José Caetano Setti ingressou nos bastidores do Caxias em 1989 no departamento de categorias de base. Ele chegou ao clube através do convite dos dirigentes Jairo Antunes, Júlio D'Agostini e Vanderlei Bersaghi, o falecido Pé.
Neste período, participou das conquistas do título estadual juvenil, em 1991, e do bicampeonato de juniores, em 1993 e 1995. Além disso, esteve em Zurique, na Suíça, com o Caxias enfrentando Barcelona, Real Madrid, Napoli, Manchester United, entre outros clubes.
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No ano do segundo título dos juniores, ingressou no profissional. Da sua chegada até agora, são 30 anos entre idas e vindas dedicados ao clube. No profissional, algumas conquistas ficaram marcadas - recentemente, o título da Divisão de Acesso, em 2016, e o bicampeonato do Interior, em 2017 e 2019.
Após a eliminação na Série D do Campeonato Brasileiro, o dirigente pediu para deixar o comando do futebol grená. Setti não concorda com a participação do Caxias na Copa Seu Verardi, mas o principal motivo para não continuar é o desgaste. Nesta passagem, ele está desde 2016. São quatro anos dedicados ao clube. É um período de descanso ou seria o fim de uma era?
Confira a entrevista com José Caetano Setti:
1 - O que o motivou não continuar no Caxias?
— Todo mundo fala que é porque eu não concordava em participar da Copinha. Isso não escondi de ninguém. Todos sabiam minha opinião. A minha intenção, algo que não poderia falar naquele momento, era um descanso mesmo. Tinha um sonho de deixar o clube classificado, mas não consegui. Porém, tenho a consciência muito tranquila. Não consegui, me doeu, mas ao menos, deixei o Caxias muito melhor do que quando fui convidado para participar. A copinha para mim não representa nada. O Caxias tem todas as vagas.
O clube já tinha o déficit de caixa e vai motivar mais. De repente, será pego dinheiro do ano que vem para tapar esse furo que tem todo o mês. As contas vinham sendo mantidas em dia com muito sacrifício de todo o grupo gestor. Esse grupo trabalhou e se desgastou muito, colocava dinheiro pra fechar o caixa. Penso que essas pessoas precisam descansar. Apanhamos muito com essa não subida para a Série C. Na minha opinião, não perdemos a vaga, nos tiraram. Quem estava lá sabe disso. Tem gente que não quer admitir, mas é a grande verdade. Doeu mais ainda para mim. Então, depois o dinheiro e o furo que vai ter. Por esses motivos, que eu achava que não poderia ter a Copinha.
2 - Portanto, são dois motivos? A discordância da participação na Copinha e o desgaste?
— Eu nunca participei de nenhuma reunião que falasse da Copinha. Teve, mas nunca participei. Nenhuma. Se eu tivesse participado e fosse voto vencido, tudo bem. Se eles quiseram participar, beleza, é direito. Inclusive, o presidente (Vitacir Pellin) me chamou e disse que o projeto seria tocado pelo Beto Delazzeri e o Lairton Zandonai. Mas por motivos particulares, o Beto não pode seguir. Semana passada, eles me chamaram e fomos lá. Eles tinham projeto de colocar comissão técnica da base e só os guris.
A gente achou que o Caxias tinha que preservar ao mesmo o tamanho, já que tinha os atletas aí e o Lacerda. O presidente concordou e se fez isso. Ele me pediu para fazer as rescisões. Fiz. Está tudo certinho. Então, a gente fez a nossa parte. Minha opinião é essa e sempre falei o que penso.
3 - A eliminação na Série D desgastou muito a atual gestão?
— Acho que sim. Vou repetir: Nós não atingimos o objetivo, nos tiraram objetivo. Não vou compactuar com isso. Às vezes, o torcedor e a própria imprensa não comentam isso. Foi tirado de nós. Claro que desgasta. Tu te sacrifica, trabalha, se doa, aí tu não consegues, fica um ambiente pesado, tenso, triste. Então, era mais um motivo para dar um tempo para o pessoal respirar e digerir. O Lairton e o Lacerda farão um bom trabalho. Confio muito e acredito nisso.
4 - A saída neste momento é um até breve e um descanso ou é definitiva?
— Primeiro, tenho que agradecer todas as manifestações que recebi. Eu nunca fui no Caxias para me oferecer para nada. Sacrifiquei algumas coisas para ir lá ajudar essas pessoas que se dedicam tanto quanto eu.
No ano passado, eu já havia saído, porque estava cansado e precisava tocar a minha vida e não foi fácil. Então, vieram me convenceram e aí eu voltei. Espero que agora apareça alguém que assuma isso, que tenha essa disposição, tempo, trabalho e dedicação. Não é fácil. Fiquei quatro anos, 24 horas. Não vou meia-boca, vou inteiro. Me afastei muito da minha família, da minha firma. Esse ano trabalhei demais e cheguei a perder três quilos na reta final, porque era muita preocupação e quase não dormia. Vai desgastando fisicamente também. Esse grupo gestor também está cansado e desgastado. Eles também trabalharam muito. Eu disse que iria até o fim com o presidente. Ele me liberou, agora quero curtir e descansar um pouco.
5 - A ideia era subir o Caxias e deixar o clube realmente?
— Era a minha ideia. Porém, era uma ideia que deveria ficar presa a "sete chaves", porque poderia desmobilizar. A única pessoa que sabia disso era o Valdecir Bersaghi, meu parceiro. Tínhamos que ir com tudo e depois descansar. Tínhamos que trabalhar muito e isso foi feito. Chegamos lá, mas não nos deram a chance de classificar, nos tiraram a vaga.
6 - Você sai de forma definitiva ou ajuda no planejamento para 2020?
— O presidente me liberou e disse que quem iria fazer a Copinha era o Lairton. Pedi o que ele precisava de mim para terminar meu período, que eu estava cansado e precisava me afastar. Ele pediu para eu fazer as rescisões e fazer o processo todo do futebol. Depois ainda ajudei a fazer essa montagem para Copinha. Agora, estou liberado. Não sou mais o vice de futebol do Caxias.
7 - O que projeta para o futuro? Para a vida particular e para o futebol?
— Eu quero ir no futebol com meus filhos. Faz muito tempo que não vou com eles. Quero ver o Caxias na arquibancada com meu filho, minha filha e minha mulher. Comer um cachorro quente e ir pra casa quando deu certo, meio chateado, mas sem aquele compromisso e responsabilidade que me cobro muito. O Caxias sempre vai ser uma parte minha. Quero conviver mais com a minha família, cuidar do meu negócio. Teve festa de aniversário do meu filho que eu não estava, festa de casamento, da família que eu não estava. Quero ter essa participação que faz falta. Sou um cara família. Sinto muito, porque era um hábito há quatro anos no Caxias. Podem cobrar resultado, mas dedicação ninguém pode me cobrar. Além de trabalhar no futebol, ajudava esse grupo gestor na arrecadação.
8 - Se o próximo presidente lhe convidar para voltar, você aceitaria?
— Espero que, agora, tenha gente e que o próximo presidente não me faça o convite. Está sujeito a 90% de eu não aceitar. Por que eu deixo 10%? Se ninguém quiser e disserem que o Caxias vai fechar, aí acho que a minha paixão pelo clube falará mais alto, mas não deveria. São 30 anos dedicados ao Caxias entre idas e vindas, de corpo e alma. Tenho que abrir espaço para a renovação. Sempre falei isso, internamente.
9 - Você acha que terá algum interessado em assumir o futebol no teu lugar?
— Espero que sim. A gente viu muitas manifestações e críticas. Então vamos lá, abraça a bronca e ajuda. Espero que tenha uma renovação. Esse grupo de gestão é um grupo jovem, pessoas que apareceram no Caxias agora. Eram torcedores, mas nunca tinham trabalhado. É um grupo competente.
10 - Qual recado final você deixa, Setti?
— Eu agradeço pela entrevista para que as pessoas entendam um pouco dos meus motivos. Acho que fui bem claro nas minhas respostas. Ser dirigente é muito complicado, tu apanha fora e dentro. Os dirigentes e esse grupo gestor pagam e pagavam para trabalhar. Um abraço a todos e o que precisar estou à disposição.
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