A cidade de Caxias do Sul vai receber mais de 6,3 mil atletas no mês de maio, na 24ª edição das Surdolimpíadas de Verão. Será a primeira vez na história que a América Latina sediará a competição. Além disso, cerca de 800 voluntários estarão trabalhando nessa edição na Serra Gaúcha. Um dos mais antigos eventos mundiais começará no dia 1º e se estenderá até o dia 15 do mesmo mês.
Em entrevista ao programa Show Dos Esportes, da Rádio Gaúcha Serra, o diretor da Confederação Brasileira de Desportos de Surdos (CBDS), Igor Valério, comentou sobre a relevância da competição. Para ele, também será uma oportunidade para dar mais visibilidade ao tema da inclusão social.
— Esse é um megaevento, e um megaevento traz grande visibilidade da nossa comunidade surda para nossa comunidade e governos, estaduais e municipais, que precisam contribuir mais com os esportes dos surdos. Muitos dos nossos surdoatletas não têm apoio dos governos estaduais — lamentou o dirigente.
Com o trabalho da intérprete Karla Fiorante, Valério classificou as Surdolimpíadas como um momento singular, não apenas para o estado do Rio Grande do Sul, mas para o país como um todo.
— Temos encarado como uma desafio, uma oportunidade única, porque o Comitê Internacional de Desportos para Surdos possuiu 115 filiais no mundo e é praticamente impossível um mesmo país sediar duas vezes. Hoje, estamos muitos felizes em sediar esse evento em nossa casa — pontuou o diretor do CBDS .
A delegação brasileira ficará hospedada na cidade de Caxias do Sul. O "Time Brasil" ainda não tem um número certo de participantes, mas pode chegar a contar com 320 competidores. Alguns deles ainda dependem da liberação dos seus serviços formais para viajarem. Nem todos chegam no mesmo dia para as disputas na Serra Gaúcha. Algumas competições, como o futebol, iniciam ainda na semana anterior da abertura, em abril.
— Esperamos contar com algo entre 250 a 320 atletas. Dependendo da disponibilidade dos nossos surdoatletas, que ainda buscam o desafio de conseguir a liberação dos seus empregadores. A delegação brasileira ficará em Caxias do Sul. Por exemplo, o futebol chega antes, no dia 26 ou 27 (abril). Cada modalidade chega em uma data específica — explicou o diretor do CBDS.
O Brasil estará representado em 19 das 21 modalidades. A Confederação Brasileira não recebeu indicações ou matrículas de surdoatletas em duas modalidades: na luta livre e no golfe.
AUMENTO NO QUADRO DE MEDALHAS
Na 23ª edição, o Brasil conquistou cinco medalhas nas Surdolimpíadas de Verão 2017, realizada em Samsun, na Turquia. O Time Brasil faturou uma medalha de ouro inédita, com o nadador Guilherme Maia, na prova de 200 metros livres. Ele ainda levou bronze, nos 100 metros livres. As demais conquistas foram com medalha de bronze, com os atletas Heron Rodrigues, do caratê; Alexandre Fernandes, do judô, e pela equipe de futebol feminino, também inédita.
— A nossa expectativa é ter uma projeção do dobrar (medalhas) a edição anterior, ainda mais por termos a vantagem de estarmos em nossa casa. Na última, nós tivemos duas modalidades inéditas, a natação masculina com Guilherme Maia e o futebol feminino. Foram duas medalhas inéditas — celebrou o diretor do CBDS.
A última edição das Surdolimpíadas reuniu 2.307 atletas surdos de 79 países. Em Caxias do Sul, o número esperado é bem superior. A delegação brasileira foi à Turquia com 140 profissionais, sendo 99 atletas, com representantes em 14 modalidades. Valério confessa a expectativa de medalhas em uma modalidade, onde o Brasil esteve presente em quase todas as Surdolimpíadas.
— Natação, com certeza. O Brasil participou de todas as as edições, exceto de 2005 a 2009. As demais modalidades estamos aderindo aos poucos e temos resultados bem positivos — comentou o diretor do CBDS.
DIFICULDADES E PEDIDO DE APROVAÇÃO
A celebração no lugar mais alto do pódio é a auge para um atleta. Entretanto, para chegar até a medalha, o surdoatleta enfrenta muitas dificuldades. A principal delas é a falta de apoio financeiro. Muitos tiram dinheiro do próprio bolso para representar o país.
- Por vários anos, os surdoatletas e as comissões técnicas têm passado por grandes dificuldades, pagado as despesas do próprio bolso, o salário do seu trabalho formal ou até mesmo com rifas e vendendo itens no semáforo. Alguns têm consigo patrocínios, mas parciais. Isso tem acontecido nas modalidades individuais. Nas coletivas é muito maior a dificuldade. Neste ano, tivemos mais de patrocínios pela Caixa e a sensibilização do governo com a nossa comunidade surda — ponderou o Igor Valério.
Uma saída para essa falta de apoio é o Projeto de Lei 330/2020, que tramita na Câmara dos Deputados, mas ainda não foi aprovado. A proposta inclui os atletas surdos entre os beneficiários do Bolsa Atleta, criado em 2005 para auxiliar financeiramente os desportistas de alto rendimento. O programa do governo federal garante condições para que eles se dediquem aos treinamentos e competições dentro do país e fora dele, em competições como mundiais e as próprias Olimpíadas.
- Estamos nos recuperando de uma recente quarentena total, que durou praticamente um ano e meio. Entendemos que a liberação da prática de esportes é bem recente e estamos na expectativa de um bom número (de atletas) para ocupar todas as vagas de todas as modalidades, o que gira em torno de 375 atletas por delegação. Hoje, a nossa expectativa é alcançar 320, considerando que participaremos de 19 modalidades. A falta do Bolsa Atleta para os surdoatletas é um obstáculo preocupante. Se a lei fosse aprovada, nós, com certeza, estaríamos com todas as vagas preenchidas e sem toda essa dificuldade — explicou o dirigente
Atualmente, o Bolsa Atleta paga R$ 3, 1 mil por mês para atletas Olímpicos e Paralímpicos. Já a categoria Atleta Pódio recebe R$ 15 mil por mês.