Não é missão difícil constatar algumas das principais feridas no ensino médio público. Professores com baixos salários, estudantes sem estímulo e família ausente. Em Caxias do Sul, essas três lacunas estão na ponta da língua de alunos, professores e pais.
Os três aspectos ajudam a explicar o retrocesso gaúcho no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), divulgado pelo Ministério da Educação na semana passada. O Rio Grande do Sul permanece no vermelho: baixou a nota de 3,9 (2007) para 3,7 (2011). A meta era 4.
A complexidade da educação não se resume a tais apontamentos, mas o trio salário-desestímulo-família salta aos olhos. O diretor geral do 1º Núcleo do Centro dos Professores do Estado do RS (CPERS/Sindicato) e vice-diretor do turno da noite no Instituto Estadual de Educação Cristóvão de Mendoza, Antônio José Staudt, expõe a aflição dos colegas:
- Ganhando pouco, o professor acaba tendo de aumentar a carga horária. Aí, sobra menos tempo para a formação. Paralelamente, surge a desmotivação.
O 1º Núcleo do Cpers reivindica ao governo estadual o cumprimento da lei que estabelece o piso nacional de R$ 1.451 para 40 horas/semanais e maior tempo para o professor planejar as aulas. Um docente com magistério ingressa na rede estadual ganhando o piso de R$ 434,45, por 20 horas semanais. Quanto às horas-atividade, o pedido é ampliar de cinco para sete.
Mas não adianta o professor ganhar mais e com tempo para organizar suas ações se o aluno não comparece. Aí entra a importância do incentivo da família, que, muitas vezes, não aparece no colégio para ver como o filho está ou para prestigiar eventos e produções pedagógicas.
_ Alguns pais acham que, por estarmos no ensino médio, podemos andar com as próprias pernas. Nós precisamos de ajuda e de diálogo, sim. Se os pais não nos incentivarem, quem fará isso? _ questiona Sabrina Rhaíssa Santos, 16 anos.
Sabrina é do 1º ano do ensino médio da Escola Estadual Alexandre Zattera, no Desvio Rizzo, onde também estuda Camila Savi, 15. A respeito do currículo do ensino politécnico, implantado no colégio, ela opina:
- Nos seminários integrados, íamos trabalhar uma autobiografia. Depois, houve mudança de enfoque para o tema comunidade. Penso que seria melhor o primeiro, pois tem mais a ver com a gente.
Por e-mail, a coordenadora Pedagógica da 4ª Coordenadoria Regional Educação (CRE), Sônia Inês Ferronatto, destaca que os motivos apontados pelos professores e alunos revelam a realidade de quem está na ponta do processo e são alvo da proposta de reestruturação curricular (o novo ensino médio politécnico que está sendo viabilizado pelo Estado, numa perspectiva mais integradora e em busca de melhorias nessa etapa de estudos). Eles são cíclicos e interligados: a falta e a rotatividade de professores certamente estão relacionadas ao salário".
Conforme Sônia, "infelizmente", no Brasil, educação não é prioridade, mas deveria ser: "quando olharmos para a educação e cuidarmos para que a formação do sujeito seja qualificada dos anos iniciais até a graduação, certamente, teremos não só números melhores, mas profissionais mais qualificados em todas as áreas".
Leia mais na edição impressa do Pioneiro desta segunda-feira.