— Corro para provar que não existe limite para a raça humana.
Essa frase foi dita pelo queniano Eliud Kipchoge, logo após se tornar o primeiro ser humano a completar uma maratona abaixo das duas horas. Ela embala muitos corredores ao redor do mundo. E é exatamente isso que o projeto Pernas Solidárias faz em Caxias do Sul. Quebra qualquer limitação e dá à crianças e adolescentes portadoras de deficiência (PCDs) a possibilidade de disputar uma corrida de rua.
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Em um ano e meio, vários voluntários emprestaram suas pernas para empurrar triciclos em provas realizadas na cidade, e levar o esporte para 15 menores cadastrados – número que pode aumentar conforme disponibilidade de carrinhos e voluntários.
— (Conseguimos) Fazer a inclusão deles e levar para a corrida, onde tem diversas pessoas na agitação, euforia e liberando adrenalina. A gente vê que eles (crianças) se sentem tocados. Muitas vezes, as rotinas são desgastantes, toda hora é fisioterapia, tratamento, dor e algumas dificuldades diárias para os familiares e os PCD’s. Nesse momento da corrida, a gente tira eles desse foco e auxilia na melhoria de vida, sem ser maçante. Sentindo o vento na cara e proporcionando uma euforia — ressalta Jhone Albano, o idealizador do Pernas Solidárias em Caxias do Sul.
O projeto tem base em Joinville e veio parar na cidade da Serra após uma busca de Albano em ações que envolvessem a corrida e a solidariedade. Mas é quando a adolescente Mariana Faggion, 16 anos, conta suas experiências que se pode mensurar a importância e o tamanho da ação.
— Eu não imaginava correr. Eu pensava: “como vai ser correr com andador? Não vou conseguir”. Mas, algum jeito vai ter. Quando comecei a participar (do projeto), eu adorei.
Mari nasceu prematura e ainda sofreu uma lesão cerebral durante a gestação, o que comprometeu a função motora. A estudante passa os dias entre as fisioterapias e a sua casa, onde estuda, assiste séries e outros vídeos. Só que é nos domingos de treinos e provas que ela se realiza.
— Nós temos que mostrar para pessoas que não conhecem, que a gente também pode fazer. Eu gosto muito. É uma maneira de ter uma atividade e sair um pouco de casa, por mais que seja no domingo — ressalta a adolescente.
Esse período vem sendo impactante para a vida de Mariana, afinal ela diminuiu um pouco das frustrações que tem no seu dia a dia, e deixa tudo na corrida. Esse espírito é o mesmo que tira inúmeras pessoas de casa e as coloca nas ruas, correndo. O esporte faz todos os atletas buscarem algo a mais, e não seria diferente para a adolescente.
— Tenho o sonho de conseguir outras medalhas, e quero conseguir atravessar a linha de chegada sozinha. Posso até correr de cadeira, mas quero finalizar sozinha — conta Mariana.
Determinação não falta. Em pouco tempo de conversa ela já prova isso. E, como bem citado no início deste texto, não há limites para a raça humana. Basta pensar e acreditar.
— Minha professora usou uma frase assim: “se você planta a sementinha do bem, você vai colher o bem. Se você planta a do mal, vai colher o mal”. Isso acontece com as frustrações da vida. Tenho essa coisa da frustração muito grande, trabalho muito isso em mim, tanto que antes de sair de casa eu falo comigo: “eu posso, eu quero, eu consigo” — afirma Mariana.