O depoimento de Lucas Eduardo Macedo dos Reis, 22 anos, envolvido nas mortes do ex-patrão e de dois adolescentes em Caxias do Sul, avançou durante a madrugada de sábado na Delegacia de Furtos, Roubos, Entorpecentes e Capturas (Defrec).
Corpos foram retirados de barranco
na sexta. Foto: Juan Barbosa
O jovem detalhou como aconteceram os assassinatos, a desova dos cadáveres e os possíveis motivos para o crime. A Polícia Civil espera prender nas próximas horas o segundo suspeito de participação no triplo assassinato, que está foragido.
Segundo a versão de Reis, o empresário Gilson Hilman Fernandes, 44 anos, seu filho Vinicius, 14, e o amigo da família, Germano Ioris de Oliveira, 13, foram asfixiados até a morte na noite de terça-feira em uma moradia na comunidade de São Luiz da 6ª Légua, região do bairro Cruzeiro.
O alvo dos criminosos era o empresário. Ou seja, os adolescentes só foram assassinados porque conheciam os autores. Reis e o outro suspeito foragido eram ex-funcionários de Fernandes, dono de uma empresa especializada na venda e instalação de sistemas de refrigeração em São Luiz da 6ª Légua.
O caso começou a ser desvendado na tarde de sexta-feira pelo serviço de inteligência da Brigada Militar (BM). Preso, Reis admitiu a co-autoria dos assassinatos, revelou o envolvimento do amigo com o qual dividia um apartamento no bairro De Zorzi e indicou aos policiais militares onde os corpos das vítimas foram jogados: um lixão clandestino em um penhasco no Distrito de Santa Lúcia do Piaí, interior de Caxias do Sul.
A BM também recuperou os objetos roubados das vítimas. De acordo com a delegada Suely Rech, que interrogou Reis, o crime teria sido premeditado. O rapaz relatou que ele e o colega chegaram a pé na moradia por volta das 20h30min de terça-feira.
Naquele momento, somente Vinicius e o amigo Germano estavam em casa, brincando. Fernandes participava de um jogo de vôlei com amigos em uma quadra no bairro Bela Vista. Para entrar na residência, os ex-funcionários disseram para Vinicius que precisavam falar com o pai dele. Justificaram, inclusive, que haviam sido chamados pelo empresário e deveriam aguardar. Como conhecia Reis e o outro suspeito, Vinicius liberou o acesso. A dupla permaneceu na casa até a chegada de Fernandes.
Enquanto os adolescentes ficaram na moradia comendo pizza, o empresário seguiu com a dupla até o escritório da empresa, que fica ao lado. Lá, após alguns minutos de conversa sobre débitos trabalhistas, Fernandes teria se desentendido com a dupla. Ele levou um soco no peito e caiu no chão. Em seguida, foi enforcado com a camiseta de Reis.
Posteriormente, os criminosos chamaram Vinicius alegando que o pai gostaria de conversar com ele. Quando o adolescente subia as escadas, recebeu um golpe de gravata no pescoço e foi asfixiado. Dali, os comparsas desceram ao salão de festas, onde estava Germano. Reis sufocou o menino com as mãos.
Após as mortes, a dupla colocou os corpos em sacos plásticos e seguiu para o lixão de Santa Lúcia do Piaí, distante cerca de 14 quilômetros da moradia. Para isso, eles usaram um utiliário Kangoo, pertencente a Fernandes. O veículo também foi usado para transportar as mercadorias roubadas até o apartamento dos amigos, no bairro De Zorzi.
Conforme a delegada Suely, o suspeito foragido já planejava assaltar a moradia há mais tempo. Entretanto, ele e Reis foram demitidos semanas antes do triplo assassinato porque Fernandes descobriu que a dupla e um terceiro funcionário (sem envolvimento no crime) pretendiam abrir uma empresa concorrente.
- Tudo se somou. O plano de furtar objetos da casa e a demora do empresário em pagar parte do FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço) para o foragido, o que acabou culminando no crime. Acreditamos que o crime foi planejado com antecedência porque a dupla já sabia onde esconder os corpos - conta a delegada.
Reis está preso preventivamente. A prisão do outro suspeito já foi solicitada pela Polícia Civil. Bombeiros resgataram os cadáveres no final da noite de sexta-feira.
ENTENDA O CASO
25 de janeiro de 2012, quarta-feira
:: Na manhã de quarta-feira, a Brigada Militar e a Polícia Civilcomeçam as buscas ao empresário Gilson Fernandes, 44 anos, ao filho dele, Vinicius, 14, e ao amigo do garoto, Germano Ioris de Oliveira, 13. Os três foram vistos pela última vez na noite de terça-feira. Desde então, não mantiveram mais contato com amigos ou familiares. Funcionários da empresa de Fernandes decidem arrombar os portões da casa e da empresa, em São Luiz da 6ª Légua, região do bairro Cruzeiro, e encontram os móveis da residência e da empresa revirados. O utilitário Kangoo é encontrado no final da tarde no bairro Jardim América.
26 de janeiro de 2012, quinta-feira
:: A Brigada Militar e a Polícia Civil concentram as buscas no interior de Caxias do Sul. Nada é encontrado na quinta-feira. Agentes de todas as delegacias de Caxias auxiliam nas buscas.
27 de janeiro de 2012, sexta-feira
:: Familiares, amigos e conhecidos se mobilizam nas redes socias compartilhando informações e fotos para ajudar na localização do empresário e dos dois adolescentes.
:: No final da tarde, a Brigada Militar localiza os três corposem um lixão clandestino no interior, em Santa Lúcia do Piaí, a cerca de 14 quilômetros da moradia do empresário.
:: Preso como suspeito na tarde de sexta-feira, Lucas Eduardo Macedo dos Reis, 22, ex-funcionário de Fernandes,é levado até a Delegacia de Furtos, Roubos, Entorpecentes e Capturas para prestar depoimento. Na casa dele, a polícia encontra um tênis sujo de sangue e objetos roubados da casa do empresário.
:: Preso, Reis admite a co-autoria dos assassinatos, revela o envolvimento de um amigo com o qual dividia um apartamento no bairro De Zorzi e indica aos policiais militares onde os corpos das vítimas foram jogados. Segundo a versão dele em depoimento, o empresário e os adolescentes foram asfixiados até a morte na noite de terça na moradia de Fernandes.
:: Retirados na noite de sexta-feira do local onde foram atirados, os corpos são levados para o Departamento Médico Legal (DML).
28 de janeiro, sábado
:: Com os corpos liberados do DML, os velórios de pai e filho e do adolescente amigo da família começam na tarde de sábado.
:: No velório de Germano Ioris de Oliveira colegas de escolaprestam homenagem ao garoto, rezando e lendo mensagens de apoio aos familiares. O corpo dele é cremado no Crematório São José.
:: Na comunidade de São Luiz da 6ª Légua, o pai Gilson Fernandes e o filho Vinicius são velados juntos na igreja. Dezenas de amigos, parentes e moradores da comunidade comparecem ao velório e fazem orações. Os corpos são enterrados no cemitério da comunidade.
:: A Polícia agora está em busca do suspeito que seria o mentor do caso, que permanece foragido. Ele está com a prisão preventiva decretada pela Justiça
29 de janeiro, domingo
:: Em depoimento ainda na sexta-feira, Lucas Eduardo Macedo dos Reis revela que ele e o amigo, que está foragido, queriam incriminar outras pessoas, abandonado o Kangoo em um bairro distante de onde aconteceu o crime e espalhando documentos de outros funcionários de Fernandes com alguns objetos tirados da casa, para comprometê-los e despistar a polícia.
30 de janeiro, segunda-feira
:: Luciano Dickel Boles, 31 anos, apontado como mentor do triplo homicídio é preso em Santa Maria. Ele teve a prisão preventiva decretada pela Justiça depois que o comparsa dele, Lucas Eduardo Macedo dos Reis, 22, confessou o crime e indicou onde os corpos das vítimas foram jogados.
31 de janeiro, terça-feira
:: Boles chega a Caxias do Sul na madrugada para prestar depoimento. Há quase um ano, ele saía da pequena Dezesseis de Novembro, perto de São Luiz Gonzaga, nas Missões. A convite do empresário, se instalou em Caxias para trabalhar echegou a morar ao lado da casa de Fernandes por seis meses.