
No imaginário das crianças, Papai Noel é quem materializa os sonhos que são acalentados durante todo o ano. Mas, para dois senhores que interpretam o personagem em Caxias do Sul, a tradição se inverteu. Neste Natal e nos próximos, são eles que comemoram realizações pessoais.
O primeiro Papai Noel presenteado é Pedro Chimello Neto, 61 anos. Ele tentava havia três anos emplacar seu trenó para sair às ruas. A burocracia manteve a engenhoca guardada na garagem, longe dos olhares curiosos de crianças e adultos.
Para o carrão circular, o Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) impôs uma série de exigências previstas na legislação. Pedro investiu mais de R$ 40 mil na ideia e em melhorias. Chegou a pensar que jamais rodaria com o veículo, tamanho o desafio. Como Papai Noel não pode esmorecer, ele seguiu em frente.
Depois de tanto lutar pelo emplacamento, Pedro recebeu a notícia de que o Denatran finalmente regularizou o carro natalino. Agora, ele tem autorização para circular distribuindo sorrisos e acenos no trenó fabricado a partir do chassi de uma Brasília 1979 e peças de diversos veículos.
O trenó é de causar inveja. Projetada por um engenheiro, a máquina recebeu adesivos com desenhos de neve, renas, pinheirinho, boneco de gelo e estrelas na lataria. Também tem teto conversível, lâmpadas de LED, equipamento para produzir fumaça e DVD para distrair os passageiros.
Pedro não dirige a engenhoca quando está trajado. Essa tarefa cabe ao amigo e assistente Jair Adalberto Stuani, 42 anos. A dupla pretende circular pelas ruas a partir desta semana, sempre na parte da manhã. À tarde, Pedro recebe as crianças em um shopping.
Engana-se quem pensa que o trenó voltará para a garagem na virada do ano. A ideia é continuar com os passeios regularmente durante o ano, inclusive no inverno. Afinal, Pedro diz que Papai Noel não tira férias.
Origem pobre motiva Bazanella na RSC-453
A recepção ao trenó de Pedro certamente será tão calorosa quanto os acenos e buzinas que se ouvem na RSC-453. Há três anos, sempre em dezembro, o metalúrgico e aposentado Deoclides José Bazanella, 63 anos, fica na beira da estrada vestido de Papai Noel para dar oportunidade a todos de ver o bom velhinho.
Bazanella permanece sentado embaixo de uma árvore no sentido Caxias do Sul- Farroupilha, das 14h às 18h, sábado e domingo. Com doces custeados pelo salário, o que mais gosta é de presentear crianças. A iniciativa foi motivada pela origem pobre, na cidade de Roca Sales.
- Fui muito pobre quando criança, e meu sonho era abraçar o Papai Noel, mas não havia na minha cidade. Fui conhecer um quando me mudei para Caxias, há 40 anos. A figura do Noel transmite carinho e esperança, por isso quero que todos tenham a oportunidade de vê-lo - explica.
Bazanella permanece sentado embaixo de uma árvore no sentido Caxias do Sul- Farroupilha, das 14h às 18h, sábado e domingo
Foto: Diogo Sallaberry/Agência RBS

Por causa de uma dificuldade na fala, o metalúrgico evita ir para o Centro, por isso prefere ficar na rodovia, onde só para quem quer ver o Noel.
- Já fui muito ridicularizado por lojistas, por isso não trabalho como Papai Noel. Só quero ajudar as criancinhas pobres - lembra.
A cada hora, mais de cinco carros param para tirar fotos com ele. Na maioria das vezes crianças, elas aproveitam para fazer os pedidos de Natal.
- Grande parte dos desejos são coisas simples. Mas teve um que me pediu até um Camaro amarelo - relata.
Pintor e marceneiro nas horas vagas, Bazanella ainda tem um sonho.
- Um dia, quero parar de trabalhar e me dedicar só a confeccionar brinquedos de madeira às crianças carentes.