Você lembra de Tostão? Um dos maiores ídolos da história do Cruzeiro, campeão do mundo em 1970 pela Seleção Brasileira, se aposentou e cursou Medicina na Universidade Federal de Minas Gerais.
Você lembra de Sócrates? Foi aluno da faculdade de Medicina da USP em Ribeirão Preto, enquanto jogava no Botafogo-SP e só se transferiu para o Corinthians quando conseguiu o diploma de médico.
Esses são dois exemplos de craques que vivenciaram duas profissões completamente distintas. Numa realidade mais próxima, temos um novo caso. Ele não foi um craque como os citados acima, mas o torcedor da Serra Gaúcha o conhece bem.
Talvez pelo nome completo, Leonardo Hermes Lau, esse ex-centroavante não seja lembrado. Mas é só falar em Lê que os gols dele voltam na memória. Com 34 anos, Lê defendeu Caxias, Juventude e Veranópolis e agora trocou os gramados pelos bancos da faculdade e, em breve, para um consultório.
Além dos times da Serra, Lê atuou por Athletico-PR, Ceará, São José-PoA, Chapecoense, Metropolitano e Luverdense, entre outros. Pendurou as chuteiras há três anos, quando defendia o VEC. Após três cirurgias no mesmo joelho, o esquerdo, veio a difícil decisão de parar de jogar futebol.
– Sabia que ia parar por causa da minha lesão. Conforme fui realizando fisioterapia, percebi que não daria para continuar muito tempo. Eu já fui pensando em algo que pudesse fazer. Conversei com meus familiares. Fiquei 13 anos sem estudar e voltar seria bem complicado – lembra o ex-jogador, que depois de parar tinha uma certeza: não queria continuar no futebol, devido ao desgaste e o cansaço mental.
No último ano como atleta, Lê passava mais no departamento médico do que em campo. Numa semana de jogo, treinava somente na véspera por conta das dores. Nos períodos em que estava em casa se recuperando, aproveitava para se preparar para o vestibular, que estava próximo.
Mesmo com o curto período nesta transição, Lê conseguiu garantir uma vaga sempre concorrida.
– Neste tempo fazendo fisioterapia e em casa, eu estudava, porque sabia que assim que parasse iria estudar mais afundo ainda para poder fazer o vestibular. Eu não imaginava passar tão rápido. Terminou o Gauchão em abril (2016) e passei em junho. Não foi fácil, mas foi rápido. Minha ideia era passar em dois anos – afirma o ex-jogador, que deve seguir na área de ortopedia.
A FACULDADE
Para ingressar na universidade, Lê se preparou. Além de estudar por conta própria, esteve por um período num curso pré-vestibular, para relembrar, principalmente, as matérias consideradas mais difíceis, como física, química, matemática e redação.
Lê começou o curso de Medicina na Universidade de Caxias do Sul (UCS) em 2016, mesmo ano da aposentadoria dos gramados. Ele deve se formar em 2022. Depois, terá mais um período de residência, estágio prático para a especialização médica.
O ex-atleta agora vive uma realidade bem diferente. Desde a rotina até a cobrança.
– Todo mundo fala que passar no vestibular é o mais difícil, mas comparado com o futebol, se tornar jogador é muito mais complicado e a competição é bem maior. Com 18 anos, já precisa estar jogando no profissional e com muita responsabilidade. Na medicina, você passa com 18 anos e tem mais seis para se preparar e amadurecer – afirma o futuro médico.
Lê sempre foi um bom aluno. Antes dos 15 anos de carreira profissional nos gramados, estudou em boas escolas. Agora, tem um novo desafio.
– Sempre gostei de estudar na época da escola, mas a vida, às vezes, te leva para outros caminhos. Eu estudava em Santa Cruz do Sul. Quando vim para Caxias do Sul, passei no teste na equipe grená. Em seis meses no clube, estava com contrato profissional. As coisas aconteceram muito rápido – relembra Lê.
Iniciando uma nova trajetória, Lê quer aproveitar as oportunidades de uma nova jornada. Longe do futebol, ele agora só se aventura pelas quadras de pádel, mas como diversão. Para quem sempre esteve em busca de títulos, a próxima grande conquista será um diploma.