O sonho de retorno do Caxias do Sul Basquete para a elite nacional está próximo. A equipe gaúcha tem até o próximo dia 31 para confirmar as garantias financeiras que vão dar o aval para a participação na edição 2020/2021 do Novo Basquete Brasil (NBB). Essa notícia animou não só os torcedores, que lotaram o Ginásio do Vascão durante a última temporada em que participou da competição, no NBB 10, concluída em 2018, mas também movimentou atletas e esportistas que tiveram contato com o time em quadra, seja a favor ou contra.
Em três temporadas na elite do basquete nacional, o time caxiense chegou em duas oportunidades aos playoffs do NBB — a segunda fase da competição. Na primeira vez, encarou o Brasília, tricampeão do torneio e repleto de jogadores experientes, acostumados com decisões. Entre eles, o ex-ala-pivô Guilherme Giovannoni, que ajudou a construir a história vencedora do time do Distrito Federal.
Atual comentarista dos canais ESPN, Giovannoni recorda daquele momento na história.
— Lembro quando o Caxias jogava a Copa Brasil, com um projeto bem pequenininho, foi crescendo ano a ano, até que chegou ao NBB. E aquele ano foi especial para eles. Acabou chegando nos playoffs pela primeira vez, ganharam um jogo da gente, inclusive — recorda Giovannoni, ressaltando a dureza de encarar o time no Vascão:
— Era uma quadra sempre difícil de jogar, porque a torcida se sentia parte do projeto. Era sempre muito legal jogar em Caxias porque era ginásio sempre lotado e se via que a cidade comprou a ideia mesmo.
A equipe caxiense acabou derrotada na série por 3 a 1 para o Brasília. Porém, no primeiro jogo e com o Vascão completamente lotado, derrotou a equipe da capital federal por 101 a 78, no único placar centenário daquele confronto.
Natural de Piracicaba, no interior paulista, o ex-jogador sabe da importância do fomento do esporte de alto rendimento em cidades fora dos grande centros para que a cultura esportiva seja inserida na comunidade:
— Os times profissionais são os que estimulam, principalmente nas cidades que não são capitais dos Estados. Precisamos sempre estar fomentando isso e o Rio Grande do Sul sempre foi um celeiro de jogadores importantes para o país. Tem que ser sempre estimulado o esporte longe dos grandes centros, que é onde a gente consegue encontrar ótimos talentos.
Depois de sair do Brasília, o comentarista ainda encarou o Caxias Basquete pelo Vasco, na temporada 2017-2018. Para ele, as empresas da região precisam ter o entendimento de que apoiar um projeto como o de Caxias vai além da questão comercial com um clube.
— Os empresários têm que ver como um projeto de longo prazo. Não dá só para entrar um ano e não ser simplesmente um patrocinador que coloca dinheiro e a marca na camisa. Acho que dá para ativarem marca e fazer parte de um projeto muito maior do que uma relação comercial que pode ter um time com uma empresa. O desenvolvimento social da cidade passa por esse tipo de projeto. São muitos pontos que podem ser explorados para possíveis patrocinadores — concluiu Giovannoni.
Parte da história
Em 2015, o Caxias Basquete conseguiu concretizar o sonho de chegar ao NBB. Na conquista da Liga Ouro daquele ano, a competição de acesso à elite, o armador Cauê Verzola comandou a equipe dentro da quadra para o título. Depois, no NBB 10, voltou ao time para ser peça decisiva na melhor campanha do time na principal competição do país, quando parou nas quartas de final.
Pela história construída com a camisa do Caxias Basquete, a notícia da possibilidade da volta do time à elite nacional mexeu com o armador:
— Não é novidade para ninguém que tenho um carinho enorme pela cidade e pelo Caxias Basquete. Fico muito contente e torço pela volta também pelo carinho que tenho pelo Rodrigo (Barbosa, técnico da equipe) e pelo basquete em geral. Quanto mais times estruturados, com trabalho sério estiverem disputando os campeonatos, é melhor para o esporte e para nós, atletas. Espero que essa volta se concretize e Caxias possa voltar a figurar entre os grandes do NBB.
Maestro dentro de quadra, Verzola talvez tenha sido o jogador com a ligação mais forte com o torcedor do Caxias Basquete. Até por isso, os momentos vividos no Vascão são especiais para o atleta, que na última temporada defendeu o Basquete Cearense.
—Tudo que eu vi no Vascão, foi uma coisa que eu nunca tinha vivido. Parecia que um completava o outro. O time sabia quando a torcida precisava que a gente levasse uma energia para eles, de dentro para fora, e eles também sabiam quando a equipe precisava disso deles. Nesse último ano, principalmente, foram nosso sexto jogador — afirma o armador, recordando momentos marcantes para quem chegou no início do projeto, ainda atuando no Clube Juvenil, até a histórica campanha:
— Eu vivenciei essa transformação. No meu último jogo, os ingressos foram vendidos em 40 minutos. É muito bacana ver que o pessoal continua envolvido, a comunidade continua empolgada e abraçando o Caxias do Sul Basquete.
Nome na história da equipe, Cauê acredita que a maior propaganda que o Caxias Basquete pode dar aos possíveis apoiadores do projeto está na representatividade do time na cidade enquanto disputou a elite.
— Não tem mensagem melhor do que mostrar o impacto que teve o time nessa última temporada de atividade. Não só pelo resultado de quadra, mas fora também. Foram coisas que eu nunca tinha visto antes. O envolvimento da comunidade, as escolinhas de basquete cada dia com mais crianças jogando. Isso mostra todo o crescimento e a importância do basquete para toda cidade — finalizou o armador.
O homem que voou em Caxias
Se Cauê Verzola foi o grande nome do Caxias Basquete na história, outro Cauê, o Borges, foi o maior fenômeno da equipe. Quando chegou à equipe do Vascão para a disputa do NBB 10, o ala/armador ainda buscava uma afirmação no cenário nacional. Veio como o "outro" Cauê, à sombra do xará mais velho, mas saiu da Serra Gaúcha como o craque de um time que fez história.
— Caxias foi uma reviravolta para mim no esporte. Na categoria de base eu sempre me destacava e quando subi para o adulto não consegui achar muito meu espaço. Passei por alguns clubes, mas não havia me concretizado. Meu ano no Caxias foi muito bom, não só para mim, mas para toda equipe. Foi onde consegui meu basquete de volta, jogar o que sempre tinha jogado — lembra Borges.
Após sair do Caxias Basquete, Borges foi para o Botafogo-RJ, onde conquistou a Liga Sul-Americana em 2019. Mesmo que um retorno ao time gaúcho não seja possível na próxima temporada, o jogador não esconde a felicidade da possibilidade da volta da equipe que representou tanto em sua carreira:
— Fiquei muito contente com essa notícia do Caxias poder disputar o próximo NBB. É um time que começou lá embaixo e veio subindo pouco a pouco e conquistando seu espaço. Merece jogar um campeonato de alto rendimento. Foi um esporte que a cidade abraçou, apoiou e que não devia ter acabado.
Dos principais recordes pessoais de Cauê Borges no NBB, a maioria foi conquistada no Vascão. No ginásio do bairro Pio X, a camisa 4 do Caxias Basquete brilhou sendo vestida pelo ala/armador. Contra o Joinville, em 28 de dezembro de 2017, marcou 30 pontos, em uma partida onde acertou cinco cestas de três pontos, na vitória gaúcha por 72 a 63. Naquela mesma temporada, Borges foi o primeiro jogador da equipe caxiense a disputar o Jogo das Estrelas da NBB.
Por essa ligação, o atleta não se omite em pedir pelo apoio do empresariado local para que o sonho seja concretizado.
— É um clube muito bem estruturado, muito certo. A diretoria fazendo um ótimo trabalho. Uma equipe que conquistou a cidade e não merecia ter parado na temporada passada. Só pedir para que esses empresários consigam apoiar o Caxias Basquete — concluiu Borges.