Foi em uma conversa pelas redes sociais que três jovens iniciaram a organização de um manifesto assim que ficaram sabendo da possibilidade de o deputado federal Pastor Marco Feliciano participar de um roteiro religioso na Serra em Caxias do Sul e Bento Gonçalves.
Por meio de um evento criado no facebook, o artista plástico Rafael Henrique Dambros, 29 anos, o estudante Sérgio Luiz Maciel Filho, 27, e a designer gráfico Laine Cavalli Barcarol, 25, começaram a reunir pessoas que, como eles, são contrárias às posições expressas pelo presidente da Comissão dos Direitos Humanos e das Minorias da Câmara Federal.
Na página, há 500 confirmações de presença, embora, na noite de ontem, a vinda de Marco Feliciano à região estivesse praticamente descartada pelos organizadores. O partido, receoso de novas manifestações ostensivas, está tratando com cautela e cuidado da agenda do deputado. Mesmo assim, os organizadores mantinham os preparativos.
- Se vier metade das pessoas que confirmaram, já temos um número bem interessante de manifestantes - diz Dambros, que já participou de outros protestos pelo Brasil, como a Marcha pela Liberdade e a Marcha das Vadias, no Rio.
Inicialmente, a manifestação previa uma vigília silenciosa e com velas, mas ela evoluiu conforme as opiniões daqueles que passaram a integrar o protesto pacífico, batizado de "Vigília pelos direitos humanos".
Sugestões não faltaram: houve quem iniciasse a discussão das cores das velas da vigília, de pernas de pau e grupos de teatro para chamar a atenção e também de um beijo homossexual.
Confirmada, ficaram a confecção de cartazes e camisetas, a participação de grupos de capoeira e candomblé e um casamento homossexual simbólico. De acordo com a organização, as ações foram decididas democraticamente em discussões do próprio grupo no facebook.
Embora previsto para ocorrer em frente à igreja Unção, Fogo e Glória, no bairro Marechal Floriano, eles garantem que o protesto não é contra a religião e que pretendem respeitar o horário de culto.
- Será em frente à igreja porque é o único local divulgado onde está confirmada a presença dele. Não somos contra os evangélicos ou contra o fato de ele ser pastor. O que nos incomoda é o fato de ele presidir uma comissão dos direitos humanos e minorias e fazer declarações que são justamente contra aqueles que ele deveria defender, pelo cargo que ocupa. Somos a favor dos direitos humanos - explicam.
Na sexta-feira, integrantes do "Vigília pelos Direitos Humanos" programam reunir-se às 17h30min no Parque Cinquentenário para a confecção de cartazes. Às 18h30min, eles se dirigem para a Igreja Unção Fogo e Glória, na Rua Bento Gonçalves, bairro Marechal Floriano, caso esteja confirmada a vinda do deputado.
Em Bento Gonçalves, uma manifestação está programada para as 18h de amanhã, na pracinha entre os bairros Progresso e Universitário. O protesto pacífico, também organizado pelas redes sociais, tem 300 pessoas confirmadas. Se Marco Feliciano estiver na cidade, ele avança ao encontro do deputado. A expectativa era de que Feliciano inaugurasse na cidade uma sede da Catedral do Avivamento
A POLÊMICA
Publicações feitas em 2011 no Twitter do deputado Marco Feliciano despertaram a rejeição à sua eleição à frente da Comissão dos Direitos Humanos e das Minorias. As declarações polêmicas consistem em frases como: "Sobre o continente africano repousa a maldição do paganismo, ocultismo, misérias, doenças oriundas de lá: ebola, Aids, fome" e "a podridão dos sentimentos dos homoafetivos leva ao ódio, ao crime e à rejeição".
Em um artigo, Feliciano justifica seu comentário da seguinte forma: "Tudo teve início quando postei na internet que os africanos são descendentes de um ancestral amaldiçoado por Noé. Referia-me a uma citação bíblica, segundo a qual o filho de Noé, após ser amaldiçoado pelo pai, foi mandado para a África. A maldição foi quebrada com o advento de Jesus, que derramou seu sangue para nos salvar."
Mais recentemente, tem repercutido na internet vídeos com imagens de um culto religioso em que o pastor "justifica" a morte de artistas como John Lennon e dos integrantes do grupo Mamonas Assassinas. Embora postados no último domingo, as imagens são mais antigas. Em uma delas, Marco Feliciano lembra a frase do ex-Beatle Lennon de que a banda era mais famosa do que Jesus Cristo: "A minha Bíblia diz que Deus não recebe esse tipo de afronta e fica impune..."