- Logo que chegamos ao hospital, assistimos a uma missa e todos falavam muito do Pio Sodalício. E nós nos olhávamos e pensávamos: "mas onde está esse tal de Pio que nunca aparece? Quem será esse homem?". Só depois é que descobrimos que o "tal do Pio" não era uma pessoa, mas a entidade mantenedora do Hospital Pompéia - recorda, aos risos, irmã Cacilda Sonego, 76 anos.
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para os 100 anos do Hospital Pompéia
A religiosa, natural de Restinga Seca, na região Central do Estado, e pertencente à Congregação das Irmãs de Maria de Schoenstatt, chegou a Caxias do Sul em janeiro de 1982 junto com outras seis colegas, todas com formação na área de saúde.
- Lembro que a mãe do bispo (dona Paulina Moretto) e o administrador da época (Alfredo Longhi) foram até Santa Maria pedir para que fôssemos trabalhar no hospital. Já fazia anos que as outras irmãs (da Congregação das Irmãs de São José) tinham ido embora. Quando chegamos, fomos morar dentro do hospital mesmo, no 9º andar, onde hoje é a administração. Chegamos de tarde e no dia seguinte, uma enfermeira trouxe café e pão para nós. Foi assim que começou o nosso primeiro dia de trabalho lá - recorda Cacilda.
No vídeo abaixo, as lembranças da religiosa:
De acordo com ela, cada religiosa que tinha curso técnico em enfermagem ficou em uma ala diferente. A irmã que era enfermeira formada supervisionava a ala nova. A estreia de Cacilda no Pompéia foi no setor 500, onde havia a clínica cirúrgica. Depois, a religiosa passou para o setor da pediatria, no 8º andar, e logo em seguida, na maternidade.
- Depois que me formei enfermeira, em 1989, pedi para ir para a parte antiga, que atendida os pacientes do SUS. Eu gosto muito da enfermagem, de cuidar do paciente como um todo. Não apenas a parte física, mas também a parte espiritual. Muitos diziam: a gente sente a diferença quando são vocês que atendem. Mas a religiosa tem de ser mais dedicada, né? - opina.
Logo que as irmãs chegaram, comenta Cacilda, o Pompéia enfrentava graves problemas financeiros.
- O hospital era bem pobre, não tinha recursos para quase nada. A gente via aqueles pobres, naquelas camas, sem roupa, sem nada...Depois que a Sociedade Beneficente Dom Camilo assumiu, deu para perceber a diferença em pouco tempo. Foram feitas reformas, construíram prédios...Quem te viu, quem te vê - recorda a irmã.
Depois de uns seis anos vivendo dentro do hospital, as irmãs mudaram para um apartamento.
- Era muito sofrido ficar o dia inteiro lá dentro. A gente subia e descia no elevador e só encontrava pessoas doentes - conta.
E não foram poucas as histórias tristes que ela testemunhou:
- O que mais marcou foi a morte de uma mãe que tinha 12 filhos pequenos. Eles estavam todos em volta da cama quando ela parou de respirar. Nunca vou esquecer a cena das crianças se jogando em cima da cama da mãe. Não teve quem não chorou naquele dia. A gente vê muita coisa triste no hospital. Agora há pouco, com essa tragédia em Santa Maria (ela mora atualmente no Centro Mariano, casa da Congregação das Irmãs de Maria de Schoenstatt), revivi muitas histórias que vi no Pompéia - revela Cacilda.
Para espantar a tristeza e tornar o ambiente mais ameno para os funcionários, as irmãs não deixavam de lembrar datas festivas, como o Natal e a Páscoa, enfeitando os corredores ou encenando o presépio. Além disso, preparavam a liturgia da missa, distribuíam a comunhão aos doentes e cuidavam da formação humana e religiosas de que trabalhava na instituição.
Onze anos após desembarcar em Caxias do Sul, Cacilda foi transferida para Santa Vitória do Palmar, no Sul do Estado, onde trabalhou por um ano em um pequeno hospital. Assim, que pôde, retornou a Caxias e ficou mais 15 anos no Pompéia, de onde só saiu em 2011.
- Para nós, o paciente sempre foi o mesmo, pobre ou rico. É preciso cuidar dele da mesma forma. E eu gostava de cuidar das pessoas que estão ali, indefesas, dependendo da gente. Sempre dizia para as funcionárias: "vocês têm de cuidar deles como vocês gostariam de ser tratadas, como se estivessem no lugar deles. As pessoas precisam de atenção. Às vezes eu encontrava uma pessoa e ela dizia: " irmã, a senhora cuidou de mim". E ficava orgulhosa em ouvir isso - lembra.
Nas ruas, Cacilda também lembra de ouvir os caxienses referirem-se a elas como as irmãs alemãs, em função do fundador da congregação, padre Josef Kentenich, ser alemão:
- Eles falavam: "varda le mônegue alemani" (olha as freiras alemãs). Eu entendia o que eles diziam e respondia também no dialeto. E eles falavam "nostra gente!" porque eu também sou descendente de italianos - brinca Cacilda.
Mais de 20 anos de trabalho
100 anos do Hospital Pompéia: irmã Cacilda Sonego chegou à instituição em 1982
A estreia de Cacilda no Pompéia foi no setor 500, onde havia a clínica cirúrgica
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