No Ginásio do Sesi, a primeira cesta brasileira do basquete feminino na Surdolimpíadas foi convertida por Maria Eduarda Rios aos cinco minutos do segundo quarto, quando o placar já marcava 48 a 0 para a Polônia. A ampla vantagem construída principalmente pela superioridade defensiva polonesa, não desanimou em nenhum momento o grupo de torcedores que vibrava e coreografava o famoso canto "Sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor" em Libras.
Ao fim da primeira etapa, a derrota parcial por 66 a 2 já estava em segundo plano, quando a comunidade surda do projeto Impacto entrou em quadra e realizou uma apresentação de dança. Movimentados pelo pastor Alexsandro Silva da Silva, mais de 50 jovens vieram à Caxias do Sul para acompanhar os jogos e se integrar ao clima esportivo.
— Nosso principal projeto é realizar a tradução da Bíblia para Libras e viemos para divulgar nosso trabalho que busca dar acessibilidade aos surdos. O placar é secundário, a interação e o apoio é que importa, esse é o aprendizado das Surdolimpíadas, a integração — definiu.
De Brasília, a jornalista Hosana Satier não pensou duas vezes quando soube da realização do evento na Serra Gaúcha.
— Demos um jeito de trazer toda nossa equipe, vamos passar uma semana prestigiando nossos atletas, tem sido uma experiência muito interessante entre os surdos brasileiros e os surdos de outros países — comentou.
Ao fim do jogo, o momento que ilustrou o que verdadeiramente importa nos Jogos Surdolímpicos: atletas polonesas e brasileiras se misturaram dentro de quadra para uma foto que registrou o pioneirismo do basquete surdo, em Caxias do Sul. Feliz em receber os estrangeiros em sua cidade natal, o técnico da equipe, Jean Emer traduziu o espírito criado dentro de quadra e que contagiou os espectadores.
—A gente já sabia, desde o momento em que montamos a equipe e decidimos participar, que seria assim muito difícil e pegamos equipes europeias que estão acostumadas a jogar as competições. Das nossas meninas, algumas entraram pela primeira vez em quadra hoje. Foi o que eu disse desde o início, já sabíamos o que ia acontecer, e tenho muito orgulho delas pela coragem em estar aqui. Talvez, daqui a 20 ou 30 anos, exista uma equipe que vá jogar de igual para igual, e isso só vai existir pela coragem delas em estar aqui hoje. Sou fã delas — declarou o técnico.
Na torcida, ao fim do jogo, a carioca Renata Sanliver deu outro ponto de vista à derrota. Encantada com a união dos atletas, provocou um olhar a um placar que não contava às cestas.
— O esporte une, mas o amor unifica ainda mais. Se pensarmos no placar do amor, a gente já ganhou de goleada — resumiu.