Uma das primeiras estratégias dos advogados de defesa de réus que respondem a processo pela morte do vice-presidente do Conselho Regional de Medicina (Cremers), Marco Antonio Becker, é contestar elementos qualificados como provas técnicas arrolados pela Polícia Civil e endossados pelo Ministério Público.
O alvo inicial é a motocicleta Falcon 400 cilindradas, prata, 2008, placa IOQ-5635, apreendida como sendo o veículo usado por bandidos na noite de 4 de dezembro de 2008, na saída de um restaurante no bairro Floresta, em Porto Alegre, para tirar a vida do líder da classe médica.
Alexandre Maziero, um dos defensores do andrologista cassado Bayard Olle Fischer Santos, acusado de ser o mandante do crime, levanta suspeitas de que o veículo da dupla que executou Becker poderia ser de qualquer outro modelo, até mesmo uma Tornado, cujo porte é semelhante, mas com menor potência.
- A Justiça já nos autorizou a nomear peritos para avaliar o que foi apresentado como prova técnica. A filmagem feita da moto e fotos extraídas dessa filmagem não permitem identificar o veículo. Tudo será submetido a perícia, inclusive gravações. Posso garantir que a investigação não tem provas contra Bayard - afirma Maziero, esperançoso que exames esclareçam sua dúvida e demonstrem fragilidades no processo.
Entre os testes possíveis, um deles é a confrontação de fotos da moto apreendida com imagens gravadas por uma câmera de vigilância de uma empresa que gravou a passagem dos criminosos, momentos antes e depois do crime na Rua Ramiro Barcelos.
Um dos acusados pelo crime seria o proprietário do veículo
Uma perícia já teria comprovado que a Falcon aprendida seria o veículo usado no crime. Haveria, também, o testemunho de um pessoa que passava pela Ramiro Barcelos e teria reconhecido a Falcon, uma das motos mais roubadas no país, preferida por criminosos por ter bom desempenho na cidade e agilidade em terrenos irregulares ou em ruas esburacadas.
- Afirmamos que a moto apreendida é a usada no crime com base no contexto investigatório - diz o delegado Ranolfo Vieira Junior, diretor do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic).
Segundo o inquérito policial, logo após o crime, os matadores esconderam a Falcon apreendida na Vila Campo da Tuca, onde moraria a dona da moto, Tatiana Câmara, irmã de Michael Noroaldo Garcia Câmara, o Tocha, acusado de ser o piloto que levou o matador de Becker na carona.
Em uma conversa telefônica grampeada pela polícia cerca de quatro meses após o crime, uma pessoa ligada a Tocha teria dito que o caso seria arquivado e estava na hora de "mexer" no veículo. Na mesma época, a moto foi transferida para terceiros.
Conforme a denúncia do Ministério Público, Tocha era o verdadeiro dono da Falcon, e, apesar de declarar em depoimento que não sabia dirigir, a polícia reuniu documentos que comprovariam que ele trabalhou como motoboy e se envolveu em acidentes de trânsito ao conduzir a mesma Falcon apreendida.
- Acho que essa questão da moto mostra que a defesa está em dificuldades, se prendendo em questões irrelevantes. As escutas telefônicas e as trocas de mensagens são fundamentais - afirma o promotor Eugênio Amorim.
Geral
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Advogados de Bayard tentam mostrar fragilidade de provas no processo
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