Uma boa história não fica escondida para sempre. Em algum momento, um dos personagens acaba deixando escapar os bastidores de um conto que poderia ter um final feliz. Convidado da segunda temporada do Podcast Paixão Ca-Ju, Osvaldo Pioner, ex-vice de futebol do Juventude, fez algumas revelações sobre sua passagem pelo clube. E uma delas foi a negociação que quase trouxe Hernán Barcos - o Pirata, ídolo do torcedor Tricolor - ao Estádio Alfredo Jaconi.
Pioner permaneceu no cargo entre o final de 2018 e 2022. Como dirigente, participou da ascensão do clube da Série C até a Primeira Divisão e também passou pela experiência do rebaixamento na temporada passada.
Questionado sobre qual seria o nome de um atleta de grande renome que quase foi contratado em sua gestão, o ex-dirigente não titubeou:
— Estivemos fechados com o Barcos três ou quatro vezes. Fiz três ou quatro reuniões com o Barcos, em Novo Hamburgo. Nós escolhíamos um local bem escondidinho ali e almoçávamos naquele lugar reservado.
As conversas com o Pirata teriam acontecido em 2020. O Juventude havia retornado à Segunda Divisão e buscava um atleta para ser o diferencial da equipe na luta pelo acesso à Série A. Barcos estava com 36 anos e havia marcado 15 gols em 48 jogos no Atlético Nacional da Colômbia, na temporada anterior. Mas, de acordo com Pioner, quando tudo parecia definido, as coisas andavam pra trás.
— Dependia sempre de um detalhezinho. Ele tinha uma situação com a ex-mulher e nasciam coisas novas. Ele já estava casado de novo. A esposa dele era a filha do Mr. Pi, ex-comunicador da Rádio Atlântida. Aliás, ele também nos ajudou. Ele falava "cara, não vai embora, fica aqui em Caxias! Os gringos são bons e honestos" — destacou Pioner.
Com o incentivo do sogro Mr. Pi, as negociações avançaram a tal ponto que o dirigente chegou a dar como certa a contratação do Pirata.
— Eu cheguei a fazer uma proposta pro Barcos e nós fechamos. E eu disse assim "eu vou te dizer como a gente vai te pagar, porque não tenho como te pagar. Eu tô te fazendo uma proposta que eu não tenho como bancar". Mas daí eu falei que nós íamos organizar um jantar pra duzentas pessoas ao valor de mil reais cada. Vamos arrecadar duzentos mil reais e eu vou te entregar na mão como salário adiantado. Isso na verdade iria dar dois ou três meses de salários, ele já ia receber adiantado — revelou Pioner, que completou:
— E disse: "Depois você vai no hospital fazer aquela "palhaçada" de Pirata, outro dia você vai não sei em qual evento, isso vai nos dar mais cinquenta ou 100 mil reais e a gente vai te dar adiantado. É assim que vamos te pagar". E aí fechamos! Mas ainda dependia de um detalhezinho de um time lá da Itália ou de fora, não lembro, que tinha feito uma proposta que o Barcos me mostrou. Eu achei que não existisse essa proposta, que ele devia estar me aplicando. E daí não aconteceu.
Barcos acabou se transferindo à quarta divisão do futebol da Itália. O ex-centroavante gremista foi anunciado como reforço do Messina, depois de uma curta passagem pelo Bashundhara Kings, de Bangladesh.
— Isso acabou não circulando, mas o Barcos na época era o cara. Tanto que ele continua empilhando gols, jogou uma Libertadores no ano passado, viria pra cá, mas daí os caras ofereceram fortunas lá fora e não teve negócio — finalizou Pioner.
Atualmente, aos 39 anos, Barcos defende as cores do Alianza Lima, do Peru. Nas últimas três temporadas, o atleta esteve em campo em 94 jogos e anotou 38 gols.
E foi por muito pouco que a torcida do Juventude não comemorou gols do time fechando um olho e erguendo um braço. Por detalhes, o Pirata não vestiu a camisa alviverde.