Sozinho não se conquista nada e nem se evolui. Ferreira tem a companhia de várias pessoas para fazer o Projeto Brilhar acontecer. O engenheiro mecânico Fernando Lemos é um dos voluntários que ajuda a administrar os treinos e a criançada no bairro São Luiz, na 6ª Légua. Morador da comunidade, ele está lá nos domingos de manhã acompanhando o filho Lucas, de nove, e absorvendo conhecimentos.
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— A gurizada de hoje é um pouco teimosa, tem que ter bastante paciência com eles, mas eu aprendo muito. Uma coisa que gosto de fazer e me identifico é estar trabalhando em projetos assim — ressalta Fernando.
Essa oportunidade só surgiu na junção da intenção de Ferreira levar o projeto para o interior e do presidente do São Luiz, Sérgio Reinheimer, em criar uma escolinha para dar uma atividade às crianças da localidade. Hoje, com o trabalho em andamento, é possível ver que o resultado é extremamente positivo.
— As crianças adoram vir aqui, se sentem bem e estão aprendendo um pouco de futebol, de disciplina e de educação. Eu não tive essa oportunidade, então estou fazendo com muito carinho — ressalta Sérgio, que complementa sobre o grande objetivo das atividades:
— Queremos primeiro um cidadão. Se surgir algum atleta, beleza. Se não surgir, nosso trabalho já foi realizado com sucesso.
O espaço está aberto para todos, basta uma inscrição feita na hora e a mensalidade vai de R$ 10 a R$ 30 por mês, conforme a possibilidade de cada família. Quem não tem condições, não precisa pagar. Assim, com ajuda da comunidade, o projeto consegue brilhar em diversas frentes em Caxias do Sul.
Estrela emblemática
O Projeto Brilhar começou a se desenhar no ano de 2010, num momento triste para Ferreira: a morte da sua esposa. A partir dali, ele reuniu forças para dar vida a uma atividade grandiosa.
— Em 2010, a minha esposa, antes de falecer, pediu três coisas: cuidar dos meus filhos, arrumar uma mulher inteligente e que gostasse deles, e para que em todas as vezes que olhasse para o céu, ver uma estrela. Seria ela me iluminando. Através do meu filho, criamos o Projeto Brilhar com essa estrela — conta Ferreira, hoje com 59 anos.
Experiência na área não falta. O ex-centroavante, natural de Maceió, entregou ao futebol profissional mais de 20 anos da sua vida. Passou por clubes como Santos, Ferroviária, CRB, Santo André, Honda-JAP e Anderlecht-BEL. Jogou no Juventude em duas oportunidades e, ao se aposentar, em 1992 começou um projeto com os filhos dos funcionários da Marcopolo.
A partir daí, sempre esteve envolvido com ações voltadas para as crianças. E também estabeleceu uma parceira com seu ex-clube, levando muitos pequenos atletas anualmente para vestirem a camisa alviverde.
— O Jonas (da Rosa, coordenador das categorias de base do Juventude) sempre quer marcar jogo com o projeto, porque vai levar alguém. Esse ano não levou ninguém ainda, porque estou segurando para fazer um trabalho em que (as crianças) possam crescer mais — brinca o ex-camisa 9.
Mas, no fim, o grande objetivo é promover uma ação construtiva para os menores. Antes de atletas, uma atividade lúdica que usa no esporte uma formação superior, de pessoas prontas para a vida. Ali, dentro das quatro linhas, está a grande vida de Ferreira:
— Sem isso aqui não sei o que faria. Eu iria embora para Maceió, mas está muito cedo. Com essas crianças posso fazer muitas coisas boas, educar para a vida, educar para o esporte, juntar famílias.