Caíque de Jesus Gonçalves não é aquele volantão antigo. Ele tem características do futebol moderno, com uma forte marcação e saída de bola qualificada. O jogador ganhou destaque na reta final do Gauchão, principalmente nos dois jogos contra o Inter, nas semifinais, quando o Juventude eliminou o Colorado. E continua vivenciando um momento especial pelo clube.
Aos 28 anos, o atleta desembarcou no Estádio Alfredo Jaconi após o acesso à Série A. Na temporada passada, o jogador teve 40 jogos pelo Ceará. Discreto, Caíque não é um volante de chamar a atenção pelas entradas fortes. Muito pelo contrário, tem sido cirúrgico nas roubadas de bola.
O jogador admite que na infância não era um bom aluno. Mais da turma da bagunça, o atleta chegou a ser expulso da escola por colocar um rojão dentro do vaso sanitário.
— Eu sempre joguei bola desde moleque, comecei aos 11 anos. Sempre acompanhei meus tios, que pra mim são minhas inspirações, meus ídolos. Eles não jogaram profissionalmente. Eu sempre acompanhei os dois, pra onde que eles iam, eu estava atrás — revelou o atleta em entrevista ao programa Show dos Esportes, da Rádio Gaúcha Serra.
Vindo de uma comunidade pobre de São Paulo e de uma família humilde, o jogador tem sonhos, como dar o melhor para a mãe, as filhas e a esposa. Chegar em uma Série A não foi fácil para o volante do Juventude. Caíque contou que foi criado pela mãe e um tio. Antes de seguir a carreira profissional dentro das quatro linhas, ele trabalhou no chão de fábrica.
— Trabalhei em fábrica de batata, em empresa de cabo de aço, em fábrica de produtos de limpeza, já vivi desde os 16 anos ali, colocava a mão na massa. Tudo em São Paulo. Foi antes de eu jogar profissionalmente, na época que eu fui pra Portuguesa em 2014 — comentou o atleta que completou sobre a rotina na fábrica de batatas:
— Chegavam os caminhões de batata, aí tinha o pessoal que era da produção que descarregavam, cortavam e mandavam pra nós, o pessoal lá da frente. E aí tinha os fritadores, tinha nós que separávamos as batatas boas, daí eu colocava na bobina, jogava dentro da máquina e ela fazia o resto do serviço, que era embalar. Já caía tudo ali dentro da caixa, tudo certinho, só fechava e mandava pra vender.
RECUSA DO CORINTHIANS E OPORTUNIDADE NO JU
O sonho de todo o jovem atleta que nasce em São Paulo é passar em um teste dentro dos quatro grandes paulistas. Caíque teve esta oportunidade, mas por um detalhe não ingressou nas categorias de base do Corinthians. Ele recorda ter feito dois testes no Parque São Jorge e chegou a estar prestes a ser aprovado. Porém, não foi chamado.
— Eu me lembro bem que eu fui até o último, passei e o cara me chamou lá na época e falou: "Cadê seu empresário?". Eu falei que não tinha empresário, peguei a ficha e fui fazer o teste. Aí ele: "ah tá, entendi". E eu vi ele chamando outro moleque, que não era bom jogador, mas eu vi que estava com empresário. O moleque passou e eu não — relembra.
Depois deste episódio, Caíque conta que se desiludiu com o futebol e quase abandonou a bola para seguir no chão de fábrica. Contudo, um amigo assumiu como diretor da Portuguesa. Foi na Lusa que ele passou em uma peneira e seguiu o caminho até a sua primeira Série A do Brasileiro com o Juventude.
— Série A é muito diferente, são só jogadores com muita qualidade, jogos que se você piscar, já foi, já tomou gol, já perdeu a partida. Então você tem que estar sempre concentrado, porque são só times de alto nível, não pode dar brecha, é difícil demais — destacou.
PROPOSTAS?
Fui vendido para 500 times aí, e no final das contas continuei aqui. Minha cabeça estava sempre no Juventude, como está hoje ainda.
Destaque do Juventude no Gauchão, o jogador integrou a seleção do campeonato. Ao lado de Villasanti, do Grêmio, o jogador esteve entre os melhores do Estadual. Com as boas atuações, o nome do volante foi citado por vários clubes. Sondagens aconteceram, mas nenhuma virou proposta oficial. A multa para deixar o Estádio Alfredo Jaconi é na casa dos R$ 60 milhões.
— Não chegou nada, isso daí só foi coisa de internet mesmo, que sai aí um monte de notícia. Para o meu empresário não chegou nada. Então, sobre isso, fiquei muito tranquilo. E se chegou para o clube, não estou sabendo também. Mantive minha cabeça igual eu estou hoje aqui, que é no Juventude, onde eu tenho contrato, onde que eu estou feliz. Fui vendido para 500 times aí, e no final das contas continuei aqui. Minha cabeça estava sempre no Juventude — explicou o volante Caíque.