A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda o aleitamento materno já na primeira hora de vida (iniciando o contato pele a pele), exclusivo e em livre-demanda até o sexto mês, estendido até dois anos ou mais. E essa é a linha seguida pelo Ministério da Saúde e pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).
De acordo com o pediatra Moises Chencinski, a cada dia surgem mais pesquisa que comprovam a importância dessa prática, tão saudável para os recém-nascidos, crianças, jovens, mães, família e toda a sociedade.
-Estudos mostram que o contato pele a pele, logo após o parto, reduz possíveis estresses negativos do parto para o recém-nascido e que ele é exposto às bactérias da mãe, menos agressivas, e contra os quais o colostro já tem proteção. Essas bactérias, juntamente com as que aparecem no parto vaginal, começam a colonização positiva do intestino e da pele do bebê - afirma o especialista.
Sobre esse tema, um trabalho de pesquisadores na Suíça mostrou a importância do aleitamento materno na formação da flora intestinal dos bebês. Dentro do útero, o intestino do feto é estéril e vai criando sua flora bacteriana de acordo com os contatos com o mundo exterior, através, principalmente, da sua alimentação. Crianças em Aleitamento Materno Exclusivo (AME) demonstravam em sua flora "boas bactérias" (Bifidobactérias, entre outras) que estavam presentes no organismo da mãe (em sua flora intestinal) e que foram passadas através do leite materno. Uma boa flora bacteriana, além de ser importante para uma boa digestão, favorece, segundo estudos recentes, o desenvolvimento da imunidade do bebê.
Os mais recentes dados brasileiros apontam para uma média de aleitamento materno exclusivo de 54 dias, sendo que aos seis meses de vida, apenas 9% das crianças estão nessa prática. Além disso, apenas 41% das crianças ainda estão em aleitamento, mesmo que não exclusivo, aos seis meses de idade, longe da meta proposta pela OMS, que é de 90 a 100%.
Um estudo publicado no JAMA - Pediatrics, realizado por pesquisadores da Universidade de Harvard, demonstrou a importância do aleitamento materno no desenvolvimento cognitivo de 1332 crianças, entre três e sete anos de idade, através de métodos de avaliação da linguagem, vocabulário, habilidades motora e visuais.
- As conclusões apontaram para o benefício do aleitamento materno mais prolongado no primeiro ano de vida, promovendo um melhor desenvolvimento da linguagem - diz o médico.
Outro estudo desenvolvido em Israel, na universidade de Tel Aviv e publicado no jornal Breastfeeding Medicine, associou um possível efeito protetor do leite materno em relação ao desenvolvimento do Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH). Foram avaliados os prontuários de crianças entre seis e 12 anos com diagnóstico de TDAH e feitas avaliações em questionários.
- Os resultados mostraram uma menor probabilidade de TDAH em crianças que estavam em aleitamento, entre três e seis meses de vida, quando comparadas a outros grupos sem essa prática. Ainda são necessários mais estudos para que essa constatação seja considerada definitiva, mas ainda assim há grandes indícios dos benefícios do leite materno também nessa área - comenta Chencinski.
Além de todos esses benefícios, o pediatra destaca uma curiosidade entre o leite materno e o colesterol. Do colesterol que temos em nosso organismo, 70% é de produção interna e só 30% vem da dieta ingerida.
- Se formos dosar o colesterol do bebê, ele é alto. Assim, o leite materno é fundamental para que haja uma regulação futura em sua produção. Assim, além de tudo, o aleitamento materno protege contra a hipercolesterolemia, cada vez mais comum em crianças, que é base de muitos problemas cardíacos - alerta o pediatra.