Em uma sociedade em que a junk food reina absoluta, manter a boa alimentação dos filhos se tornou um problema para os pais. Mas com um pouquinho de criatividade e insistência, é possível incluí-los em uma dieta saudável. Nos primeiros meses de vida, nada é mais completo do que o leite materno. Mas, aos poucos, a maçã raspada começa a fazer parte do cardápio, os dentes aparecem e o bebê pode mastigar carnes, legumes, feijão. As palavras surgem, e as demandas sobre o que vai querer no jantar também. A partir daí, o momento de alimentar o pequeno passa não só a ser dividido com o pai, mas também a sofrer intervenções da própria criança.
Para muitas famílias, a felicidade ganha contornos de tormento. Sem querer dizer não - afinal, um refrigerante com sanduíche não vai fazer mal, aquelas balinhas depois do almoço também não -, alimentos nada saudáveis começam a permear as refeições. Verduras e legumes tornam-se vilões e, quando percebem, os pais não sabem mais como fazer com que a prole coma o que, de fato, vai fazer bem a ela.
- Criança pode comer de tudo, mas no momento certo. Mesmo um refrigerante pode ser tomado, mas isso não pode se tornar um hábito.
Quem afirma é alguém que conhece o assunto. Além de ser nutricionista infantil, Erika Berbert é mãe de quatro crianças e sabe bem as dificuldades em tornar o saudável algo rotineiro no prato dos pequenos. Mas esse rigor não pode virar obrigação.
Novas experiências
Comer está entre os atos mais divertidos, e fazer com que os filhos entendam isso os ajuda a conhecer a necessidade de sabores além daqueles lotados de açúcar e gordura. Fundador e diretor do site Funky Lunch (funkylunch.com), criado para dar uma nova experiência em alimentação para as crianças, Mark Northeast afirma que brincar com o alimento é uma das formas mais simples de tentar vencer o excesso de aditivos:
- A tecnologia dos alimentos tem ido tão longe que mais e mais deles têm aditivos. Isso tira o sabor natural, e as crianças crescem sem saber quais são os ingredientes reais.
Assim, explica, o gosto natural não consegue causar mais impacto, e isso as afasta do que não é industrializado. Ao fazer desse momento uma brincadeira, os pais criam bons hábitos. Mark, claro, sabe das dificuldades que a rotina impõe.
- Há muitos pais que ainda escolhem a conveniência quando se trata da alimentação. Estamos todos cada vez mais agitados e isso torna muito fácil oferecer uma refeição simples, que pode não ser tão atraente, mas serve ao propósito de alimentar rapidamente - diz.
Mark, que é pai, assume que, muitas vezes, teve que recorrer à fast-food por pressa.
- As refeições em família devem ser um evento agradável, e não apenas uma rotina. Incentivar as crianças a escolherem o menu e os ingredientes e envolvê-las com o cozimento torna as refeições uma atividade divertida.
Mas o que faz do ato de comer um passatempo? Cada família tenta encontrar sua fórmula. O importante é recorrer ao que, normalmente, faria as crianças revirarem os olhos. Aliás, são eles os primeiros artifícios a serem colocados na comida para que ela fique mais recreativa, garante Mark, criador dos sanduíches espalhados por estas páginas.
- Fiz algumas pesquisas no Facebook, e as imagens que atraíram mais respostas foram aquelas que olhavam de volta para você. As crianças adoram coisas simples. Então, um rosto simples feito de comida vai mantê-las impressionadas à mesa.
A diversão, contudo, não deve desviar jamais o foco da saúde.
Conhecendo novos sabores
A nutricionista Erika Berbert explica que há como definir, de forma bem simples, uma grade alimentar para a infância: duas porções de leite por dia - seja um copo de leite e um de iogurte ou dois copos de leite -, arroz e feijão pelo menos uma vez ao dia, no mínimo três frutas diárias, um prato de sobremesa de salada mista e um tipo de carne - vermelha, peixe ou frango.
- Se ela fizer pelo menos uma vez ao dia uma refeição completa, com arroz, feijão, carne e salada, já vai garantir uma grande parte dos bons hábitos de que precisa.
A especialista defende que, muito mais que entretenimento, os pequenos precisam conhecer o que ingerem. E o esforço dos pais se faz ainda mais urgente nesse aspecto:
- O que faço é estimular as crianças a terem interesse por frutas e verduras. Fazemos compras no supermercado juntos e eles me ajudam a definir o que vai para o carrinho, aprendendo a escolher quais estão maduros. Faço isso para integrá-los a esse momento.
A cozinha como um espaço de integração familiar
Essa integração ajuda elas a perderem o sentimento de repulsa pelo que desconhecem. Ou seja, nada de dizer "eca!". Principalmente quando estão na sala da professora de gastronomia Marcela Ferro. Ela dá aulas em uma escola de Brasília que oferece a disciplina para crianças e jovens. E garante: quando se veem rodeadas dos colegas, elas experimentam de tudo.
- Conhecer novos sabores é uma das combinações que tenho com meus alunos. Criam uma ligação entre si e vão provando sempre que o outro fala que está gostoso.
Desde a primeira aula, reforçamos com eles as ideias de aprender a ter outra visão sobre os alimentos, respeitá-los e não desperdiçá-los. Respeitando a comida, garante Marcela, as possibilidades do cardápio aumentam, bem como a sociabilidade. Para a professora, é dessa forma que os pais devem encarar a cozinha em casa: um espaço que permita que todos possam interagir. Assim, a comida se torna também uma fonte de aprendizado.
Na ânsia de conseguir que os filhos comam de forma mais saudável, muitos pais ficam assustados com qualquer alteração no peso deles. A nutricionista Erika garante que esse referencial é um aspecto supervalorizado. Exceto em casos extremos, a faixa de quilos que uma criança deve ter é, de certa forma, elástica e nem sempre isso reflete algum problema de saúde.