Elas são a voz feminina da arquibancada. Viajam, cantam, apoiam, gritam, se alegram e, acima de tudo, torcem. Torcem pelo sucesso de seus clubes do coração. E não é de hoje.
O lado grená de Caxias do Sul teve sua primeira ala feminina quando a instituição ainda levava o nome de G.E. Flamengo. Conforme o historiador do Caxias, Jorge Roth, essas mulheres integravam a Torcida Organizada da SER Caxias (Tosca) — fundada nos anos 70.
Vanda Dal Monte, 82 anos, foi uma das integrantes desse grupo. Ela conta que nasceu apenas três anos depois da fundação do clube e, desde criança, alimenta o amor pelo time grená.
— Eu sou sócia a vida toda. Vou para o campo desde jovem, nem lembro direito. Só não fui esse ano, por causa da covid-19, mas estou sempre aqui de olho no Caxias. Sempre torcendo — conta.
Quando ela integrou a primeira torcida feminina do clube, os tempos eram outros. Mas, o amor, com certeza, sempre foi o mesmo:
— Nós botávamos as fitinhas, na entrada do campo, nos paletós, na lapela, para ganhar um troquinho. Quando fecharam embaixo da arquibancada, fizemos as coisas para os quartos dos jogadores, ajudamos a fazer os lençóis. Então, a gente sempre ajudou.
Nos dias de hoje, as gurias continuam representadas. Agora, dentro da Torcida Organizada Falange Grená. Há o Comando Feminino, composto por cerca de 20 meninas. A fundação do núcleo ocorreu em 2016, com o intuito de expor o amor delas pelo Caxias.
— O futebol é um esporte nascido para homens, mas, com o tempo, a mulher começou a torcer, acompanhar, vibrar e participar efetivamente, seja na diretoria dos clubes ou nas arquibancadas. As arquibancadas têm o ar machista, mas os tempos mudam. Mostramos que o esporte, em específico o futebol, é para todos e para todas — descreve a torcedora Larissa Maria de Lima, que integra o Comando Feminino há quatro anos.
Ela conta que, como torcedoras, elas já sentiram na pele o machismo. No entanto, lutam para que isso não se repita nos dias de hoje:
— Já houve situações em que sofremos (com o machismo). Mas trocamos ideias com outros e outras integrantes, para que isso não exista mais.
Larissa também reitera que elas são torcedoras e estão ali apenas pelo clube e para apoiá-lo em todos os momentos.
— No momento em que estamos no estádio, seja em casa ou fora, não é o gênero que vai fazer torcer menos ou torcer mais. Estamos ali pelo clube. Estamos ali pelo Caxias. Indiferente do gênero, somos todos grenás.
São duas gerações completamente distintas. Torcedoras que nasceram em épocas diferentes. Até o clube passou por mudanças. Era Flamengo, na época de Vanda. É Caxias, na vida de Larissa. A única coisa que elas têm em comum é o amor pelo futebol, pela arquibancada e pelo time grená.
Confira algumas fotos da primeira ala feminina do Caxias:
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