Sábado (22), 18h30min e o cronômetro já mostrava que o tempo de acréscimo assinalado por Leandro Pedro Vuaden estava perto do fim. O Grêmio tinha um escanteio no lado direito e era a última chance dos Tricolores impedirem uma festa do Caxias dentro do Estádio Centenário.
Quando Alisson partiu para a bola, a arquibancada grená silenciou por cinco segundos. Marcela Sala, no primeiro degrau da social, levou as mãos ao rosto como se pedisse ajuda aos céus para que a bola fosse afastada. As lágrimas já tomavam conta dos olhos de Guilherme Mariani. Arthur Canez estava pronto para subir o alambrado pela última vez naquela tarde e comemorar um título que não se tinha há oito anos.
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O atacante colocou a bola perto da marca do pênalti. Lá no meio da confusão, Thiago Sales subiu mais alto que todo mundo e jogou para longe. Instantaneamente, Vuaden elevou as duas mãos, soou o apito pela última vez e a explosão grená foi enorme. O gol marcado por Diogo Oliveira, aos 34 minutos da segunda etapa, garantiu o título da taça Coronel Ewaldo Poeta, o primeiro turno do Gauchão. Lágrimas de alegria, guardadas por anos, escorreram nos rostos grenás que abraçavam o primeiro torcedor que viam ao lado.
— É um momento histórico, único. A gente inicia o Gauchão pensando em não cair. Agora, finalizamos o turno campeão e na finalíssima. Eu não sei explicar — disse Canez, após descer do alambrado com as mãos cortadas pela grade.
Ainda chorando, Marcela buscava palavras para explicar o momento:
— Eu só agradeço aos torcedores que nunca desistiram desse time. Muita emoção, parabéns aos nossos jogadores que jogaram demais.
O Caxias voltou a conquistar uma taça de turno do Gauchão. Não pode ser mais rebaixado, está na Copa do Brasil de 2021, tem vaga na Série D e ainda pode ser campeão Estadual.
Alívio e lágrimas na comemoração do título
Para os torcedores do Grêmio, a tarde de sábado era para conquistar mais um título para sua galeria. Eles ocuparam seus seis mil lugares para ver Everton Cebolinha e companhia, certos da vitória. No lado grená, a esperança estava guardada lá no fundo. Da boca para fora, todos que chegavam ao estacionamento da casa grená diziam que estar na final tinha sabor de dever cumprido, o que viesse seria lucro. Só que conforme a partida ia se aproximando, o nervosismo e a vontade de acabar com o estigma do “quase” eram maiores.
A bola rolou e aí nenhum grená queria perder. Os gritos da área da social, próxima ao banco de reservas do Grêmio, ditavam a importância daquele momento. Aos cinco minutos, quando Ivan arriscou um gol olímpico, os olhares mudaram bastante. Estavam deixando sonhar.
Só que ninguém duvidava da capacidade tricolor. Tanto que o silêncio foi gigante quando Diego Souza saiu sozinho contra Pitol, aos 15 minutos. Vestindo a camisa que ganhou do goleiro após a vitória da semifinal, Marcela Sala comemorou como se fosse um gol a defesa do seu camisa 1.
— Esse momento foi muito importante. O Pitol é um representante nosso dentro de campo — disse a torcedora.
Há 12 anos como sócia e acompanhando o Caxias por todos os lados, Marcela arrasta junto a filha Martina e o marido Paulo. É dessas torcedoras fanáticas. A cada escanteio, olhava para Arthur Canez, amigo de Centenário, e dizia:
— Pode subir (no alambrado), que agora vai sair o gol.
Num jogo equilibrado, cada ataque do Grêmio gerava minutos de tensão. Aos 41, quando Lucas Silva sofreu falta na intermediária direita, Marcela não aguentou e saiu na direção oposta ao ataque, como quem quisesse ajudar a tirar aquela bola aérea de perto do seu gol. Deu certo e o primeiro tempo terminou igual: 0 a 0.
— Esse amor é muito forte, nos faz acreditar que dá — profetizou Marcela, no intervalo.
A REDENÇÃO
A cada minuto do segundo tempo, a torcida do Caxias começou a acreditar mais. O Tricolor inoperante no ataque permitia essa crença. O título começou a virar realidade quando o Caxias se soltou ao ataque e assustou, com finalizações de Tilica e Gilmar.
Aos 33, Marcela olhava para os lados, como quem buscasse explicação para o milagre operado pelo goleiro Vanderlei, após conclusão de Bruninho – que havia entrado há pouco e incendiado o jogo. Era o prenúncio.
No escanteio cedido no lance anterior, Ivan colocou na área e a defesa do Tricolor não afastou. A bola ficou viva na área e os gritos de “vai”, “agora”, “vamos” aumentaram. Foi nesse momento que Diogo Oliveira dominou no peito e bateu de esquerda. A bola morreu no fundo do gol. Explosão grená. Abraços e choro se espalharam. As lágrimas, enfim, eram de felicidade.
A partir dali, cada minuto foi uma eternidade. Todos querendo saber o quanto faltava para o título virar, de fato, realidade. Longos 16 minutos até o apito final. Para quem começou a temporada assustado com um possível fechamento, o dia 22 de fevereiro de 2020 poderá ser uma marca de renascimento.
— Esse choro é guardado há anos e vem coroar um Gauchão feito quase com perfeição. Tem que dar o braço a torcer, o Lacerda é um baita treinador e que faz um grande trabalho. Mas isso aqui é o impulso real para o nosso grande objetivo do ano, que é subir (para a Série C). Esse ano ninguém nos tira o acesso. Hoje foi só o começo — enfatizou o torcedor Guilherme Mariani.
Pode ser um início promissor. O Caxias mostrou seu cartão de visitas para a temporada e faz seu torcedor acreditar. Tudo só com uma taça, que pode até não parecer, mas significa muito para todos no Centenário.