A cada quatro anos, uma febre toma conta de crianças, jovens e adultos. Daqueles que são apaixonados pelo futebol ou até mesmo os que são apenas aqueles torcedores de Copa do Mundo. Faltando pouco mais de dois meses para o principal torneio de futebol do planeta, a corrida pela compra e troca das figurinhas do álbum da Copa do Catar tomou conta das ruas e, principalmente, das bancas de Caxias do Sul.
O álbum mais barato custa R$ 12 e um pacote com cinco cromos é comercializado por R$ 4. E teve gente que não perdeu tempo. Antônio Marcos Kunzler, 46 anos, levou uma semana para finalizar o seu primeiro álbum. Kunzler é colecionador desde criança. Seu primeiro livro ilustrado foi o da Copa União de 1988.
— O da Copa agora levei uma semana para completar. Só comprando pacotinhos não consegui completar. Faltaram umas 30 figurinhas. Infelizmente, tu tens que aplicar um valor exorbitante para completar só comprando pacotinhos, vai uns R$ 1,3 mil. O segredo é a troca — contou o colecionador
Com 80 álbuns e mais de 200 mil figurinhas, Kunzler revela que gosta de ajudar os amigos na busca pelos cromos. Ele sugere que as pessoas não saiam fazendo trocas de figurinhas de imediato.
— Meu intuito não é financeiro. Meu hobby é ajudar as pessoas. Tenho sempre um álbum colado e outro com todas guardadas. Eu não sugiro a pessoa ir direto nas trocas, porque tem que ter o prazer de começar do zero e abrir os pacotinhos. Você tem que ter uma boa porcentagem de compras. No momento, quanto tiver 50% do álbum preenchido, daí dá para começar a trocar — sugeriu.
Em Caxias do Sul, o estacionamento onde Kunzler trabalha é referência para quem desejar trocar figurinhas. Na frente do Pronto Atendimento 24h, o Postão, Antônio chega no final da tarde. A partir das 18h30min, os caçadores de figurinhas também começam a surgir para falar com o mestre das trocas.
PROPOSTA DE R$ 5 MIL
Eduardo Oss Carnezella, 47 anos, também coleciona álbuns de Copa do Mundo. Ele começou em 1994, no do Mundial dos Estados Unidos, e acompanhou a evolução da qualidade das figurinhas. Nesta edição, alguns poucos pacotinhos vêm com cromos especiais, algo bem diferente de quando Carnezella começou a colecionar.
— Ainda tenho as figurinhas originais daquela Copa de 1994, que tinha que usar cola para grudar as figurinhas. Começou na brincadeira de fazer a Seleção, e a de 94 era muito boa. Desde 1994 tenho todos preenchidos. A diferença de 2010 até agora é que não tinha álbum capa dura e as figurinhas autocolantes. Hoje, as figurinhas são melhores, como as extras, é muita coisa diferente — descreve.
O caçador de figurinhas não tem pressa em preencher o seu álbum da Copa do Catar. Mas, com tantos contatos e grupos de trocas, como o do Antônio, ele quase fechou o seu álbum em pouco mais de uma semana. Carnezella não se programou para comprar as cromos. A estratégia adotada foi comprar 100 pacotinhos, contabilizando 500 figurinhas. Depois, com as repetidas, ele iniciou o processo de troca nos grupos. Nessa compra inicial, o colecionador teve a sorte de encontrar uma figurinha extra de Neymar. Inclusive, recusou uma proposta de R$ 5 mil pelo card.
— Essa figurinha está dando o que falar. Nesse pacote que comprei consegui uma do Neymar dourada. Tem gente até pesando os pacotes. É a única que arrumei. No momento, não penso em colar ela no álbum. Mas, quem sabe daqui para frente fazer algum negócio ou troca. Já recebi várias propostas. Mas não estou muito nessa no dinheiro. Já chegaram a me oferecer R$ 5 mil. Por enquanto, não estou querendo fazer negócio. Essa dourada vem extra no pacote, então é um pouco mais pesado o pacotinho. Essa está bem guardadinha aqui comigo — declarou Carnezella.
Ao todo, especula-se que uma figurinha dourada vem a cada 1,9 mil pacotes. Para completar o álbum desta Copa são necessárias 670 figurinhas. Existem ainda quatro espaços para que as "Legends" sejam coladas. Esses cromos extras têm 80 versões diferentes, divididas nas cores base, bronze, prata e ouro, sendo que a categoria ouro é a mais difícil de se encontrar.
BANCA CELEBRA VENDAS
A pandemia afetou muitos setores da economia. As bancas de jornais e revistas eram pontos tradicionais das cidades e com avanço da internet, os espaços foram enfraquecidos e a covid-19 também resultou em muitos fechamentos. Ederson Furlan, 42 anos, trabalha em uma banca que funciona no coração de Caxias do Sul, na Praça Dante Alighieri. Ele viu as vendas dobrarem com a febre da Copa do Mundo.
— Cresceu e até deu para ajustar as contas. Saiu do vermelho e deu para estabilizar. Voltou ao normal de antes de 2018. Mais do que dobrou no começo. Hoje a única coisa que está saindo é figurinha. Depois sai alguma coisa da linha de cruzadas e de mangás. É um Natal antecipado, bem isso aí. Talvez aqui tenha mais movimento porque alguns outros fecharam — revelou.
Durante os 40 minutos em que a reportagem do Pioneiro esteve na banca, a cada 10 clientes, oito buscavam os pacotinhos da Copa. Pais, mães, avós e pessoas de todas as idades chegavam em busca dos cromos. Por dia, Furlan vende uma caixa com mil pacotes, e a reposição é diária.
— No início foi bem maior. Agora, deu uma nivelada. Antes eu ia uma vez por semana para pegar reposição. Como é um valor alto, tinha que pagar primeiro o boleto para depois retirar. Da última Copa para esta dobrou o valor do pacote — destaca.
O colecionador também viu o seu bolso pesar para completar um álbum. Em 2006, na Copa da Alemanha, o pacote custava R$ 0,60. Quatro edições de Mundial depois, o valor subiu para R$ 4. Na Copa da Rússia, em 2018, o custo era de R$ 2, metade do valor desse ano. Furlan não aderiu à brincadeira, mas admira quem consegue completar o álbum. Ele também projeta a manutenção das vendas até a Copa, prevista para começar em 20 de novembro.
— Creio que vai dar uma esfriada. Em 2018, quando o Brasil foi eliminado, daí não teve mais vendas. No começo dá uma esquentada. Conforme a Seleção for avançando, o pessoal que não colecionou, ou está na dúvida, é capaz de comprar. Quem é colecionador comprou rápido — finalizou.
ALBÚM EM NÚMEROS
Figurinhas: 670
Raras: 80
Especiais: 50
Pacote: 5 Figurinhas
Primeiro álbum: 1970
Comercialização: Mais de 150 países
Valor Pacote com cinco cromos: R$ 4
Álbum capa normal: R$ 12
Álbum capa especial: R$ 44,90
Produção estimada: 1,2 bilhões de envelopes e 57 milhões de álbuns
Custo mínimo para completar: R$ 536 (sem repetir cromos)