é uma festa - encerra Elisandra.
Saúde
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