Mais do que movimentar milhares de atletas e o cenário esportivo da região, a 24ª Surdolímpiadas de Verão também teve uma importante contribuição para a rotina dos estudantes de Caxias do Sul. Com muita criatividade e utilizando-se de diferentes recursos, os educadores aproveitaram para trabalhar temas como a inclusão e a Linguagem Brasileira de Sinais (Libras) dentro das salas de aula.
O evento esportivo, que ocorre de forma inédita na cidade até domingo, foi celebrado por crianças e adolescentes de diferentes formas nos últimos dias. Além de visitas ao Centro Surdolímpico, nos Pavilhões da Festa da Uva, e o acompanhamento de algumas modalidades ao vivo, a garotada pôde aprender saudações em sinais, participar de gincanas sobre o tema e até ter contato com um cardápio especial, em homenagem aos países participantes.
Para a diretora pedagógica da Secretaria Municipal da Educação (Smed), Paula Martinazzo, o evento trabalha, para além da inclusão, aspectos como a superação, a resiliência, a sensação de pertencimento e o espírito de grupo. Ela ainda argumenta que as competições fortalecem e empoderam a comunidade surda:
— Quando tu aproxima as realidades, consegue ver não as diferenças, que sabemos que existem, mas, sim, as semelhanças. Conseguimos mostrar aos estudantes, de uma maneira muito prática, que a deficiência, seja ela qual for, não é impeditivo para que as pessoas desempenhem o papel que elas desejam na sociedade em que elas estão inseridas. É um evento muito importante — defende Paula.
Uma das escolas de Caxias que aproveitou a passagem das Surdolímpiadas pela Serra foi a Caminho Rede de Ensino. A turminha do 1º ano do turno integral teve uma semana especial de atividades dedicadas ao assunto. Os pequenos aprenderam, por exemplo, cumprimentos, o alfabeto, os números e até alguns animais na linguagem de sinais. Na lousa eletrônica da sala de aula, os estudantes participaram de um joguinho matemático em Libras.
Para a professora Shaieny Lacerda, as atividades contribuíram para que as crianças entendessem, de forma mais prática, as diferenças entre as pessoas e respeitassem a singularidade de cada um.
— Aqui na nossa escola não temos crianças surdas. Então, elas acabam não tendo a convivência. Elas se interessaram muito sobre o assunto e aprenderam de forma muito fácil, os números, os cumprimentos... E eu acho que qualquer trabalho de inclusão, que mostre que as pessoas podem ver o mundo de formas diferentes, fará com que se tornem cidadãos melhores — avalia a educadora.
Na semana passada, ainda nas atividades temáticas, algumas turmas assistiram aos jogos de vôlei e handebol de forma presencial e a escola recebeu a visita de atletas surdolímpicos da delegação italiana.
Cardápio especial e gincana: como as escolas de Educação Infantil trabalharam o tema na rede municipal
Na Escola de Educação Infantil (EEI) Vovó Maria, que atende a 134 crianças de até cinco anos, no bairro Diamantino, a realização das Surdolimpíadas em Caxias do Sul motivou um projeto de conscientização desenvolvido ao longo da semana passada. De segunda-feira até sexta, uma gincana mobilizou os estudantes com atividades relacionadas à Língua Brasileira de Sinais (Libras), aos esportes — que foram acompanhados por meio da transmissão online realizada pelo evento — e atividades com música, nas quais também foram trabalhados gestos. Segundo a coordenadora da escolinha, Gilcéia Ramos, uma pesquisa realizada com os alunos também chegou aos familiares, levando conhecimento para as famílias.
— Foi uma experiência muito boa porque não temos alunos surdos e muitas crianças sequer tinham noção de que existiam pessoas que não ouvem. Os pais também ficaram impressionados com as atividades e puderam ter contato com este evento realizado na cidade. Foi muito importante — destacou a coordenadora.
O contato com a realidade de pessoas surdo-atletas também foi inédito para os estudantes da EEI Ana Aurora do Amaral Lisboa I, do bairro Floresta. Por lá, ao longo desta semana, os sinais de Libras também foram trabalhados em sala de aula, com os alunos do pré I e II, de quatro a seis anos de idade. Além disso, a cada dia da semana, os alunos tiveram contato e praticaram um esporte diferente: futebol, com equipes divididas em Brasil x Itália; ginástica rítmica, e circuito. A sexta-feira foi reservada para a entrega de medalhas.
— A gente ensinou eles como eram os aplausos em Libras, além de outros gestos, e isso até estimulou eles a ficarem mais quietinhos, entraram no clima — afirmou a coordenadora Maeli de Souza Batista.
Segundo ela, os impactos na equipe de educadores também foi percebido, uma vez que foi necessária uma pesquisa para que o conteúdo fosse, posteriormente, aplicado aos alunos.
Ao longo das Surdolimpíadas, o cardápio das escolas também ganhou variedade internacional, sendo cada dia "servido" um diferente país. Algo que, segundo a coordenadora, também contribui para a aprendizagem. Países como Líbano, Itália, Inglaterra e México já foram representados. Nesta sexta-feira, a bandeira de Portugal integrou as refeições. No almoço, o prato foi Atum a Gomes de Sá com arroz e salada de beterraba; no lanche, salada de frutas; e no jantar, torta dourada com suco natural de abacaxi.
Outras iniciativas em homenagem às competições
:: Escola Helen Keller: a instituição, que é voltada à comunidade surda do município, trabalhou a gastronomia de cada país, abordando a riqueza da diversidade cultural. O projeto especial também falou sobre aspectos geográficos das nações e ressaltou o esporte como uma forma harmoniosa de convivência.
:: EEI Planalto Rio Branco: as crianças protagonizaram um vídeo dando as boas-vindas aos atletas em Libras. Dentro da ideia de transmitir acolhimento aos visitantes, as turmas também sinalizaram aplausos, com o tradicional agitar de mãos, e ainda fizeram o sinal das Surdolimpíadas.
:: Escola Ester Justina Troian Benvenutti: os alunos receberam uma visita especial na fase de preparação para as competições. O professor de Educação Física da instituição, Flávio Manara, é também técnico da seleção brasileira de basquete nas Surdolimpíadas e facilitou a visita dos atletas da delegação brasileira Levi Brittes e Laura Andreazza.