Um atleta que chegou como o destaque na lateral direita no maior campeonato estadual do Brasil vai, aos poucos, conquistando seu lugar na equipe titular do Juventude na Série B. E Reginaldo conseguiu repetir por aqui o roteiro que ajudou a levar o modesto Água Santa à final do Paulistão 2023.
— Comentei esses dias com o Kadi, que veio de lá também, que no Água Santa começamos exatamente igual aqui. Com dúvidas se ia dar certo, mas o Carpini insistiu que a gente ia chegar e classificar. Parecido com aqui. O Carpini implementou suas ideias e, com nosso trabalho do dia a dia, sabíamos que as coisas dariam certo — comentou o camisa 93.
Mas as coisas nem sempre deram certo na vida de Reginaldo. O atleta chegou a pensar em abandonar a carreira depois de uma passagem pelo Novoperário-MS, em 2013.
— Sempre quis jogar futebol, mas venho de uma comunidade muito carente lá de Salvador. Era a única expectativa que eu tinha. Morava em frente ao campo. Não existia rede social ou televisão. Só jogava bola, me divertia e criava esse desejo de ser jogador. Em dado momento de minha carreira, fiquei sem clube e pensei em parar e trabalhar em outro meio. Por mais que eu amasse jogar futebol, eu queria ajudar. Até que minha mãe disse: “Não, eu me viro, vendo uns salgados... (Reginaldo se emociona). Mas você não vai parar! Você vai até o final! Se não der certo, você volta e trabalha, mas você vai até o fim".
Fiquei sem clube e pensei em parar e trabalhar em outro meio. Por mais que eu amasse jogar futebol, eu queria ajudar minha mãe.
REGINALDO
Lateral fala que quase desistiu do sonho de ser atleta
Reginaldo não apenas insistiu na carreira de atleta como foi um dos destaques no Maringá e se transferiu para o Coritiba. A partir daí, a trajetória do lateral começou a crescer, com títulos estaduais por Atlético-GO, Athletico, CRB e da Primeira Liga, pelo Londrina. E o jogador reconhece o papel que a mãe teve em sua carreira como atleta.
— Foi algo surreal realizar o sonho que foi mais dela do que meu. Tanto que quando comecei a ganhar dinheiro com futebol, queria comprar a casa pros meus pais, mas eles não queriam sair do bairro onde nasceram. Então, com meu primeiro salário, reformei toda a casa deles. Troquei os móveis, dei uma qualidade de vida maior pra eles. Depois, construí um restaurante pra minha mãe, pra ela ter o trabalhozinho dela — revelou o lateral, que ainda falou sobre a relação familiar:
— Tenho quatro irmãos, nenhum joga futebol. Meu pai é aposentado, gostava de correr muito. Puxei dele a questão da velocidade. Hoje, ele ajuda minha mãe também. São realizações que parecem pouca coisa, mas ver minha mãe feliz não tem preço. O restaurante que ela tem fica no bairro Águas Claras, e tem uma das feijoadas mais conhecidas de Salvador. A feijoada da Dona Creuza é famosa.
A Dona Creuza não apenas foi a figura da família responsável por Reginaldo ter se tornado atleta. Graças a mãe, o atleta não se aventurou em uma profissão mais arriscada:
— Meu sonho sempre foi ser policial. Meu melhor amigo é policial, então eu vi ele estudando e comecei a me interessar também. E graças a minha mãe isso não aconteceu. Ela falou: "Não! Você não vai ser policial! Até porque policial corre muito risco! Não quero perder meu filho cedo!”. Então, sou muito grato a minha mãe por ter insistido, segurado a barra e ter me ajudado a ser atleta profissional.
Meu sonho sempre foi ser policial. E graças a minha mãe isso não aconteceu. Ela falou: Não! Você não vai ser policial! Até porque policial corre muito risco! Não quero perder meu filho cedo!”
A partir das 17h deste sábado, Reginaldo não vai vender salgados para ajudar a mãe, nem vai vigiar a rua ou fazer a segurança do bairro Águas Claras, em Salvador. Ao entrar em campo, como o lateral-direito do Juventude contra o Ituano, o atleta vai em busca de mais uma vitória da sua equipe pela Série B para mostrar pra todos e a si mesmo, que o sonho da mãe valeu a pena.
— Tenho um filho de cinco anos. Passo muito tempo longe dele. Chego cedo pro trabalho, faço atividades pós-treino. São processos que temos que passar e abdicações que a gente tem que fazer pra conquistar coisas maiores. Como o acesso pelo Juventude neste ano.
Times com mudanças
O Juventude vai entrar em campo contra o Ituano neste sábado (8), às 17h, em São Paulo, tentando manter o excelente desempenho do time sob o comando de Thiago Carpini. São sete vitórias em nove jogos que colocaram o clube na linha dos postulantes ao acesso à Série A em 2024. Em sétimo, com 24 pontos, o Verdão tem cinco a menos que o Novorizontino, o quarto colocado na tabela.
E o treinador alviverde vai poder contar pela primeira vez com os cinco reforços anunciados pela direção na nova janela de transferências. O zagueiro Luiz Gustavo, o volante Kadi, os atacantes Tite e Victor Andrade e o centroavante Fábio Gomes estão com a delegação.
As boas novidades também são os retornos de Jean Irmer e Rodrigo Rodrigues, que retornam de suspensão. Sem Alan Ruschel, de fora pelo terceiro cartão amarelo, Kelvyn ocupa a vaga na lateral esquerda. No ataque, David, Daniel Cruz e Victor Andrade disputam um lugar no time.
Já no Ituano, sem José Aldo e Pacheco suspensos, o técnico Marcinho deve promover as entradas de Thiaguinho e Iury. Assim, a equipe deve voltar a ter um volante de origem vestindo a camisa 5. O destaque do time, Eduardo Person, será desfalque pelo terceiro jogo seguido e só deve voltar a ficar à disposição na partida da semana que vem, diante do Sampaio Corrêa.
Em 13º, com 18 pontos, a equipe de Itu vem de vitória sobre o Mirassol, por 1 a 0, fora de casa, na última rodada.