Existe um exército que trabalha quase que anonimamente no Hospital Pompéia. Não são eles que fazem partos, atendem acidentados ou cuidam dos doentes nos leitos da instituição, mas sua tarefa diária é tão importante que o hospital pararia se eles não existissem.
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para os 100 anos do Hospital Pompéia
São as higienizadoras, pessoal da lavanderia, cozinha e da manutenção, um conjunto que forma o chamado serviço de apoio do Pompéia. O grupo mais numeroso é o das higienizadoras: 85 mulheres. Juntas, elas garantem a limpeza completa de leitos, banheiros, corredores, salas de cirurgia, elevadores, setor administrativo, enfim, todas as alas do Pompéia.
Para se ter uma ideia, esse pequeno batalhão mantém o asseio diário em 17.250 metros quadrados. E haja material de limpeza. Por mês, são gastos 638 panos de limpeza, 537 litros de desinfetante, 1.237 litros de hipoclorito (água sanitária), 389 pares de luvas, 2 mil litros de álcool e 38,7 mil sacos de lixo.
Além disso, o hospital, incluindo funcionários, pacientes e visitantes, consome cerca de 8 mil rolos de papel higiênico, 640 litros de sabonete líquido e mil pacotes de papel toalha, essenciais para a higienização de mãos, a porta de entrada das infecções hospitalares. Uma das mais antigas higienizadoras do Pompéia é Maria Terezinha Pretto Paim, 56 anos, que tem 22 anos de casa. Desde 2008, ela passou a trabalhar à noite, das 19h às 7h, dia sim, dia não.
Dividindo-se entre o centro obstétrico, bloco cirúrgico, sala de recuperação e central de materiais e esterilização, ela limpa o chão, paredes, salas de cirurgia, arruma as camas, armários, recolhe o lixo...
- Eu passei a trabalhar à noite para poder ficar mais tempo com a minha mãe, que é cadeirante e precisa de atenção. De noite tem até mais serviço do que de dia, mas eu adoro o que eu faço - explica.
Com quatro filhos e quatro netos, Maria Terezinha é falante e está sempre animada. Mas ela acredita que sua paciência seja o fato decisivo para permanecer tanto tempo na função:
- Sou uma pessoa muito calma, não gosto de fofoca, não perco tempo com bobagem. Acho que é por isso que nunca um chefe me chamou a atenção. Procuro fazer sempre o melhor no meu trabalho, reviso para ver se ficou bem feito e me coloco no lugar do paciente, faço de conta que é um familiar meu que está ali. Então, procuro dar o meu melhor para o bem estar dele - resume a higienizadora.
O exemplo de Maria Terezinha, no entanto, não é comum no hospital. Conforme a encarregada da higienização, Gislaine Lemunie, o rotatividade é bem alta no setor. O principal motivo são os horários: quem trabalha em hospital não tem finais de semana livres. Além disso, acrescentam-se as peculiaridades de se trabalhar em uma instituição de saúde.
- Elas têm um contato próximo com os pacientes que passam por cirurgia, com pessoas que estão sofrendo alguma doença grave, ou mesmo com o óbito. Elas encontram todo o tipo de situação aqui dentro e nem sempre a parte emocional delas está pronta para lidar com isso. Eu sempre digo que só fica trabalhando no hospital quem ama muito o que faz - analisa Gislaine.
Roupa suja
A lavanderia do Hospital Pompéia também é outro setor indispensável. É por lá que passam não somente as peças que tiveram contato com o paciente, como camisolas, lençóis, cobertores, toalhas, como também roupas usadas pelos funcionários, como jalecos, calças, aventais, protetores para os pés, e materiais para cirurgias como os campos (panos que isolam o lugar da operação), compressas...
Por dia, os 32 funcionários da lavanderia lavam, passam e dobram uma média de 2,8 toneladas de roupa. Em três máquinas com capacidade para 50 e 100 quilos, as peças são separadas por tipo e sujeira e passam por um processo de limpeza com produtos químicos e água quente. O processo pode levar entre 24 minutos e uma hora e 20 minutos. Depois, ainda manualmente, em uma sala separada, as roupas molhadas vão para a secadora.
Uma vez secas, as peças são dobradas uma por uma. Lençóis e campos ainda passam por uma máquina chamada calhandra, que faz a passagem. Não existe um levantamento exato de quantas peças de roupa existam no enxoval do Pompéia, mas alguns números podem dar uma ideia.
Por exemplo: cada leito do hospital (no total, são 301) conta com pelo menos quatro jogos de lençóis e um cobertor. Nos leitos de UTI, podem ser usados cerca de 10 lençóis a cada três horas, já que na maior parte das vezes o paciente precisa utilizar fralda descartável. Além disso, para cada uma das cerca de 1,2 mil cirurgias realizadas na instituição, são usados pelo menos um kit composto de 10 campos (que têm tamanhos variáveis conforme o tipo de cirurgia, mas podem chegar a 2,10mx,1,80m), três aventais para médicos e instrumentador, além de três compressas.
E de onde vem tudo o que é usado pelo hospital? Do próprio hospital, mais precisamente de um setor anexo à lavanderia, onde trabalham três costureiras. De segunda a sexta-feira, elas confeccionam uma média de 280 novas peças e cerzem outras 2,2 mil que necessitam de pequenos reparos. O que não serve mais, por estar muito puído ou rasgado, é destruído.
Barriga cheia
Como diz o ditado, saco vazio não para em pé. Só que no caso do Pompéia, tudo o que se refere a comida é grande. Por dia, as 20 cozinheiras produzem em torno de uma tonelada de comida, que é servida aos pacientes e ao contingente de 1,3 mil funcionários até seis vezes por dia (café, lanche da manhã, almoço, lanche da tarde, jantar e ceia, esta última só para os pacientes).
A lida começa muito cedo. Por volta de 4h, as cozinheiras já estão preparando o café. Por dia, são 1,4 mil litros de café, 285 litros de leite, 60 pacotes de pão fatiado, 400 pães sem sal e 500 cacetinhos. Às 7h, estão pensando no almoço. São cerca de sete cardápios diferentes, distribuídos em 150 dietas especiais (sem sal, sem fibra, só líquida, pastosa...) e 150 dietas normais, que chegam aos pacientes por volta de 11h aos leitos por meio do pessoal da copa - 38 no total.
No restaurante do Pompéia, que funciona no subsolo, a refeição do meio-dia, que eventualmente tem até feijoada, alimenta entre 500 e 600 colaboradores. Sobre o fama de a comida de hospital, em geral, ser sem graça, a técnica em nutrição Simone Mignoni, que é supervisora de produção na cozinha, analisa:
- Nós não podemos usar condimentos artificiais na comida do paciente, como caldo de galinha ou pimenta, por exemplo. Assim, para dar algum gostinho no prato, preferimos temperos como manjericão, salsinha... Além disso, nem são servidas frituras ou carnes fortes, como porco. Há bem pouco tempo passamos a oferecer peixe porque achamos uma variedade que não tem nenhuma espinha. São fatores que restringem um pouco o cardápio, mas eu arrisco a dizer que a nossa comida é melhor do que a de muitos restaurantes lá fora.
Manutenção
Se a turma da higienização é formada essencialmente por mulheres, na manutenção reinam os homens. São 34 pessoas, responsáveis pelos mais diversos serviços, desde construção civil até benfeitorias no prédio. O chuveiro do quarto estragou, chama a manutenção. A pia entupiu? A cadeira quebrou? Chama a manutenção. Para isso, conforme o encarregado do setor, Lino Barbosa Junior, a equipe conta com todo tipo de profissional: encanadores, eletricistas, gesseiros, pedreiros e serventes.
- A gente não faz nada de extraordinário. Só cuidamos bem do hospital - diz Barbosa Junior, cheio de modéstia.
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