A dois dias da abertura oficial da 24ª edição das Surdolimpíadas, a ficha do quão grande é o evento parece começar a cair na rede hoteleira e nos setores de comércio e serviços de Caxias do Sul. Além das percepções econômicas. a população também passa a se dar conta que será anfitriã dos Jogos nos próximos 15 dias. Não poderia ser diferente, afinal representantes de 79 países começaram a desembarcar na cidade para disputar competições de 20 modalidades, no que será o maior evento poliesportivo já realizado no Rio Grande do Sul.
Mas e o caxiense sabe o que se passa nos Pavilhões da Festa da Uva, local escolhido para ser a Praça Surdolímpica, ou nas praças esportivas espalhadas pela cidade? Para o coordenador de competições das Surdolimpíadas, Mauro Caxias, não. Segundo ele, a primeira cidade da América Latina a receber o evento deveria ter se planejado antes para engajar seus cidadãos a criar um clima olímpico.
— Acho que a cidade, em termos gerais, não se preparou. Me arrisco em dizer que a cidade não comprou o evento. Acho que, em geral, o povo não entendeu. A população ainda vive muito para outras coisas — afirmou Mauro Caxias, em entrevista ao Show dos Esportes da Gaúcha Serra.
A rede hoteleira, por outro lado, teve de se preparar porque viu suas reservas chegarem perto de esgotar com a procura do Comitê Surdolímpico por acomodações para árbitros e delegações. Com 204 apartamentos em sua estrutura, o Hotel Travel Inn Axten irá receber um total de 307 atletas vindos da França, Espanha, Portugal, China e República Tcheca. Para se comunicar com a hospedagem estrangeira através dos Sinais Internacionais (SI), a rede de hotéis, que também hospeda mais de 150 ucranianos em Antônio Prado, contou com a assessoria de uma startup especializada na inclusão assertiva de pessoas com deficiência.
Durante o período de Surdolimpíadas, os hotéis da rede terão QR Codes espalhados pelos prédios, que quando escaneados direcionam a um vídeo de uma intérprete de SI. No vídeo será possível tirar dúvidas frequentes que surgem durante a hospedagem. Produzido pela Semearhis, a solução encontrada otimizou o tempo que seria necessário para capacitar os funcionários a se comunicar através de sinais.
—Apesar dos atletas já estarem acostumados com a dificuldade em se comunicar, queríamos estar preparados para fazer com que se sentissem o mais à vontade possível. Não tínhamos tempo de fazer um curso muito extenso, então achamos essa solução, e a empresa contratada irá disponibilizar um intérprete 24h caso aconteça de não conseguirmos nos comunicar. Temos a possibilidade de realizar uma ligação por vídeo — explicou Florence Andrade, gerente do hotel que abriu 20 vagas temporárias, para camareiras, garçons e recepcionistas.
100 adesivos em três dias para identificar motoristas parceiros
Sem tempo a perder, a Liga By Comobi, empresa de mobilidade aos moldes de uma cooperativa, foi contatada há três dias para dar suporte no transporte dos surdoatletas. De acordo com o diretor financeiro, Guilherme da Silveira, a startup conta com 200 motoristas parceiros e foi contratada por uma terceirizada da empresa parceira do Comitê Surdolímpico. Os veículos estarão à disposição das delegações para os trajetos entre hotéis, Praça Surdolímpica e locais de competição.
— Até falei com meus amigos, está um pouco bagunçado, tiveram um ano para se organizar e não se vê muita movimentação. São atletas surdos, então a comunicação visual seria importante, teria que haver algo espalhado pela cidade— comentou Silveira, que não esperou para encontrar uma solução simples para dar visibilidade à Liga by Comobi durante os Jogos:
— Mandei fazer um material gráfico para identificar os veículos da cooperativa, para auxiliar na comunicação visual. Em três dias, corri na gráfica para fazer. Não tem tempo, mas quando é preciso se acha — afirmou Silveira que distribuirá os 100 adesivos aos motoristas neste sábado.