Em um momento que pode ser decisivo para o futuro do Caxias, é importante valorizar a história. Não apenas do clube em si, mas de quem ajudou a construir, fora de campo, a força da torcida grená.
Aos 103, a caxiense Ida Polli Guerra é a sócia mais antiga do Caxias e acompanhou todos os momentos dos 84 anos da entidade, desde a fundação, quando o time ainda se chamava Flamengo, até os capítulos mais recentes. No domingo, ela estará, como todos os grenás, acompanhando o primeiro capítulo na tentativa de retorno à Série C do Campeonato Brasileiro, passo fundamental na reestruturação do clube. O adversário será o Manaus, às 16h, no Estádio Centenário.
Nestas mais de oito décadas, a relação entre Dona Ida e o Caxias se estabeleceu de diversas formas. Basta entrar na casa dela, no centro de Caxias do Sul, para comprovar que ela é uma torcedora de fé. Na sala, muitos objetos, como a primeira carteirinha de sócia e uma bandeira do time, se misturam com lembranças da família e contam um pouco da história grená.
A paixão de dona Ida pela entidade se confunde com os primeiros passos do clube. Já nas primeiras ações do Flamengo, estava presente como sócia e uma das integrantes mais ativas da ala feminina. Estava sempre no estádio acompanhando as partidas e o futebol tornou-se uma das maiores alegrias de sua rotina. Dia de jogo era um evento aguardado com ansiedade.
— Ia muito ao estádio, torcia bastante, ria muito e sofria. Era muito bom estar lá, foi uma época muito boa — conta a torcedora grená, que se orgulha de ter presenciado todos os principais capítulos da história do time:
— Ajudava muito quando eles precisavam de alguma coisa. Cheguei a vender chá para contribuir nos custos com remédios para os jogadores. Até porque, naquela época, era tudo diferente.
A transição do Flamengo para o Caxias não alterou em nada o fanatismo da dona Ida. Na década de 1970, além da contribuição mensal, continuava apoiando outras ações feitas pelo clube.
— Precisavam fazer uma bandeira para o clube e eu fui uma das que ajudou. Ganhei até um cartão com o agradecimento por ter contribuído — relembra com orgulho.
Hoje em dia, com um pouco mais de dificuldade de locomoção, Dona Ida não frequenta mais os jogos no Centenário. Porém, afirma que não perde nenhuma informação do clube, seja pelo Jornal Pioneiro ou pela rádio:
— Eu tenho que cuidar do meu coração, né?
Momento decisivo
No próximo domingo, a Dona Ida não estará no Centenário. No entanto, com o rádio ligado, vai acompanhar todos os detalhes da decisão entre Caxias e Manaus. Ela não esconde o nervosíssimo com a partida e sabe exatamente o quanto ela significa para o futuro do clube. Além disso, afirma que a promoção não pode escapar nesta temporada.
— Eles (jogadores) tem que jogar com vontade para não deixar escapar novamente este acesso. Temos um time com talento, bom treinador, uma diretoria séria e, principalmente, nós da torcida que sempre apoiamos e merecemos esta vitória. Chega de sofrimento. Queremos alegria porque o nosso sentimento pelo Caxias é muito grande — comenta a sócia mais antiga do Caxias.
A representatividade de Ida Guerra para a instituição valeu uma homenagem do clube. No dia 16 de maio, durante a Confraria Grená, Ida foi até o Estádio Centenário e recebeu uma placa do vice-presidente Roberto Delazzeri.
— Fiquei muito feliz mesmo por eles terem me proporcionado esta homenagem. O Caxias é o time do meu coração — disse Dona ida, emocionada.
"Cada um torce para o time que quer"
Fortalecer a paixão pelo Caxias é também entender e valorizar a rivalidade com o Juventude. Perguntada se o predomínio hoje é de grenás ou papos na sua família, dona Ida lamenta o predomínio alviverde.
— Acho que é mais Juventude. Meu filho (Carlos) chegou até a jogar no outro time lá (Juventude). Mas, cada um torce para o time que quer — afirma.
A relação dela com o arquirrival iniciou com uma peça que a vida pregou. Em tom de brincadeira, dona Ida, viúva há 46 anos, conta que seu marido era torcedor fanático do Juventude:
— Na época, conheci um moço e acabei casando com ele. Mas, infelizmente, ele era torcedor do rival. Daí eu disse: "não vou deixar de torcer para o meu time". Tu torces para o teu, que eu torço para o meu.
Apesar de ser torcedor do Ju, Eduardo Guerra esteve presente no Estádio Centenário na maioria dos jogos para fazer companhia a Dona Ida. E, da mesma forma, ela se fazia presente no Estádio Alfredo Jaconi.