Faltando poucos minutos para as 16h, a sineta da capela do Hospital Pompéia começa a badalar. O toque é um chamamento aos fiéis, um alerta de que a missa está prestes a começar. Dentro da pequena sacristia, padre Claudio José Pezzoli, 53 anos, veste o amito, a túnica e põe a estola sobre os ombros. Confere a lista dos pedidos de intenção de missa, recebe recados dos voluntários da Pastoral da Saúde.
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para os 100 anos do Hospital Pompéia
Lá fora, no altar, tudo está pronto para a celebração. Encerrada a missa, o capelão corre para mais um de seus muitos compromissos diários: visita e distribuição do sacramento aos doentes, celebração de missas na Igreja do Pio X e no Hospital Saúde, recepção de seminaristas, reuniões da pastoral, do Pio Sodalício...
Com tantas tarefas, não é difícil encontrar padre Cláudio sempre andando ligeiro pelo corredores. Mais novo de uma família de seis irmãos, o religioso também é filho do Pompéia. Nasceu na instituição quando ainda era costume as crianças serem paridas em casa, sob o olhar das parteiras. Foi o único dos Pezzoli a seguir a vida religiosa. Despertou para a vocação com os padres josefinos, quando estudou no colégio Murialdo, em Ana Rech. Formou-se em Filosofia, Teologia e fez mestrado em Missiologia por dois anos na Itália. Foi ordenado padre em 1985, trabalhou em Farroupilha e foi missionário na Bahia.
A ligação com o hospital, porém, nunca foi cortada. Em 1978, quando estudava no Seminário São José, Cláudio procurava emprego. Fez um curso de atendente em enfermagem durante um mês e, ao passar em frente ao Pompéia, pensou: "por que não aqui?". Nos dois anos e meio seguintes, o futuro padre era visto no pronto-socorro, fazendo curativos, aplicando injeção aos doentes, auxiliando os médicos em pequenos procedimentos cirúrgicos, conferindo materiais e até resolvendo alguma burocracia na papelada dos pacientes.
- Era uma correria danada porque à noite havia bem menos gente trabalhando. A gente se desdobravam em muitos para atender aos pacientes que chegavam. Mas foi um período muito bom, aprendi muito trabalhando no pronto-socorro. Aprendi ainda mais o valor que tem uma vida. A maior parte dos pacientes nem sonhava que eu era seminarista. Depois de mim, também vieram o Juarez Bavaresco e o Sebastião Vargas, na enfermagem, e o Jadir Dagnese, que atuava na portaria. Todos foram ex-funcionários Pompéia e hoje são padres - conta.
Já ordenado, Pezzoli substituiu os padres Brandalise e Valeta na capela do hospital por três anos e meio, entre 1995 e 1998. Em seguida, partiu para a Chapada Diamantina, na Bahia, onde trabalhou como missionário. Em comunidades pobres do sertão, celebrou missas, organizou pastorais, ajudou a promover os cuidados com a saúde da população e, é claro, animou os fiéis.
Voltou ao Pompéia em janeiro de 2009, assumindo definitivamente o posto de capelão. Por suas atividades, também faz do hospital uma de suas moradias. Quando não está lá, fica na casa da mãe, dona Leda Tartati Pezzoli, 90 anos. Além de zelar pela saúde dela, padre Cláudio também se aventura no jardim, onde gosta de ver os canteiros sempre floridos. Quando pergunto a ele o que mais gosta no Pompéia, o religioso compara:
- Nenhuma fábrica ou empresa tem o espírito de família que o Hospital Pompéia tem. As pessoas se interessam pelos outros, mantém uma relação afetiva com a instituição.
Com a bagagem de quem testemunha todos os dias as mazelas da saúde, o sacerdote sonha com melhorias para a instituição: mais recursos para ampliar o atendimento aos pacientes pobres e mais profissionais com vocação para trabalhar na área de saúde. E por querer ver o hospital seguindo a caminhada do bem que já dura 100 anos, a cada celebração que se inicia, padre Cláudio também pede a Nossa Senhora do Rosário de Pompéia que interceda pelo seu protegido e pelos doentes que ali se recuperam.
Religião
100 anos do Pompéia: antes de se tornar capelão, padre trabalhou como atendente em enfermagem no hospital
Claudio José Pezzoli despertou para a vocação com os padres josefinos, quando estudou no colégio Murialdo, em Ana Rech
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