Gustavo Schneider tem no exemplo a maior referência para passar adiante os seus ensinamentos. Natural de Gramado, o professor de taekwondo encontrou no projeto Guerreiros da Pena e da Paz a sua forma de retribuir à comunidade do bairro Três Pinheiros o que recebeu de incentivo na infância. Foi o esporte quem sempre se apresentou como uma chance de romper barreiras.
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— Quando comecei a lutar taekwondo, aos 12 anos, sempre foi muito difícil. Tinha que ir a pé para a academia, não tinha condições. Sei o quanto batalhei para chegar na faixa preta. Vi que era uma arte marcial fascinante. Eu era muito brigão e reinento — lembra Schneider, contando como surgiu a ideia do projeto social:
— Queria ter a oportunidade de transformar crianças. No bairro onde moro, muitas perguntavam se eu lutava taekwondo, e como fazia para entrar em uma academia. Muitas delas não tinham acesso por conta de vulnerabilidade social ou por questões financeiras. Então me veio a ideia de começar com um projeto social nos fins de semana que tinha de folga.
Assim, há mais de 10 anos, Gustavo encontrou na Escola Municipal Pedro Zucolotto o local certo para fazer do seu sonho uma realidade em seu bairro.
— Eu via muitos potenciais. A criançada correndo na areia, dando salto mortal e plantando bananeira. Coisas que são difíceis de fazer na academia e eles faziam. Poderíamos buscar e resgatar crianças aqui no bairro, pertinho da gente, e oportunizar que eles conhecessem o taekwondo — afirma Guga, como é conhecido na escola.
O projeto cresceu e durante um longo período foi desenvolvido em 12 escolas de Gramado. Porém, após mudanças na gestão política, o professor precisou parar com as aulas.
Só que o desejo de Schneider em levar a filosofia do taekwondo adiante era mais forte. E, no começo deste ano, ele buscou novamente a direção da Pedro Zucolotto e retomou o projeto — que atende também na Pastoral do Menor Adolescente (Pama).
Atividade em família
Foi na retomada que surgiu o projeto Guerreiros da Pena e da Paz, fazendo referência ao que Schneider entende como ponto principal da ação:
— A pena é da caneta, do conhecimento, do estudo. E a paz é o que mais pregamos aqui.
Para a escola e as crianças envolvidas, as aulas de taekwondo vieram ocupar um espaço que o bairro Três Pinheiros não proporcionava aos jovens.
— O Guga é um parceiro da escola e pai de aluno. Nós sempre buscávamos alguém que fizesse um trabalho voluntário para que as crianças tivessem esse algo a mais para sair da rua. Aqui, na comunidade, nós não temos atividades. Nós abraçamos o projeto e hoje se vê que deu certo — afirma Marta Ferraz, diretora da escola Pedro Zucolotto.
O Guerreiros da Pena e da Paz proporcionam para Gustavo a possibilidade de levar adiante o esporte que escolheu para a vida e também a chance de mostrar que o exemplo do taekwondo chega em casa. Os seus filhos Renato, 13 anos, e Ana Clara, 11, são alunos da Pedro Zucolloto e participam junto com o pai do projeto.
Para os jovens, é a chance de ampliar ainda mais a vivência com a arte marcial no ambiente escolar.
— Comecei com uns três ou quatro anos a treinar. Meu pai foi nos mostrando e ensinando. Meu irmão e eu fomos pegando as técnicas e entramos no caminho do taekwondo — afirma Ana Clara, que atualmente é faixa dourada.
Além de ampliar seus conhecimentos na arte, é uma oportunidade dos filhos do professor tornarem-se ainda mais parte do seu dia a dia.
— Taekwondo era uma arte marcial pouco famosa e agora é até um esporte olímpico. Ver meus colegas treinando é muito gratificante– diz Renato, que está na faixa roxa.