Golpes como o do bilhete premiado continuam fazendo vítimas na Serra. No últimos meses, Caxias registrou pelo menos uma vítima por semana. Foram quatro no mês de maio e seis em junho. Idosas mulheres formam o público-alvo preferido dos criminosos.
É o caso de uma moradora do bairro Exposição, em Caxias. Ela perdeu R$ 20 mil no golpe do falso bilhete premiado. A idosa, que prefere não revelar o nome e a idade, caminhava pela rua quando foi abordada por uma mulher de aparência simples que pedia ajuda para resgatar um prêmio. No meio da conversa, um homem bem vestido abordou as duas e se dispôs a ajudar. Ele ligou supostamente para o gerente do próprio banco, que confirmou a validade do bilhete.
- Ela dizia que era Deus quem tinha nos colocado no caminho dela. Eu fiz menção de ir embora, mas ele (o homem bem vestido), dizia que eu tinha que ficar, que tinha que ajudar. Ele disse que era empresário e que tinha dois postos de combustíveis em Caxias. Chegou a dar os nomes - conta.
O bilhete valeria mais de R$ 1 milhão. A idosa e o susposto empresário receberiam R$ 140 mil por ajudar a mulher a resgatar o prêmio. Os criminosos a convenceram a entrar em um carro. No Centro, ele mostrou uma mala e informou que ali havia R$ 50 mil dólares.
A idosa foi até a agência de um banco e sacou todo o dinheiro da poupança: R$ 20 mil. Seria uma garantia à vencedora do prêmio. Quando ela retornou ao carro, a mulher queixou-se de mal-estar e pararam em uma farmácia. A idosa desceu para comprar um remédio e os criminosos fugiram. Foi ali que percebeu que tinha sido enganada. O boletim de ocorrência foi registrado uma semana depois.
- Eles são bons. Falam rápido. Não dá tempo para a pessoa pensar muito e normalmete ela age sem falar com nenhum familiar - explica o delegado Vítor Carnaúba, do 1º Distrito Policial.
As quadrilhas que atuam na Serra normalmente vêm de Passo Fundo ou Lages (SC) e a ação é rápida. Os estelionatários não ficam mais que um ou dois dias na cidade e escolhem municípios com grande circulação de dinheiro, como Caxias e Porto Alegre.
Quando eles são identificados pela polícia por meio de imagens de câmeras de monitoramento e depoimento das vítimas, já estão aplicando os mesmos golpes em outros lugares. Por conta disso, a maioria acaba não sendo preso e, quando isso ocorre, são postos em seguida em liberdade.
Uma dessas raras prisões aconteceu no ano passado, quando Valdenir Cassiano Moreira, 42 anos, foi preso em Caxias por participar do conhecido esquema do conto do bilhete.
Na época, ele e outros dois homens conseguiram tirar R$ 20 mil de um casal de idosos em troca de um falso bilhete que daria direito a um prêmio de R$ 2 milhões. Moreira foi detido dia 29 de julho e, três dias depois, já estava solto. Os dois comparsas dele nem chegaram a ser presos. Os três respondem pelo processo em liberdade.
- A pena para crime de estelionato é prisão de um a cinco anos, mas, quando há condenação, ela é revertida para a prestação de serviço comunitário ou suspensão de direito. Assim, o juiz nem dá prisão preventiva e o acusado responde em liberdade. Para eles (os criminosos), é um risco que vale a pena - enfatiza Carnaúba.
Nos casos dos golpes aplicados por telefone, como o do falso sequestro ou dos falsos prêmios, é ainda mais difícil chegar a um nome. Cadastros em operadoras de telefonia e em agências bancárias são feitos com documentos falsos ou com os chamados "laranjas", pessoas que emprestam seus dados para o crime em troca de dinheiro.
OS GOLPES MAIS COMUNS
Bilhete premiado
A vítima é abordada por uma pessoa com aparência humilde que diz precisar de ajuda para resgatar o valor de um bilhete premiado e oferece uma recompensa. Outra pessoa se junta a elas, normalmente falante e bem vestida. Liga para o que seria o gerente do seu banco e confirma que o bilhete é verdadeiro. A vítima é induzida a entregar uma quantia em dinheiro para a dona do bilhete como garantia.
Falso sequestro
A vítima atende a uma ligação onde supostos sequestradores alegam estar com um parente seu. Ela é orientada a não desligar o telefone ou chamar a polícia, e depositar determinada quantia em uma conta. Há relatos de pessoas que foram abordadas na rua e os supostos sequestradores as teriam levado em agências de banco para o saque do dinheiro.
Premiações
Mensagens de texto ou ligações anunciando a vítima como vencedora de sorteiros cujos prêmios são casas ou carros. Para ganhar o prêmio, ela é induzida a fazer depósito em dinheiro em determinada conta.
Falso empréstimo
Anúncios em jornais de empréstimos a juros baixos e parcelados, mesmo que a vítima esteja inadimplente. Porém, para fazer o cadastro na empresa, ela é induzida a pagar valores que normalmente variam entre R$ 500 e R$ 1000.
Carros mais baratos
Anúncios em jornais ou na internet para venda de carros com preço abaixo do mercado. A vítima troca uma série de e-mails com o anunciador, que chega a emitir uma nota fiscal falsa. A vítima efetua o pagamento da entrada do veículo, mas nunca o recebe. A empresa começa a alegar problemas com o guincho, até cortar o contato com a vítima.
Familiar que pede ajuda
Ao atender uma ligação, a vítima é chamada de "tio" ou "padrinho". Quando a vítima pergunta quem fala, o criminoso responde algo como "quem é o seu sobrinho preferido" ou "quem é o seu sobrinho mais velho". A vítima dá um nome de um parente que se encaixe nessa descrição e o criminoso confirma a identidade. Ela alega que estragou o carro no meio da estrada, está sem dinheiro e orienta a vítima a efetuar depósito de determinado valor em uma conta.