Do trailer para a cozinha da hamburgueria. Das quadras para a coordenação técnica. Ele sempre teve a receita certa para o time disputar títulos dentro das quatro linhas, mas também teve em mãos os ingredientes para se fazer um bom hambúrguer. Técnico consagrado no futsal e dono de hamburgueria, Jari da Rocha, o Jarico, resolveu ingressar em um novo ciclo em sua de vida, aos 61 anos.
Um dos principais responsáveis pelo crescimento do futsal no Rio Grande do Sul está abandonando as quadras. Mas não em definitivo. Afinal, agora o ex-técnico deixa de lado a prancheta para se dedicar ao cargo de coordenador da Sercesa, de Carazinho.
— Foi uma decisão muito bem pensada. Eu já tinha um projeto de vida onde eu não queria passar dos 60 anos na beira da quadra. Estou muito feliz com a nova função. Claro que também preciso me acostumar, mas estamos aí para o que der e vier — disse durante entrevista ao programa Show dos Esportes, da Rádio Gaúcha Serra.
Após comandar a Sercesa, de Carazinho, na vitória sobre o Soberano, de Sarandi, por 4 a 2, em Carazinho, no dia 15 de abril, pela fase classificatória da regional norte da Taça Farroupilha, Jarico decidiu que já estava na hora de seguir para outros rumos. Com mais de 400 jogos pela ACBF e 46 títulos na carreira, Jarico revelou ainda que a Sercesa deve comprar uma franquia e disputar a Liga Nacional de Futsal já em 2024.
Confira abaixo os principais trechos da entrevista com Jarico:
Início
— Meu irmão mais velho jogava futsal e a gente ficava esperando, na época nas sextas-feiras, que era o dia em que eles não trabalhavam no sábado e jogávamos futsal à noite. Foi ali que despertou o interesse. Eu tentei jogar futebol de campo e não consegui, e fui jogar futsal. Me identificava mais. Depois, na década de 80, quando começou a surgir a Enxuta, nós tínhamos um citadino muito forte em Caxias do Sul, com grandes equipes, e comecei a me interessar mais ainda. Tive a oportunidade de ver pessoas de Caxias, como o Hercílio Povolan, o Renato Corso e o Jaime Walker, que apostaram em mim, no sentido de me tornar um treinador numa filial da Enxuta. A partir daí passei a me dedicar muito, porque eu não fui um grande jogador.
Legado
— Só me dei conta quando realmente eu parei. Eu tenho a felicidade de ser o único treinador gaúcho raiz, bicampeão nacional da Liga. Há pouco tempo descobri que o técnico Cassiano, do Cascavel, também é gaúcho, mas não tem uma história aqui no Rio Grande do Sul. Tenho todos os títulos possíveis. Então, eu acho que fiz muito, meu legado foram as amizades que eu criei, no sentido da gente poder mostrar muita coisa para os mais novos, lançamento de muitos jogadores. Estou muito feliz por toda minha trajetória, daquilo que criei durante mais de 30 anos de carreira, foram 46 títulos. Então, acho que essa é a história: da luta, da perseverança e, principalmente, da humildade.
Carlos Barbosa e Caxias do Sul
— Na ACBF é toda uma história, sendo que ali conquistei todos os primeiros títulos. Desde Campeonato Gaúcho, de Liga Nacional, de Sul-Americano, Intercontinental. Tenho uma história muito bonita, mas não posso esquecer que essa história começou em Caxias, com a Enxuta. Depois, passando para o Internacional, e agora aqui na equipe do Sercesa. A ACBF é uma equipe que tenho grande carinho, fiz mais de 400 jogos, tenho um carinho muito grande pela cidade, pela comunidade e pela direção.
Contribuição para o crescimento do futsal
— Tive passagem também fora do Brasil, na Espanha, Itália e trabalhei em cinco temporadas na China. Então, a gente criou um legado, umas coisas bacanas. De tudo isso, tenho muito orgulho. Primeiro porque sou gaúcho. Um treinador raiz, criado em Caxias do Sul, na Enxuta, no Cruzeirinho, no Vasco.
Caxias pode ter time de ponta
— Eu sei que há equipes que estão tentando, estão jogando a Série Ouro, estão jogando a Liga Futsal também. Acho que o caminho é por aí. É começar a plantar que daqui a pouco aparece um grande patrocinador e, com certeza, Caxias do Sul tem um potencial. No ano passado, a gente teve a oportunidade de jogar contra equipes de Caxias e ver alguns jogadores. Cara, tem jogador aí com potencial muito grande. As escolinhas de Caxias do Sul têm o futsal em sua raiz, o que é uma coisa bacana, porque elas continuam mandando jogadores para o Brasil todo. Eu acho que o que falta é um grande investimento.
Trabalho de coordenador
— Estou bem tranquilo porque agora eu posso aplicar tudo aquilo que imaginei, em virtude do grande patrocinador que nós fizemos. Eu tenho a ousadia de dizer que nós vamos em breve ter uma equipe na Liga Nacional, posso dizer que vai ser a terceira força a nível financeiro do Estado. Provavelmente em 15 ou 20 dias a gente deve anunciar, o que é mais um grande feito pro Rio Grande do Sul, a compra de uma vaga da franquia da LNF. Esse ano já quero começar a preparar a equipe, do lado de fora da quadra, no sentido de organização e dar todas as condições para o técnico Paulinho Gambier, que veio me substituir, e aos atletas. Quero aprender muito, até por ser uma profissão nova dentro do futsal. Estamos trabalhando nisso. Já estamos em negociações pela vaga com a empresa que tem a franquia e, com certeza, será um grande marco pro futsal do Rio Grande do Sul.
Hamburgueria
— Tinha um trailer em Caxias, isso pra mim é um orgulho também. Hoje tenho uma hamburgueria em Carazinho. Às vezes, até brinco: nas quadras eu enganei, mas no lanche não engano, porque o que eu gosto de fazer lanche é brincadeira. E de comer também!